ARTIGO

Suicídio

Suicídio

Por Carlos Eduardo

Por Carlos Eduardo

Publicada há 4 anos

No ano de 1994, um jovem estadunidense de apenas 17 anos, chamado Mike Emme, tirou a própria vida dirigindo um carro amarelo. O carro era um Mustang 1968, restaurado pelo próprio Mike. No funeral do rapaz, amigos e familiares distribuíram cartões com fitas amarelas contendo mensagens de apoio para aqueles que estivessem enfrentando o mesmo problema. A partir de então, os pais de Mike, Dale Emme e Darlene Emme, iniciaram a campanha de prevenção do suicídio chamada “fita amarela” ou “yellow ribbon”, em inglês.

Inspirados nesse episódio e no fato de o dia 10 de setembro ser o “Dia Mundial de Prevenção do Suicídio”, foi criada, no Brasil, a campanha Setembro Amarelo. Iniciada em 2015, teve como idealizadores o Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). A campanha tem como finalidade promover debates sobre o suicídio, alertando a população sobre a importância da sua discussão, uma vez que esse tema ainda é considerado um tabu em muitas sociedades.

A vida é tão valiosa e cercada por um forte instinto de preservação que muitos não compreendem como alguém pode pensar em tirá-la de si. No entanto, temos de levar em consideração que a mente humana é extremamente complexa, assim como é bem complexo esse problema. Por isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que os esforços concentrados em sua prevenção necessitam da colaboração dos múltiplos setores da sociedade.

Em outras palavras, o tema deve ser abordado, de forma direta e sem rodeios ou receios, na escola pelos professores, pelos profissionais da saúde, por líderes religiosos, pelas autoridades públicas, em casa pelos pais aos seus filhos, enfim, devem chegar ao público em geral as informações sobre as causas e a prevenção. A discussão sobre esse tema deve ser aberta, deixando de ser um tabu.

E há boas razões para isso. Estima-se que, de acordo com a OMS, cerca de 800 mil pessoas tiram a própria vida, por ano, no mundo (é mais do que a população de uma cidade como Ribeirão Preto, por exemplo). O suicídio é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos de idade (a primeira causa é acidente de trânsito). Entre os adolescentes de 15 a 19 anos, é a segunda causa de morte entre as meninas e a terceira entre os meninos. Esses dados são do ano de 2016.

No Brasil, houve um aumento de 7% na taxa de suicídio entre os anos de 2010 e 2016 (último ano da pesquisa). Em 2016, a Organização Mundial da Saúde contabilizou 6,1 suicídios a cada 100 mil habitantes no país. Essa taxa era de 5,7 suicídios a cada 100 mil habitantes em 2010.

Os números são significativos, tanto que, hoje em dia, é difícil encontrar uma pessoa que não conheceu alguém que se suicidou.

Um relatório da OMS, divulgado em sua página na internet e atualizado em agosto de 2018, destaca o perfil das pessoas que estão mais vulneráveis ao suicídio. Nos países de alta renda, depressivos e os que abusam do álcool estão mais propensos a tirar a própria vida. Os suicídios também podem ocorrer de forma impulsiva em momentos de crise, tais como: incapacidade de lidar com problemas financeiros, términos de relacionamentos, dores crônicas ou doenças graves. Além disso, o enfrentamento de conflitos, desastres, violência, abusos ou perdas e um senso de isolamento estão fortemente associados com o comportamento suicida (a vida moderna, principalmente em grandes cidades, reforça esse sentimento). 

As taxas de suicídio também são elevadas entre aqueles que sofrem discriminação, como refugiados e migrantes, indígenas, lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais (LGBTI), além de pessoas privadas de liberdade (mais um ótimo motivo para se combater o preconceito e a discriminação). 

No entanto, de longe, o fator de risco mais relevante para o suicídio é a tentativa anterior. Se uma pessoa já tentou se matar, ela necessita, urgentemente, de tratamento médico e psicológico especializado, além do apoio da família e dos amigos.

O fato positivo é que suicídios são evitáveis! As medidas recomendadas pela OMS junto às populações e em níveis individuais para prevenir o suicídio são: “redução de acesso aos meios utilizados (por exemplo, pesticidas, armas de fogo e certas medicações), cobertura responsável pelos meios de comunicação, políticas para reduzir o uso nocivo do álcool, identificação precoce, tratamento e cuidados de pessoas com transtornos mentais ou por uso de substâncias, dores crônicas e estresse emocional agudo, formação de trabalhadores não especializados em avaliação e gerenciamento de comportamentos suicidas e acompanhamento de pessoas que tentaram suicídio e prestação de apoio comunitário”.

No Brasil, a pessoa angustiada pode e deve entrar em contato telefônico com o Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo número 188 (a ligação é gratuita em todo o território nacional). Voluntários estão disponíveis do outro lado da linha 24 horas por dia. Acessando o seguinte endereço eletrônico: https://www.cvv.org.br/, o contato também pode ser realizado por e-mail ou chat. É garantido o total sigilo da conversa.

Vamos discutir, abertamente, esse grave problema de Saúde Pública! Lembrem-se que, após o suicídio de uma pessoa, uma mãe vai chorar e sentir tristeza profunda para o resto de sua vida, um pai inconformado vai se perguntar onde errou ao educar o seu filho, familiares e amigos sentirão a ausência dela. 

O suicídio traz dor e sofrimento para os mais próximos daquele que teve a coragem de tirar o seu bem mais valioso: a sua própria vida.


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