EDITORIAL

O esforço

O esforço

Artigo

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Publicada há 5 anos

O doente desenvolve um carisma. Aprende a superar. Quando se está doente, algo doe no interior, tira o ânimo, provoca tristeza. Machuca o pensamento, reduz o encantamento, mas desperta para o dom da vida em plenitude. Saúde é pluma leve, que tem a vida breve.

Todo fernandopolense sabe que ficar doente é mostrar fragilidade, ter um milhão de motivos para lamentar, achar que está tudo ruim, sair do eixo. Doente, a comida perdeu o sabor, apesar de manter o tempero. A boca ferida  deixou de sentir a diferença de cada gosto. Tudo cansa, avança e desencanta.

A doença ilustra que "a vida é breve, mas cabe nela muito mais do que somos capazes de viver", segundo José Saramago. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores", acrescenta Alberto Caeiro.

O que cada um faz com sua doença é um problema que extrapola o campo pessoal.
 O fernandopolense doente exercita o zelo de mais rezar,  entender a necessidade maior do próximo, capacita a compaixão, retrata a fragilidade humana. Doença é bom para pensar na família, nos amigos leais. Nunca se pode esquecer de curtir a vida curta, sair da prisão do sofrimento negativo.

Todo hospital tem uma capela para o exercício da graça de orar pelo enfermo. Até o papa dedica mensagem para recordar o dia dos enfermos no segundo domingo de fevereiro.

 O esforço para retomar o equilíbrio diante da doença visa justamente recompor os valores pessoais. Alguma coisa não está funcionando perfeitamente. Alguma coisa interna deixou de operar em ordem.  Doença não é só remédio. Nem sempre é a única solução. A doença marca o tempo e jamais tem hora.

Até chegar outra enfermidade, vale a pena criar, idealizar, planejar. Então basta a chuva cair e a resistência cede, aparece o resfriado, nariz escorrendo, dor de garganta. A gripe gera moleza no corpo. Pode ser dengue. Pode ser zika. Em certas regiões, a febre amarela dá o tom e a cor do verão.

Quando alguém fica doente, o paciente fica impaciente e todos em casas ficam preocupados. Talvez seja contagioso. Ficar doente hoje custa caro. Especialmente mal raro. Baixa o astral e eleva a despesa.

O doente é imprudente. Nunca fica contente.  Não consegue guardar tudo na cabeça, nem mesmo no coração. Isto faz adoecer.  Não se consegue adormecer. Ansiedade é maldade. Pensar em doença é doença. Medo de doença é dolorido.

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