ARTIGO

O mal não tem idade

O mal não tem idade

Por Amaury César Soares

Por Amaury César Soares

Publicada há 4 anos

No dia 29 do mês passado, no Parque Anhanguera, zona norte da cidade de São Paulo, a menina Raissa Eloá Caparelli Dadona foi assassinada por um garoto de apenas doze anos de idade. Ambos moravam na mesma rua e eram amigos. Raissa tinha nove anos e fazia tratamento para autismo.

Seu corpo foi encontrado amarrado a uma árvore, com vários sinais de agressões, inclusive ferimentos compatíveis com mordidas. Segundo a polícia, o menor, depois de agredir a menina com socos no rosto, empurrou-a para uma árvore, amarrou-a pelo pescoço e matou-a por asfixia. Em seu depoimento, o garoto não demonstrou qualquer arrependimento ou emoção. Também não explicou os motivos que o levaram a praticar o crime.

Nesta semana, com base no laudo da Polícia Técnico-Científica, o Ministério Público divulgou a informação de que, antes de ser morta, Raissa foi abusada sexualmente por seu executor.

Embora incomuns, outros crimes como este foram cometidos por crianças e adolescentes ao longo do tempo. Em 21 de janeiro de 2015, a revista Superinteressante publicou um artigo a respeito do assunto, com a seguinte introdução: “Às vezes, as maiores atrocidades podem sair da cabeça de pessoas bem jovens. Algumas crianças apresentam, desde cedo, tendências violentas, frieza e uma capacidade incrível de mentir. Mas, na maior parte dos casos, o diagnóstico psiquiátrico, que vai defini-las como psicopatas, só pode vir quando elas se tornam maiores de idade. Os crimes que acontecem antes disso, portanto, tornam-se desafios tanto para os juízes nos tribunais quanto para a opinião pública, que fica dividida”.

Em 25 de maio de 1968, em New Castle, Inglaterra, Mary Bell, uma menina de apenas dez anos, cometeu crime semelhante. Em uma casa abandonada, ela estrangulou o garoto Martin Brown, de quatro anos de idade.

Dois meses depois, acompanhada de uma amiga, ela voltou a matar: estrangulou Brian Howe, de apenas três anos. Depois do assassinato, utilizando uma tesoura, Mary fez vários cortes nas pernas do menino e escreveu a letra “M” em seu abdômen.

Na prisão, ela não demonstrou qualquer emoção ou arrependimento. Durante o julgamento, chegou a declarar: “Eu gosto de ferir os seres vivos, animais e pessoas que são mais fracos do que eu, que não podem se defender”. Embora tenha sido condenada a ficar presa indefinidamente, Mary foi liberada em 1980, aos 23 anos de idade, após cumprir 12 anos de prisão.

Em 20 de novembro de 1986, na cidade de Canton, estado de Massachusetts, Estados Unidos, Rod Mathews atraiu Shaun Ouillette para uma área arborizada e matou-o com um taco de beisebol. Ambos eram colegas de classe e tinham quatorze anos de idade.

Enquanto todos procuravam o menino desaparecido, o assassino levou dois amigos para verem o corpo. Depois, ameaçou matá-los também, caso o delatassem. Entretanto, um deles não resistiu e enviou uma carta anônima à polícia, contando tudo. Segundo relatou, Rod confidenciou-lhes que cometeu o crime porque queria saber qual era a sensação de matar alguém. Mesmo tendo apenas quatorze anos de idade, ele foi condenado à prisão perpétua.

Em 12 de fevereiro de 1993, na cidade de Liverpool, Inglaterra, John Venables e Robert Thompson raptaram o menino James Bulger, levaram-no a um local deserto e o assassinaram com uma barra de ferro e tijolos. Depois, abandonaram o corpo sobre os trilhos de uma ferrovia para simular um acidente. Os assassinos tinham dez anos de idade e James apenas dois. Uma câmera de segurança registrou o momento em que o garoto foi levado por um de seus assassinos para fora do centro comercial, onde estava com sua mãe.

O comportamento dos menores assassinos, nos casos relatados, revelam evidentes sintomas de psicopatia. Os psicopatas se caracterizam pela falta de empatia para com as outras pessoas. Eles não se comovem com a dor dos outros. Pelo contrário, sentem prazer com o sofrimento de suas vítimas. São sádicos por natureza. A única coisa que lhes importa é a satisfação de seus desejos. Por isso, geralmente não explicam a motivação de seus crimes. Ou, então, assumem que suas ações materializaram desejos que sempre estiveram presentes em seus pensamentos.

Os psicopatas são manipuladores e podem fingir sentimentos que não possuem. Geralmente, passam despercebidos, até que seus atos sejam descobertos e revelem sua verdadeira índole. É preciso cuidado: às vezes, o mal pode estar oculto, seja atrás da frágil figura de um idoso, ou da aparente inocência de uma criança.


Amaury César Soares

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