EDITORIAL

A interação humana

A interação humana

Artigo

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Publicada há 4 anos

Livros-jogos são espécies de RPG simplificados. Seu consumidor não precisa se preocupar em gastar rios de dinheiro com extensos (e às vezes confusos) manuais de regras, reunir - e manter reunidos - um grupo de entusiasmados jogadores ou reservar um espaço adequado para comportar o grupo todo. Eles têm a vantagem de abranger os “jogadores solitários”, os que estão longe de seus grupos ou os que apenas querem aventura e ação o mais rápido possível.

Nada substitui a interação humana. Graças a ela o homem foi capaz de inúmeras conquistas, e no RPG não é diferente. Mas como um leitor-jogador pode triunfar sem um grupo que o auxilia? Como um livro-jogo pode ser considerado um RPG se não há interação coletiva em busca de um objetivo em comum? Nossos aliados podem estar onde sempre estiveram: dentro de nós mesmos.

O livro-jogo é o próprio material e o próprio “narrador” da aventura, apelando direta e constantemente ao leitor. Durante o escolher das ações, o protagonista (controlado pelo leitor) do enredo avança e retrocede nas páginas desse livro interativo. Abrir a porta da direita ou da esquerda? Vestir essa estranha armadura? Será que aquela estátua ganhará vida se eu encostar nela? E se houver uma armadilha naquilo ali? Nem sempre as escolhas são óbvias ao personagem principal.

A maior amiga do leitor-jogador é a língua portuguesa, é claro. Sem o idioma o código é indecifrável e a comunicação livro-leitor simplesmente é nula. Com a prática de leitura, o leitor-jogador “entra” mais fácil no ritmo de suspense e de dinamicidade que a narrativa propõe, sentindo realmente ser parte daquilo. Mas nem só de leitura e emoção vive um livro-jogo.

Porém, livros-jogos estimulam o leitor a recorrer constantemente a outra grande parceira: a matemática. Mesmo que muitas vezes os números só significam anotações para que o leitor mapeie a aventura e não se perca no enredo, pequenos cálculos, enigmas e situações-problema são bons macetes inseridos para evitar aquela “espiadinha” na escolha a qual ele não optou. 

Portanto, livros-jogos ainda são boas ferramentas para se trabalhar com múltiplas leituras, reflexão sobre escolhas, identidade e também com operações e enigmas. Quem ainda acha que livro-jogo é coisa do passado e que é mera literatura de massa, provavelmente não conseguiu completar sua missão.

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