EDUCAÇÃO

A EDUCAÇÃO COMO GASTO É O CUSTO DA BURRICE

A EDUCAÇÃO COMO GASTO É O CUSTO DA BURRICE

Por Zé Renato

Por Zé Renato

Publicada há 4 anos


A burrice como uma condição infinita prova-se cotidianamente no atual (des)governo do Bozão. A incapacidade de escolha de seu ministério não é tarefa de qualquer um. Tem de possuir uma imensa insensatez para montar um time como esse, o qual faz inveja a Didi, Dedé, Mussum e Zacarias; Moe, Larry e Curly; o Gordo e o Magro e o por aí vai.

Sei que essa crítica é óbvia e virou lugar-comum.

Quero ater-me a outro aspecto: não falarei que o suposto ministro da Educação não sabe diferenciar três de trinta, desconhece matemática, tabuada, porcentagem...; não falarei que a Damares defende a Terra plana, prega a inexistência de Darwin e o evolucionismo; também não abordarei a estranha atitude dos ministros-bolsominions de afirmarem títulos acadêmicos que não possuem, mestrados bíblicos; por fim, não tratarei da aberração do Bozão e sua turminha quanto a desconhecerem e verbalizarem sandices, asneiras e total ignorância quanto ao educador Paulo Freire, que não estudou em Harvard. No entanto, estudado lá e em instituições acadêmicas de todo o planeta. Estudado e respeitado. Menos pelo bozão e seu grupelho.

Se não bastasse o patético arremedo de ministro da Educação não saber explicar, rigorosamente, nada a respeito das medidas que tomou — além de não saber diferenciar “corte” de “contingenciamento” (duvido que escreva essa palavra sem cola) —, cortou mais de 30% das receitas das universidades públicas federais.

Essa medida produz um efeito devastador: além de impedir o custeio de despesas básicas e correntes de qualquer instituição, faz pior: inviabiliza pesquisas.

O mentecapto (na verdade são todos) disse que as universidades públicas não pesquisam, não produzem; ao contrário, quem o faz são as privadas. MENTIRA! A realidade e as estatísticas, além dos gráficos que o pateta não saber interpretar, mostram o inverso.

Voltemos um pouco na História: após ser destruído por duas bombas de hidrogênio, nos dias 6 e 9 de agosto de 1945, criminosa e desnecessariamente lançadas pelos Estados Unidos, o Japão, devastado, reconstituiu-se logo. Investiu de 40% a 60% de seu PIB em Educação. Resultado: em 40 anos era um dos países mais ricos e desenvolvidos do planeta.

A Coreia do Sul realizou um imenso salto em termos de IDH (índice de desenvolvimento humano): postou a Universidade de Seul entre as maiores do mundo, competindo com europeias e norte-americanas, com mais de 700 anos; seus produtos eletroeletrônicos e automóveis estão entre os mais consumidos e cobiçados da terra. Qual o segredo? Não há. Houve e existe um investimento sério em Educação. Desde o início, desde a alfabetização.

Para começar a ensinar as primeiras letras na Coreia do Sul, o professor deverá ter no mínimo doutorado. Passar por exames rigorosíssimos.

Acreditem: na Coreia do Sul, professor possui status de popstar.

A Finlândia é a campeã em Educação. A razão: séria política pública. Qual o segredo? Não há. Investimento sério. Qual a base do trabalho? Paulo Freire.

Os demais países nórdicos também seguem a mesma política.

Quais são os países nórdicos?

Pergunte para o Weintraub e a Damares. Duvido que saibam.

Mas ainda não comecei a tratar aquilo que pretendo. Quero abordar um “pequeno” detalhe: o néscio do Bozão e seus ministros-patetas falam com um total desprezo de Filosofia e Sociologia e, no geral, das humanidades.

É oportuno lembrar que o “guru” do Bozão e dos bolsominions é o astrólogo, pseudofilósofo, com ensino fundamental inconcluso: “Olavinho”.

Em tempo: pensei em escrever acerca das asneiras, sandices, imbecilidades ditas por esse ente. Todavia, concluí que seria maldade... Pior que bater em bêbado. Além disso, é dar a ele uma preocupação que não merece. Significar o insignificante.

Como desconsiderar esses saberes?

Se hoje existe um inequívoco desenvolvimento em áreas como a matemáticas, a física, a química, a medicina, o direito, sem falar nas artes, a resposta é simples: devemos à Filosofia. Ela — a Filosofia — é a origem de todo o saber existente.

Quero lembrar. A filosofia ocidental tem sua gênese no momento de ruptura entre o mito e a percepção do lógos, na Grécia Antiga. Na passagem do período arcaico para o clássico, por volta do século VI a.C.

