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Amadureça

Amadureça

Por Paulo Cesar

Por Paulo Cesar

Publicada há 4 anos

Quando criança, o ser humano age conforme dita o seu instinto. Nessa pueril fase da vida, nossa mente parece trabalhar com os pares de opostos: prazer e desprazer. Fugimos do que nos aflige e buscamos o que nos apetece. Quando crianças, choramos quando sentimos frio ou fome. Fazemos birra para levantar cedo da cama, tão quentinha e aconchegante. Da mesma forma, buscamos satisfazer nossa ânsia pelo prazer de qualquer forma, sem medir os perigos e as consequências. Eu, particularmente, gostava de colocar fogo nas coisas (sacolas de plástico, pedaços de madeira, caixas de papelão etc.). Não sei exatamente o porquê, mas me alegrava de alguma forma. 

Acontece que o tempo passa e muitos de nós continuamos pautando nossas vidas e nossas ações nesses pares de opostos: prazer e desprazer. Se algo me incomoda, eu não faço. Se algo me parece bom, mergulho de corpo inteiro. A verdade é que todos os que assim agem, deixando-se controlar por seus instintos (e não pela razão), são bebezinhos que ainda não têm maturidade para encarar os grandes desafios da vida adulta. 

Sejamos mais práticos. Você lembra daquele famoso resgate dos meninos em uma caverna inundada na Tailândia, em 2018? Pois bem, durante aquele episódio dramático, Saman Kunan, de 38 anos, ex-integrante do grupo de elite da Marinha Tailandesa, triatleta, voluntariou-se para participar daquela operação de resgate. Mergulhou e conseguiu chegar ao grupo de 13 pessoas que estavam presas naquele local há dias, mas ficou sem oxigênio quando retornava para a entrada da caverna, e morreu afogado. 

Nesse caso, todos os sentidos de sobrevivência humana indicavam que aquela atitude não era a mais confortável. Aquele homem, Saman Kunan, não tinha a obrigação de fazer o que fez. A possibilidade de morte era real. Mas existe algo além desse universo sensível que o motivou, mesmo diante daquela situação tão hostil e perigosa, que infelizmente ocasionou sua morte.

Claro que este é um caso extremo. Mas pense nos pequenos sacrifícios que fazemos todos os dias. Há um movimento que faz com que nós nos privemos de um prazer imediato e somos impelidos para algo maior. Quando nos comportamos de forma instintiva, guiados por recompensas momentâneas, estamos condenados a uma vida pequena, com exigências de um adulto e atitudes de uma criança. Eis aí uma receita para a tristeza e a amargura. 

E como vencer isso? Veja, você não precisa comer aquela torta inteira. Você não precisa comprar aquela roupa agora. Você não precisa reagir com agressividade. Você não precisa dar ouvidos a tudo. Pode até deixar pra lá. Se a língua coçar para falar mal de alguém, pense que você não conhece as circunstâncias que levaram aquela pessoa a agir daquela forma e que você, na mesma situação, talvez fizesse pior. Fique quieto. Se tiver vontade de reclamar pelas coisas que você não tem, antes, agradeça pelas coisas boas que você tem. Se ficar com vontade de criticar, espere alguém pedir sua opinião. 

Você pode não conseguir controlar suas emoções, mas consegue controlar suas ações diante delas. Negue seus instintos e amadureça.

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