CONTAMINADA

Água da região está contaminada por até 27 agrotóxicos; na Europa, seria proibida para consumo humano

Água da região está contaminada por até 27 agrotóxicos; na Europa, seria proibida para consumo humano

A de Fernandópolis tem 27 agrotóxicos. Sabesp afirma que a água distribuída aos consumidores da região é de excelente qualidade, com rigoroso controle através de análises diárias de cloro e flúor

A de Fernandópolis tem 27 agrotóxicos. Sabesp afirma que a água distribuída aos consumidores da região é de excelente qualidade, com rigoroso controle através de análises diárias de cloro e flúor

Publicada há 4 anos

DA REDAÇÃO

Dados do Ministério da Saúde revelam que a água do brasileiro está contaminada com substâncias que podem causar doenças graves. A maioria dos agrotóxicos encontrados está abaixo do limite máximo estipulado pela legislação brasileira, mas acima da União Europeia. O coquetel que mistura diferentes agrotóxicos foi encontrado na água de 1 em cada 4 cidades do Brasil entre 2014 e 2017. Nesse período, as empresas de abastecimento de 1.396 municípios detectaram todos os 27 pesticidas que são obrigados por lei a testar. Desses, 16 são classificados pela Anvisa como extremamente ou altamente tóxicos e 11 estão associados ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, malformação fetal, disfunções hormonais e reprodutivas. 

Os dados são do Ministério da Saúde e foram obtidos e tratados em investigação conjunta da Repórter Brasil, Agência Pública e a organização suíça Public Eye. As informações são parte do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano-Sisagua, que reúne os resultados de testes feitos pelas empresas de abastecimento. A contaminação da água está aumentando a passos largos e constantes. Em 2014, 75% dos testes detectaram agrotóxicos. Subiu para 84% em 2015 e foi para 88% em 2016, chegando a 92% em 2017. Nesse ritmo, em alguns anos, pode ficar difícil encontrar água sem agrotóxico nas torneiras do país.

Em Fernandópolis foi detectado a presença de 27 agrotóxicos, 11 associados a doenças crônicas

 Entre os agrotóxicos encontrados em mais de 80% dos testes, há cinco classificados como “prováveis cancerígenos” pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos e seis apontados pela União Europeia como causadores de disfunções endócrinas, o que gera diversos problemas à saúde, como a puberdade precoce. Do total de 27 pesticidas na água dos brasileiros, 21 estão proibidos na União Europeia devido aos riscos que oferecem à saúde e ao meio ambiente.

PROIBIDA NA EUROPA

Leonardo Melgarejo, engenheiro de produção e membro da Campanha Nacional Contra os Agrotóxicos e Pela Vida afirmou que “se detectar diversos agrotóxicos, mas cada um abaixo do seu limite individual, a água será considerada potável no Brasil. Mas a mesma água seria proibida na França”. Ele se refere à regra da União Europeia que busca restringir a mistura de substâncias: o máximo permitido é de 0,5 microgramas em cada litro de água – somando todos os agrotóxicos encontrados. No Brasil, há apenas limites individuais. Assim, somando todos os limites permitidos para cada um dos agrotóxicos monitorados, a mistura de substâncias na nossa água pode chegar a 1.353 microgramas por litro sem soar nenhum alarme. O valor equivale a 2.706 vezes o limite europeu.

COQUETEL TÓXICO

A mistura entre os diversas químicos foi um dos pontos que mais gerou preocupação entre os especialistas ouvidos. O perigo é que a combinação de substâncias multiplique ou até mesmo gere novos efeitos. Essas reações já foram demonstradas em testes, afirma a química Cassiana Montagner. “Mesmo que um agrotóxico não tenha efeito sobre a saúde humana, ele pode ter quando mistura com outra substância”, explica Montagner, que pesquisa a contaminação da água no Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), de São Paulo. “A situação é extremamente preocupante e certamente configura riscos e impactos à saúde da população”, afirma a toxicologista e médica do trabalho Virginia Dapper. O tom foi o mesmo na reação da pesquisadora em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco, Aline Gurgel: “dados alarmantes, representam sério risco para a saúde humana”.

Os paulistas foram os que mais beberam esse coquetel nos últimos anos. O estado foi recordista em número de municípios onde todos os 27 agrotóxicos estavam na água. São mais de 500 cidades, incluindo a grande São Paulo. Confira os dados da região:

FERNANDÓPOLIS

18 agrotóxicos foram encontrados na água dos fernandopolenses em limites acima do permitido pela União Europeia

O levantamento mostrou que em Fernandópolis foram detectados 27 agrotóxicos na água que abastece o município. Desses, 11 são associados a doenças crônicas como o câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos. Dentre os agrotóxicos apurados estão o Glifosato, o Carbendazim e o Carbofurano. Embora a concentração esteja dentro do limite considerado seguro no Brasil, a água de Fernandópolis, não atende à classificação utilizada na União Europeia. Pelas regras de lá, 18 agrotóxicos detectados estariam acima do limite considerado seguro e a água seria classificada como imprópria ao consumo humano.

VOTUPORANGA

A situação em Votuporanga é um pouco melhor que a fernandopolense. Foram encontrado 27 agrotóxicos na água que abastece o município. Desse número, 11 associados as mesmas doenças crônicas, sendo que utilizando a mesma classificação europeia, 8 deles estão acima do limite seguro. Porém é considerada “potável” pelos padrões nacionais.

JALES

Em Jales a situação é pior que a de Votuporanga, mas melhor que a de Fernandópolis. Apesar de constatado o mesmo número de substâncias encontradas (27), 17 têm a mesma potencialidade de provocar doenças crônicas e estão acima dos limites da União Europeia (mas dentro do considerado seguro no Brasil).