O surgimento das pólis, em particular Atenas, é o início do processo.

Atenas vivia um grande desenvolvimento mental, comercial, político e cultural. Quando Clístenes cria a democracia e convida os cidadãos a fazerem as leis, é o começo.

O exercício de criarem-nas provoca nos cidadãos a certeza de que não utilizam do mito. Percebem que a palavra verbalizada convence.

Num primeiro momento, acreditam que uma divindade ocupa a palavra e persuade.

Todavia, o exercício cotidiano da democracia, acrescido da escrita — introduzida na Grécia dessacralizada — com o propósito de redigir as leis e escriturar o comércio, permite aos cidadãos verificar que a palavra, verbalizada por eles, convencia.

Portanto, os atenienses, os gregos antigos, passam a perceber que estão a utilizar outra maneira de abordagem do real. Chamada de logos. Em tempo: essa palavra grega significa em português “razão”, “palavra”, “estudo” e “lógica”.

Embora “mito”, do grego mythós, também se traduza por “palavra”. Uma das maravilhas da Filosofia e da Filologia, palavras diferentes: significam “palavra”. Contudo, à luz do mito, aparece como “magia”, “crença”; em logos, é “desvelamento”, “argumentação”, “elucidação”, portanto, “lógica”.

Essa compreensão permitiu aos gregos constatar ser possível dialetizar (debater, discutir, se em dupla dialogar) — usar a razão —, a fim de fazer política. No entanto, se posso utilizá-la no plano político, posso fazê-lo com a religião. Mais ainda, se me permito proceder a dialética com a política e com a religião, devo realizá-la em relação ao cosmos.

No momento em que os gregos antigos passam a abordar o cosmos por meio dialética, abandonam a cosmogonia. Iniciam a cosmologia. Não é mais o mito a forma de aceitação das coisas. Agora deverá argumentar, justificar as explicações através de ideias e preceitos lógicos.

Consequentemente, a busca pelas primeiras respostas — à luz de logos, da “razão” — é o nascimento da Filosofia, da racionalidade, a superação das aberrações ilógicas e crendices insanas do mito.

Evidente, das primeiras reflexões nasceram os saberes.

A primeira atitude filosófica é de Tales de Mileto. Sim, aquele do teorema. Dessacralizou o sol e a terra, ao medi-los. Detalhe: seu cálculo (sem computador, Google, Globo e Wikipédia), a “olho nu”, aumentado cada ângulo 365 mil vezes, produz a exata distância entre ambos os astros.

Dos primeiros filósofos vieram as reflexões futuras, cujos resultados são todos os saberes institucionalizados.

Até o século XIX havia o sábio, responsável pela produção de todo o saber existente. Não existia a divisão do conhecimento, até pelas suas dimensões, bem menores naquele período.

Lentamente, desde Galileu, processa-se o divórcio entre a Filosofia e as Ciências Exatas, com a criação do método científico, proposto pelo criador da “teoria heliocêntrica”.

A separação definitiva dar-se-á somente no século XIX com o positivismo, ao qual alguns atribuem a paternidade da Sociologia, no momento em que Comte alardeava acerca da necessidade da hierarquização dos saberes, a partir da Filosofia, para o mundo encaminhar-se em “ordem em direção ao progresso”. Para isso, era mister a criação de “uma física social”, a fim de ocupar-se da manutenção da ordem. Outros atribuem a paternidade da Sociologia a Marx e Engels, no momento de suas formulações, a fim de superar a abismo sócio-econômico-político do mundo.

Com essa divagação, é lícito perguntar: o mundo melhorou ou piorou?

A certeza da resposta é a incerteza heideggerana: sim e não. Todavia, ficou menos burro, menos ignorante, mais elucidado. Nos permitiu caminhar na luz, ao invés das trevas.

Trevas a que esses boçais, energúmenos, incompetentes e sem caráter, querem nos fazer retroceder.

A propósito: o inteligentinho e ressentido filósofo Pondé é uma das vozes contrárias às humanidades. Numa de suas argumentações, alegava que o Japão as abandonou em “benefício” das ciências exatas. Raciocínio utilizado pelo ministro-pateta do Bozão.

Em tempo: os cientistas e acadêmicos “exatos” japoneses foram os primeiros a se oporem a essa aberração, argumentando a indispensável contribuição das humanidades, no sentido de forjarem caráter, sensibilidade e criticidade dos humanos.

Palavra de japonês.

Logo, a burrice é muito mais cara que o investimento em Educação. Tá OK?

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