ARTIGO

QUANDO VEM O FRIO

QUANDO VEM O FRIO

Por Sérgio Piva

Por Sérgio Piva

Publicada há 4 anos

É tempo de frio, inclusive no clima. Nos últimos dias a temperatura tem caído por aqui, diferente de Brasília, onde o clima sempre esquenta, e parecido com o Rio de Janeiro, lugar em que está dando frio na barriga de muita gente.

Em nossa cidade, mesmo antes do aquecimento global ou de qualquer outro fator que anuncie a temperatura vigente, o aviso de que o frio está próximo, sempre foi o início da Exposição Agropecuária, Comercial e Industrial. Chegando o mês de maio e, fatalmente, a “expô”, o frio vinha junto. A festa costumava anunciar como seria nosso inverno.

Particularmente, gosto do frio. Ele não desgasta o corpo, como faz o calor, aumenta a disposição e o apetite. Não que eu precise de frio para comer bastante. Mas pelo menos tenho uma boa desculpa. 

Dizem que as pessoas ficam mais elegantes nessa época, se vestem melhor. Depende. Segundo um amigo, quem fica chique no inverno é rico, porque pobre fica parecendo palhaço, veste uma peça de roupa de cada cor, uma sobre a outra, igual casca de cebola. Fica arredondado e todo colorido, combinando, ou descombinando, as mais variadas estampas e cores possíveis e impossíveis. Um verdadeiro exercício de clown.

Apesar do estado palhacesco que o frio me inflige, ainda assim, gosto dele. Talvez porque não seja tão intenso e prolongado onde moramos. Fico imaginando os países nos quais ele dura um longo tempo ou ainda naqueles em que, ao contrário do nosso, o calor se manifesta durante poucos dias do ano. Deve ser terrível.

Muitos afirmam que em países ou regiões de frio intenso o índice de suicídio é mais alto, lugares onde os dias são curtos e as noites longas, ocorrendo por isso uma tendência natural de isolamento das pessoas, que se abrigam dentro de suas residências em busca de calor, distanciando-se do contato com vizinhos, amigos e parentes. 

É certo que muitas pesquisas já desmistificaram a relação entre frio e suicídio, apresentando inúmeros outros fatores que tentam explicar esse ato de tribulação atroz, sendo questão basilar a infelicidade, causada pela falta de saúde mental ou da saúde física de maneira geral, além de outras razões como o  desemprego, a renda e a ausência de sociabilidade.

O fato é que o frio quase sempre foi associado a aspectos negativos. Ouvimos incontáveis vezes expressões como “pessoa fria”, “frio e calculista”, “a sangue frio”, “frio na barriga” e tantas outras, ressaltando ou relacionando a ideia do frio há algo que não seja bom.

A analogia do clima, com as sensações que ele nos causa, completa sua metáfora em torno do ambiente que ele constrói, uma vez que o frio, mais precisamente o inverno, está associado a pouca luz e ausência do sol. Assim, posto que a relação entre homem e ambiente é intrínseca, ou influenciamos o ambiente ou ele nos influencia, conforme a força contida em cada um.

Se o frio e a pouca luz exterior nos levam ao recolhimento, esses mesmos fatores, gerados internamente, também nos conduzem a espaços escondidos e fechados da nossa mente. Por isso, o que precisamos para sair desses lugares obscuros é de luz e calor. 

Se, no inverno, buscamos nos aquecer de diversas formas, até buscando outros lugares com clima quente e muito sol, da mesma maneira, no inverno de nossas almas, precisamos buscar lugares iluminados, coisas e pessoas capazes de aquecer nossa vida, seja por meio de um bate-papo (presencial de preferência), de encontros familiares ou com amigos ou recorrendo a qualquer outras situações positivas que possas trazer o verão, a sensação ou a esperança dele para nossa existência.

Em tempos frios e de pouca luz, é bom lembrarmos que depois de uma noite escura, vem a manhã de sol e, principalmente que “o inverno nunca falha em se tornar primavera”, mesmo em nosso hemisfério, onde essa mudança parece pouco perceptível. 

Reflitamos também que se pode haver um inverno triste mesmo na primavera, o oposto também é possível. É factível fazer brotar a primavera no inverno interior, mesmo que flor a flor, de igual maneira como é possível romper a escuridão com uma ingênua luz de vela. 

Sérgio Piva

s.piva@hotmail.com

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