ARTIGO

Água, o petróleo do século 21

Água, o petróleo do século 21

Por Carlos Eduardo

Por Carlos Eduardo

Publicada há 4 anos

  Tente produzir qualquer objeto industrial sem utilizar água. Cultive uma lavoura qualquer sem esse líquido precioso. Invista na pecuária e dispense esse recurso hídrico. Experimente tomar banho, fazer comida, lavar roupas, limpar a casa sem ela. Fique algumas horas com sede.

 Simplesmente não há nada que substitua a água! Dependemos dela para realizar atividades básicas do dia a dia, no desenvolvimento da indústria, da agropecuária, para manter a economia de um país e para sobreviver.

De acordo com as Organização das Nações Unidas (ONU), a agricultura é o setor que mais utiliza esse recurso (70%), seguida pela indústria (22%) e uso doméstico (8%). 

  Praticamente quase tudo que consumimos ou precisamos, diariamente, necessita de água em sua produção. Essa particularidade é chamada pelos especialistas de “pegada hídrica”.

  Veja alguns exemplos: são necessários 10 litros de água para produzir uma única folha de papel e 182 litros para fabricar um quilo de plástico (o mesmo que polui os oceanos). Uma camisa de algodão requer 2,5 mil litros do líquido, no refino de um litro de óleo diesel gastam-se 4 mil litros de água e no cultivo de um quilo de cana-de-açúcar, matéria-prima para a produção do etanol, consomem-se 1,8 mil litros desse recurso hídrico. Para a confecção daquela sua surrada calça jeans, foram necessários inacreditáveis 10 mil litros de água. 

 Sabe aquele seu sapato lustroso de couro sempre utilizado em ocasiões especiais? Então, em sua produção, foram necessários 17 mil litros. A fabricação do seu automóvel requereu 400 mil litros de água e, para garantir aquela xícara de cafezinho que você tomou hoje pela manhã, foram utilizados 130 litros de água. Muito além do seu uso doméstico, são inúmeros os exemplos que evidenciam a importância da água nas atividades industriais e agropecuárias.

  O Brasil, famoso por apresentar diversas riquezas naturais, concentra a maior reserva de água doce disponível do planeta (12%). Mais do que o continente europeu e o africano, por exemplo, que possuem 7% e 10%, respectivamente. Isso se justifica pois possuímos a maior bacia hidrográfica do mundo, a Amazônica, além de outras grandes bacias, como as dos rios São Francisco e Paraná. 

 Além disso, os dois maiores aquíferos do planeta são encontrados em subsolo brasileiro. O maior é o Alter do Chão ou Sistema Aquífero Grande Amazonas (SAGA), localizado nos estados do Pará, Amazonas e Amapá. Com área de 400 mil Km², possui 86 mil Km³ de água, o suficiente para abastecer toda a população do planeta durante 250 anos. Atualmente, serve apenas as cidades de Manaus e Santarém. É um grande reservatório que carece de pesquisas e investimentos para ampliar a sua utilização.

 Outro aquífero gigantesco é o Guarani (segundo maior do mundo), com área de 1,2 milhão de Km². Estende-se para outros países como Paraguai, Uruguai e Argentina, embora 70% de sua área esteja concentrada no Brasil. Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), possui 45 mil Km³ de água e abastece cidades do Centro-Oeste, Sul e Sudeste do país, incluindo as nossas da região noroeste do estado de São Paulo.

Desde o século 20, o líquido precioso e bastante versátil sempre foi o petróleo e, segundo dados recentes da CIA (agência de inteligência dos EUA), a Venezuela e a Arábia Saudita possuem as maiores reservas do mundo (300,9 e 266,5 bilhões de barris, respectivamente). No século 21, esse prestígio também pode ser compartilhado pela água, ou seja, assim como aqueles países tiveram a sorte de concentrar a maior reserva do ouro negro (como é conhecido o petróleo), o Brasil foi abençoado por deter a maior reserva do recurso natural mais importante do planeta – a água. 

Mas estamos utilizando de forma racional os nossos recursos hídricos? A resposta é não. Segundo os especialistas, faltam sistemas de armazenamento, há muito desperdício e pouco investimento em pesquisas que visam otimizar a utilização dos recursos hídricos do nosso país.

Outro problema é a poluição das águas, especialmente no entorno das grandes cidades, além do assoreamento de rios e córregos provocado pela derrubada de matas ciliares.

Uma pesquisa publicada em maio de 2019 e conduzida pelo Ministério da Saúde em conjunto com a Agência Pública, Repórter Brasil e a organização suíça “Public Eye”, revelou dados muito preocupantes: foi encontrada na água de 1 em cada 4 municípios brasileiros, entre os anos de 2014 e 2017, um verdadeiro “coquetel de agrotóxicos”.

Neste período, as empresas de abastecimento público de água em 1.396 municípios detectaram 27 pesticidas, sendo que 16 deles são classificados, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), como extremamente ou altamente tóxicos, e 11 são associados ao desenvolvimento de câncer, malformação do feto e disfunções hormonais e reprodutivas. Várias cidades da região noroeste do estado de São Paulo estão nesta lista apresentando pequenas diferenças no número de agrotóxicos detectados.

Pense bem antes de varrer a sua calçada com jatos intermináveis de água, de tomar aqueles banhos demorados, de descartar lixo nos rios e oceanos (nestes, especialmente o plástico). Evitemos deixar a torneira aberta, por vários minutos, ao lavar a louça ou escovar os dentes. Também cobremos dos setores produtivos a utilização racional da água na indústria e na agropecuária. Busquemos soluções para evitar a poluição das águas e manter a preservação dos mananciais.

Cuidar bem dos recursos hídricos é mais do que um sinal de civilidade, é respeitar a vida, pois não há ser vivo no planeta que se mantém sem esse líquido precioso.

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