ARTIGO

O mundo necessita de profetas

O mundo necessita de profetas

Por João Gimenez Barciela Marques, membro da Comissão da Animação Bíblica da Pastoral da Diocese de Jales

Por João Gimenez Barciela Marques, membro da Comissão da Animação Bíblica da Pastoral da Diocese de Jales

Publicada há 4 anos

Lucas relata em seu evangelho que certa vez, interpelado pelos fariseus, Jesus respondeu: “Se eles se calarem, as pedras clamarão”. A Irmã Cecilia Castilho, musicalizando esse texto, nos alerta: “Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão”.

Também segue o papa Francisco: “Um verdadeiro profeta é aquele que é capaz de chorar por seu povo e também de dizer as coisas fortes quando for necessário. Não é morno; é sempre assim, direto”, em homilia realizada em abril de 2018. 

Quando se fala em profetas e profecias, na hora vêm à mente os grandes nomes bíblicos: Ezequiel (aquele que previu o exílio do povo judeu na Babilônia) ou Daniel (que interpretava sonhos e visões de reis). Sem nos esquecer daqueles que, dentre outros, são chamados profetas menores: Amós (vaqueiro que levantou sua voz contra as balanças fraudadas e os poderosos em camas de marfim), Oséias (da alta classe camponesa, combateu o culto ao deus Baal, o sincretismo religioso e, por ordem de Deus, casou-se com uma prostituta) e Miquéias (camponês que denunciou as autoridades políticas, judiciais, militares e religiosas de Jerusalém).

Numa visão mais contemporânea, pode-se creditar o termo profeta a grandes líderes como Martin Luther King (líder do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos), Nelson Mandela (feroz opositor do apartheid na África do Sul), Mahatma Gandhi (com sua política pacifista na independência da Índia), dom Paulo Evaristo Arns (com  coragem e fé lutou ao lado dos perseguidos e marginalizados, e nossas queridas Santas Tereza de Calcutá e Irmã Dulce dos Pobres, canonizadas pelo seu belíssimo trabalho assistencial e humanitário.

Mas será que só os grandes podem ser profetas neste nosso mundo? De grandes estaturas, de grandes atos, de grande heroísmo? Definitivamente, não. Ser profeta está além de fazer previsões, operar curas, falar em línguas ou outras atribuições que damos a pessoas divinamente iluminadas. Ser profeta é ser, pura e simplesmente, um homem e uma mulher de esperança. Que atua sem meios-termos, mas de maneira direta e sincera. E com verdade.

É a mãe que trabalha fora o dia todo e chega em casa, mesmo cansada, e dá amor, atenção e orientação aos seus filhos. É ser o assalariado que ganha seu pão honestamente pensando tão e somente em dar um futuro à sua família. É o empresário que trata com justiça seus empregados e lhes estende a mão em momentos de apuro. É o filho que respeita os pais e se dedica a honrá-los incondicionalmente. É o avô que toma o neto em seu colo e, com afago, transmite sua sabedoria e seu carinho. É todo aquele que se indigna com as injustiças sociais e age na comunidade para transformá-la. É quem, com espírito verdadeiro, age na certeza de que o mundo pode ser um lugar melhor e mais digno de se viver. É olhar para o seu semelhante e realmente ver no outro a figura do próximo.

Não é fácil ser um profeta. Não é fácil ser um ser humano que irradia a sua esperança nos ambientes em que vive. Mas é só por meio dessa ação profética que é possível dar sua contribuição, ainda que pareça minúscula, para quem está à sua volta e para as futuras gerações.

Que possamos ser profetas do Apocalipse, por que não? Não o Apocalipse do fim do mundo, mas no sentido grego da palavra – Revelação – e desvelar um mundo realmente possível de compreensão e caridade, em contraponto às polarizações e ao ódio.

Sejamos profetas no dia a dia, independentemente de credo. Seja homem, mulher, negro, branco, evangélico, católico, espírita ou ateu: todos nós podemos ser homens de esperança.

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