ARTIGO

O dia em que a Terra parou

O dia em que a Terra parou

Por Carlos Eduardo

Por Carlos Eduardo

Publicada há 4 anos

“Essa noite, eu tive um sonho de sonhador

Maluco que sou, eu sonhei

Com o dia em que a Terra parou...

Foi assim

No dia em que todas as pessoas

Do planeta inteiro

Resolveram que ninguém ia sair de casa

Como que se fosse combinado em todo o planeta

Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém.

O empregado não saiu pro seu trabalho

Pois sabia que o patrão também não tava lá...

E os fiéis não saíram pra rezar

Pois sabiam que o padre também não tava lá

E o aluno não saiu para estudar

Pois sabia que o professor também não tava lá

E o professor não saiu pra lecionar

Pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar” (Trechos da canção intitulada “O dia em que a Terra parou”, do saudoso e sensacional cantor e compositor Raul Seixas).

Quem diria que a letra dessa canção poderia ser considerada uma profecia nos dias atuais?

O dia em que a Terra parou, ou melhor, nesses dias em que ela parou, quem imaginou que veríamos as ruas tão desertas em plena luz do dia em um dia útil? Inclusive nas maiores cidades do mundo. 

Quem imaginou que São Paulo, a cidade que nunca dorme, iria dormir? Até Nova York, a cidade que nunca para, parou.

Nesses dias em que Terra parou, quem sonhou que veríamos os pássaros, outrora trancafiados em gaiolas, com a liberdade que hoje, os homens, não possuem por estarem reclusos em suas casas?

Quem apostou que até o ar ficaria mais puro em megalópoles poluídas pela fuligem?

Nesses dias em que a Terra parou, quem imaginou que os canais de Veneza voltariam a ficar cristalinos? Até os cisnes apareceram por lá.

Passou pela cabeça de alguém que o distanciamento social seria um ato de união? Que o isolamento salva vidas? Quanta ironia! 

Nesses dias em que a Terra parou, quem poderia pensar que gestos tão singelos, como um abraço, um beijo, o encontro com os amigos e os parentes pudessem colocar a nossa vida em risco? E como esses hábitos estão fazendo falta! 

Quem adivinhou que ficaríamos mais tempo em casa do que em nossos ambientes de trabalho? Que teríamos mais tempo para os filhos do que para os compromissos profissionais?

Quem poderia imaginar que o orgulho dos homens seria abalado por algo que de tão pequeno chega a ser invisível?

Quem diria que o inimigo implacável e invisível faria líderes de grandes nações parecerem crianças assustadas? Faria o Papa, sozinho, pedir perdão pelos nossos pecados na imensa praça São Pedro, no Vaticano. Faria judeus e muçulmanos se darem as mãos.

Quem poderia prever que vivenciaríamos o pandemônio de uma pandemia? 

Nesses dias em que a Terra parou, e não sabemos ao certo quando ela voltará a girar como antes, nunca desejamos tanto a volta da velha rotina.

Nesses dias em que os fiéis não estão nas igrejas, os alunos não estão nas escolas, o professor não saiu para lecionar e o empregado não saiu para trabalhar também são aqueles em que ratificamos uma grande lição, a de que a vida é o nosso bem mais precioso e, por ela, vale a pena qualquer sacrifício.


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