CRÔNICA

VIVENCIAMOS A CRISE DA CONDIÇÃO HUMANA?

VIVENCIAMOS A CRISE DA CONDIÇÃO HUMANA?

Por Laís Midorida Silva

Por Laís Midorida Silva

Publicada há 5 anos

“Não sei vocês, mas eu, todas as vezes que discuto sobre
a crise da política,do país, da leitura, do verso e das artes,
só consigo pensar que o problema está mesmo no ser humano”


Outro dia estava na faculdade e recebi um telefonema inesperado do Osvaldo, um querido amigo, convidando-me a publicar novamente um texto aqui no jornal. Fiquei

extremamente feliz, pois, desde que voltei para minha terra natal, tenho tido alguma dificuldade para me reintegrar ao meio social, e a escrita é sempre um excelente exercício de autoanálise. Entretanto, a alegria logo tornou-se desespero. O que escrever? Qual tema devo abordar? Inúmeras situações atribulam o meu e o vosso cotidiano de modo que se torna difícil pensar em um assunto que seja interessante para um maior número de pessoas. Assim, depois de muito pensar, decidi refletir sobre a crise da condição humana. Não sei vocês, mas eu, todas as vezes que discuto sobre a crise da política, do país, da leitura, do verso e das artes, só consigo pensar que o problema está mesmo no ser humano. 


Diante dessa constatação, convido-os a pensar nas telas surrealistas do René Magritte, um pintor belga que tem uma série de telas intituladas A condição humana. Aliás, nada melhor do que o surrealismo para explicar alguns episódios que temos vivenciado nesse nosso Brasil, não é mesmo? 


Bom, para quem não o conhece, vale muito a pena procurar, pois, nessas telas, o artista “brinca” exatamente com a nossa capacidade de discernir o plano da realidade do plano da arte. Ele cria uma tela dentro da tela a fim de ludibriar o observador, testando-o e instigando-o a enxergar além, desafiando-o a compreender o que é real o que não o é. Acho extremamente interessante essa proposição, porque é esse o papel da arte: promover a reflexão crítica e ampliar

nossos horizontes. 



Okay! Mas vocês devem estar pensando: “o que isso tem a ver com a crise da condição humana?” E eu vos explico. Na minha humilde opinião, o que dialoga muito com o cenário atual é justamente a ausência da capacidade de

refletir e ver além do “nosso umbigo”, para usar uma expressão bem clichê. A humanidade está tão acomodada com a violência, com a polarização partidária,

com o individualismo e o egocentrismo, que já não é capaz de experimentar e desfrutar da verdadeira condição humana. Estamos perdendo a nossa humanidade, visto que, a cada dia mais, abrimos mão do contato interpessoal, limitamo-nos a enxergar apenas o que é conveniente, a empatia, há muito tempo, é um vocábulo que já não faz parte do nosso cotidiano e o amor, um sentimento não nobre e belo,

foi trocado por likes e superlikes nas frias e superficiais redes sociais. É a liquidez

de Bauman literalmente tomando conta da sociedade. 


É triste, porém verdadeiro: as relações humanas saudáveis estão em extinção, assim como os bons leitores, os bons artistas, os bons versos e os bons indivíduos, pensantes e críticos. Sobram seres raivosos e que disseminam a cultura do ódio, da violência e do rancor. A obra de Magritte certamente está perdendo a sua função, já que, na atualidade, são poucos os que se permitem parar e observar uma tela, ou um acontecimento, buscando encontrar o que está além. Ninguém mais quer pensar ou refletir. Não há tempo para isso, é preciso pro-du-zir. Quando olho para essa situação, só consigo me confortar por ainda ter esperança e utopia, além de amigos como o Osvaldo e todo o pessoal maravilhoso da Confraria da Crônica, claro, que só me mostram o quanto ainda vale a pena lutar para manter viva em mim essa condição humana, apesar desse momento caótico e de crise. Como dizia o Walter Benjamin, o caos serve para nos impulsionar para o futuro, mas isso é assunto para um novo texto. Eu só quero acreditar que dias melhores virão. Ah, e só para lembrar, o aumentativo de Elena é ELENÃO. Good vibes e até a próxima!

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