ARTIGO

Quando devemos reconhecer que estamos velhos

Quando devemos reconhecer que estamos velhos

Por Amaury César Soares

Por Amaury César Soares

Publicada há 4 anos

O Estatuto do Idoso, instituído pela Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, considera velha a pessoa que completa sessenta anos de idade. Atingido este pré-requisito, o indivíduo pode requerer o seu cartão de identificação e passar a usufruir de todos os benefícios que a terceira idade pode lhe proporcionar: estacionamento exclusivo, atendimento preferencial, assentos gratuitos em ônibus interestaduais, e muitos outros.

Entretanto, quais critérios foram utilizados para a fixação dessa idade limite? O indivíduo com sessenta anos deve mesmo ser considerado idoso? Eu estou prestes a completar sessenta e oito e me julgo no pleno vigor da minha juventude. Tudo bem: aceito retirar as palavras “pleno” e “juventude”. Mas não me considero velho. Recuso-me a requerer o cartão de idoso, não estaciono em vagas exclusivas e não entro em filas preferenciais.

Há algum tempo atrás, um indivíduo de sessenta anos poderia ser considerado velho. Os tempos eram outros, as pessoas viviam menos. Mas muita coisa mudou: todos passaram a se preocupar mais com a saúde, fazem exames preventivos, praticam exercícios físicos, têm uma consciência maior em relação à alimentação e bem estar espiritual. A medicina realizou progressos extraordinários, a perspectiva de vida aumentou muito. Por isso, estou convicto de que é necessária uma reavaliação da idade-limite.

Tenho feito pesquisas e acredito que encontrei o critério ideal para saber se uma pessoa pode ser classificada como velha. O método utiliza medidas flexíveis, que mudam de indivíduo para indivíduo. Quando você for fazer a avaliação, verifique se a pessoa tem, no mínimo, vinte anos mais que você. Neste caso, ela pode ser considerada velha.

É claro que se trata de uma brincadeira. Entretanto, na prática, é assim que os indivíduos avaliam a idade das demais pessoas. Velhos sempre são os outros. Você ainda não chegou lá: se não é mais jovem, também ainda não é velho. Por isso, é muito comum ouvirmos a pergunta: quantos anos você acha que eu tenho? Às vezes, a resposta produz surpresas desagradáveis.

Meu pai tem 91 anos de idade e está desesperado para consertar seu Astra (já parado há algum tempo). Quer voltar a dirigir. Não adianta argumentar que ele não tem mais condições de usar o carro. Ele ainda não se considera velho. Acha que ainda pode fazer as coisas que fazia há alguns anos atrás. É difícil aceitar a velhice. É difícil aceitar as limitações impostas pela idade.

Às vezes, acontece o contrário. Há pessoas com pouca idade que já se consideram velhas. Acredito que sejam minoria. Ainda bem. Prefiro o otimismo ilusório dos que acreditam ser o que não são mais, do que o derrotismo dos que se julgam velhos antes do tempo. Acredito que devemos olhar para a vida com o sentimento utópico da eterna juventude. Mesmo que, às vezes, a nossa atitude nos conduza a algumas frustrações. Melhor isso do que aceitar que o nosso tempo já passou e que o futuro pouca coisa nos reserva.


Amaury César Soares

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