SANTA FÉ DO SUL

Município tem a melhor qualidade de água na região e não registra nenhum agrotóxico acima dos padrões nacional e europeu

A melhor situação da região foi apurada em Santa Fé. Apesar do registro dos mesmos 27 agrotóxicos (11 associados a doenças crônicas), nenhum deles registra índice acima dos estabelecidos, tanto a nível nacional como europeu.

OUROESTE

Situação análoga a de Fernandópolis. 27 agrotóxicos encontrados; 11 relacionados a câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos. Porém aqui se registrou 11 acima do limite considerado seguro na União Europeia, mas dentro do padrão aceito pelo Brasil. Em Fernandópolis são 18.

GUARANI D´OESTE

Água com maior potencial de risco que Ouroeste. Mantém igualdade em todos os dados, porém 12 deles nos acima dos limites seguros (padrão europeu), embora dentro do padrão nacional.

INDIAPORÃ

Dados simétricos à maioria da região. 27 agrotóxicos detectados nas águas que abastecem o município, com 11 associados a doenças crônicas, sendo que 11 deles acima dos limites da União Europeia, mas dentro do “considerado seguro” no Brasil.

MACEDÔNIA

Situação idêntica a de Indiaporã, com 11 associados a doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos. Dentro do considerado “potável” no Brasil.

MERIDIANO

A terceira pior qualidade de água na região (obedecendo os mesmos critérios). Registrou 17 substâncias agrotóxicas. Aqui são 16 acima do limite, com potencialidade de causar as mesmas doenças.

MIRA ESTRELA

Situação análoga a de Ouroeste. 27 agrotóxicos encontrados; 11 relacionados a câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos. Onze acima do limite considerado seguro na União Europeia. Dentro do considerado “potável” no país.

PEDRANÓPOLIS, POPULINA, MIRA ESTRELA E ESTRELA D´OESTE

Dados idênticos. Também com os mesmos 27 contaminantes, sendo 11 acima do limite considerado seguro. Qualidade da água é considerada imprópria para o consumo humano pelos padrões europeus, mas considerada normal pela legislação nacional.

TURMALINA

Em situação pior que a média regional. Encontrados os mesmos 27 agrotóxicos, 11 deles associados às mesmas doenças, porém com 16 deles acima do limite seguro.

VALENTIM GENTIL

Situação idêntica a de Jales. Apesar de constatado o mesmo número de substâncias encontradas (27), 17 delas têm a mesma potencialidade de provocar doenças crônicas e estão acima dos limites da União Europeia (dentro do considerado seguro no Brasil) e 11 associados a doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos.

SÃO JOÃO DAS DUAS PONTES

Qualidade de abastecimento um pouco inferior ao da microrregião. Apesar de repetir o índice da maioria (27 agrotóxicos encontrados, com 11 deles associados a doenças crônicas), registrou 14 em níveis acima do considerado seguro pelo padrão europeu.  


O OUTRO LADO

 Ministério da Saúde: providencias só podem ser tomadas quando o resultado do teste ultrapassa o máximo permitido em lei

Questionado sobre quais medidas estão sendo tomadas, o Ministério da Saúde enviou respostas reforçando que “a exposição aos agrotóxicos é considerada grave problema de saúde pública” e listando efeitos nocivos que podem gerar “puberdade precoce, aleitamento alterado, diminuição da fertilidade feminina e na qualidade do sêmen; além de alergias, distúrbios gastrintestinais, respiratórios, endócrinos, neurológicos e neoplasias”. A resposta, porém, ressalta que ações de controle e prevenção só podem ser tomadas quando o resultado do teste ultrapassa o máximo permitido em lei. E aí está o problema: o Brasil não tem um limite fixado para regular a mistura de substâncias.


 Sabesp: A qualidade está dentro dos padrões exigidos pelo Ministério da Saúde para o consumo humano

Consultada preliminarmente, a Sabesp, através da unidade e Fernandópolis, esclareceu que:

1 – A qualidade da água distribuída aos consumidores de Fernandópolis e demais municípios de nossa região operados pela Sabesp, é de excelente qualidade, com rigoroso controle através de análises diárias de cloro e flúor, realizadas pelos nossos operadores nas saídas dos reservatórios de distribuição e análises 2 vezes por semana em diversos pontos da cidade, dos demais parâmetros exigidos pela Portaria do Ministério da Saúde, através de nosso Laboratório de Controle Sanitário.

2 – A qualidade está dentro dos padrões exigidos pelo Ministério da Saúde, através do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua). Todas as análises da qualidade da água de Fernandópolis e demais municípios de nossa região operados pela Sabesp, atendem os padrões exigidos pela Portaria do Ministério da Saúde.

3 - A água fornecida pela Sabesp não está contaminada. A Companhia garante a segurança do abastecimento da população, por meio de testes diários realizados em laboratórios certificados pelos órgãos competentes. Sempre que necessário, para segurança da população, os testes são refeitos. 

A legislação brasileira, do Ministério da Saúde, estabelece parâmetros seguros de substâncias encontradas na água conforme definições da Organização Mundial de Saúde (OMS). Para controlar isso, são realizados 90 tipos de testes e mais de 90 mil análises mensais que aferem turbidez, cor, cloro, coliformes totais, metais, agrotóxicos, dentre outros. 

Os relatórios de qualidade da água são enviados mensalmente ao Ministério da Saúde e também são disponibilizados às Vigilâncias Sanitárias dos municípios. Além disso, os clientes podem conhecer esses resultados na conta de água ou pelo site da Sabesp (www.sabesp.com.br).


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