ARTIGO

Tia Sebastiana: a vitória de uma mãe forte

Tia Sebastiana: a vitória de uma mãe forte

Por Carlos Eduardo

Por Carlos Eduardo

Publicada há 4 anos

Seu pai, o senhor Corinto Mendes Carneiro, chegou a pedir-lhe para não ir, mas, mesmo assim, ele foi pescar naquele dia. O que aconteceu depois mudou para sempre a vida de uma mulher e a de seus sete filhos.

No dia 14 de fevereiro de 1964, o barco onde estavam Antônio da Costa Carneiro e seus amigos virou no meio do rio Grande, próximo a antiga cachoeira dos índios (hoje encoberta pelo lago da hidrelétrica de Água Vermelha), em decorrência de uma forte tempestade. Pescador experiente e exímio nadador, Antônio ajudou a salvar a vida de seus amigos, mas, infelizmente, não salvou a si mesmo. Provavelmente uma câimbra dificultou as suas braçadas na água levando-o a se afogar. Três dias após a tragédia, encontraram o corpo dele as margens do rio.

Sebastiana de Oliveira Carneiro, então esposa de Antônio, viu-se diante da seguinte situação: viúva aos 28 anos de idade, longe de ser rica e com sete filhos pequenos para criar. A sua filha mais nova ainda era um bebê de colo com apenas 11 meses de vida e a mais velha tinha oito anos de idade.

Um desafio hercúleo para uma mulher em uma época na qual a sociedade nutria preconceito contra as viúvas, principalmente se fossem jovens. Algumas vezes ouviu de pessoas próximas de que não suportaria a carência afetiva e, por isso, logo estaria com outro marido. 

Embora ela tivesse esse direito por ser viúva, os seus pensamentos estavam focados em criar os seus filhos e, em seu coração, só tinha espaço para as suas sete crianças que tanto dependiam dela. Ela nunca se casou novamente.

Trabalhou muito administrando um bar de onde tirava o sustento de sua família. Mais tarde, ingressou na carreira pública trabalhando como servente, durante muitos anos, na conhecida Escola Estadual Líbero de Almeida Silvares (EELAS) em nossa cidade, Fernandópolis, até se aposentar.

Em sua casa, Dona Sebastiana, ou melhor, Tia Sebastiana (ela é irmã de meu saudoso pai e não consigo usar outro pronome de tratamento ao me referir a ela) ensinou, desde cedo, os seus filhos a colaborarem entre si, tanto que, conforme os anos se passavam, os mais velhos ajudavam a cuidar dos mais novos, processo que, certamente, estreitou os laços de sangue entre os irmãos.

Na casa da Tia Sebastiana pode até ter faltado algum conforto material, dispensável até, mas nunca faltou o indispensável calor humano, daqueles que não se adquire com dinheiro.

Tia Sebastiana, em meio as dificuldades de criar tantos filhos sozinha, ensinou-lhes o valor do trabalho, do estudo e da honestidade, sempre pautada nos valores cristãos aprendidos na religião católica. Ai se algum filho faltasse à missa aos domingos! Até hoje ela procura saber se algum deles faltou à missa do último domingo.

A propósito! Ela fez parte do coral da igreja matriz de Fernandópolis e também ficou conhecida por entoar o famoso “Canto de Verônica” na Semana Santa com sua voz forte e inconfundível.

Muitos poderiam se revoltar e passar a vida reclamando da sorte caso tivessem que enfrentar o enorme desafio que o destino impôs à Tia Sebastiana. Mas quem a conhece de longa data, sabe que ela tem o bom humor, a extroversão e a espontaneidade (e coloca espontaneidade nisso) como traços característicos de sua personalidade. Talvez aí resida um dos segredos da sua força ao lado da sua grande fé em Deus e em Nossa Senhora Aparecida.

Atualmente, do alto dos seus 83 anos de idade, Tia Sebastiana colhe os louros da sua trajetória árdua mas vitoriosa: seus filhos, netos e bisnetos a cercam de carinho e atenção, reconhecendo o sacrifício e a dedicação dela ao criar aquelas sete crianças inocentes.

Aquelas sete crianças se transformaram em excelentes cidadãos bem-sucedidos na vida que, por sua vez, transmitem os ensinamentos recebidos de sua mãe às próximas gerações da família. Certamente, esse é o maior legado de Tia Sebastiana, essa é a maior vitória de uma mãe forte.

Que fique o exemplo de Tia Sebastiana aos casais modernos no que se refere a criação dos filhos! Que fique a mensagem de que filhos para serem bem criados não precisam de tantos mimos, especialmente os de natureza material. Filhos precisam de atenção, não de presentes para suprir ausências. Filhos precisam de limites, não de superproteção. Filhos precisam de bons exemplos, não de conselhos vazios. Filhos precisam de um pai e de uma mãe (destacando que a personagem principal desse artigo foi pai e mãe ao mesmo tempo) que os ensinem com firmeza os bons valores da vida.

Que Tia Sebastiana ainda possa comemorar muitos natais junto de seus familiares!

Na imagem superior, de 1964, Tia Sebastiana (ao centro e com a filha mais nova no colo) com os seus sete filhos ainda crianças. Na imagem inferior, recente, os seus sete filhos já adultos e perfilados ao seu lado (primeira à direita)

 

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