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A minha sorte eu mesmo faço

A minha sorte eu mesmo faço

Por Paulo Cesar

Por Paulo Cesar

Publicada há 4 anos

Não, eu não sou tão pretensioso assim. Acredito em sorte e azar. Na vida, a sorte sorri para as pessoas de maneira diferente. Alguns a veem com frequência, outros, quase nunca. Será que é destino? Não sei. A vida tem dessas coisas. Só Deus conhece os mistérios de cada existência.

Entretanto, acredito muito em determinação e trabalho. A pessoa que persegue seus objetivos com obstinação, concentrando os seus esforços e a sua energia em cada etapa do caminho, certamente chegará onde deseja. Poderá sofrer uma derrota aqui ou ali, poderá tropeçar em alguns obstáculos do percurso, mas se levantará e continuará caminhando, até ultrapassar a linha de chegada.

Pessoas obstinadas, determinadas, fazem a sua própria sorte. Isto não quer dizer que elas estejam imunes ao azar, ao infortúnio. Entretanto, mesmo que a vida lhes imponha algumas derrotas, elas terão forças para seguir firme no seu propósito e fatalmente obterão sucesso na empreitada.

Sempre é possível a ocorrência de eventos incapacitantes, acidentes que impedem o prosseguimento da caminhada. Contra isso nada se pode fazer. Nesses casos, a solução é mudar o objetivo: “se não dá para realizar o que eu pretendia, o que posso fazer com as possibilidades que tenho agora?” Redefinida a meta, é só prosseguir com a mesma obstinação, a mesma determinação.

Já citei, em outra oportunidade, o caso de Fernando Fernandes (participante da segunda temporada do programa “Big Brother Brasil”), que perdeu os movimentos das pernas após se envolver em um acidente automobilístico em 2009. A sua vida mudou radicalmente de uma hora para outra. Começou a treinar canoagem enquanto fazia sua reabilitação. Encontrou no esporte um objetivo de vida. Acabou se tornando tetracampeão mundial na modalidade, transformando-se em referência para inúmeras pessoas que se encontram na mesma situação que ele.

O professor e historiador Leandro Karnal aborda com frequência o tema “sorte” em suas palestras: “Sorte é o nome que o vagabundo dá ao esforço que ele não fez”; “As pessoas me dizem: Leandro, você tem uma sorte imensa! Eu respondo: engraçado, pois eu acordo todos os dias às quatro horas da manhã. Basta eu começar a dormir o dia todo que a minha sorte acaba”; “A minha sorte foi passar as madrugadas estudando”; “Sorte é o nome que o vagabundo dá para o sucesso alheio”.

Arnold Daniel Palmer foi um dos maiores jogadores de golfe da história. Era chamado de “The King” (O Rei). É dele uma frase muito interessante a respeito de “sorte”: “Quanto mais eu treino, mais sorte eu tenho”.

Todas as frases citadas procuram transmitir a ideia de que não existe sorte ou azar, somente trabalho, dedicação, persistência. Não penso da mesma forma: como já disse, acredito em sorte e azar. Mas acredito também que, com obstinação e perseverança, somos capazes de superar os infortúnios, se eles se interpuserem entre nós e os nossos objetivos.

Quando eu era criança, havia um senhor que visitava com frequência os meus pais. Nessas ocasiões, eu me lembro, ele desfiava um rosário de lamentações: “Comadre, eu não tenho sorte”; “Compadre, tudo o que eu tento dá errado”. Com o passar dos anos, passei a ter maior compreensão das coisas e descobri o motivo do azar do compadre José. Invariavelmente, acontecia o seguinte: assim que conseguia arrumar algum dinheiro (provavelmente um empréstimo, obtido junto a algum desavisado), ele abria uma empresa. Uma das primeiras providências era contratar uma ou duas funcionárias (tinha que ser mulher, nova e de preferência bonita, pelo menos na avaliação do compadre José, que era viúvo). Como ele não gostava de trabalhar, deixava o negócio por conta das funcionárias. Era visto com frequência no jardim da praça da matriz jogando conversa fora. Em poucos meses a empresa quebrava. Realmente, o azar tinha uma paixão avassaladora pelo compadre José.

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