PANDEMIA

Com 7 mil habitantes, Jaci tem 70 casos de Covid-19

Com 7 mil habitantes, Jaci tem 70 casos de Covid-19

São 9,9 pacientes a cada mil habitantes

São 9,9 pacientes a cada mil habitantes

Publicada há 4 anos

Aposentado Delson Morgado. "Não tenho medo. Saio dos lugares e tiro (a máscara). Eu fico mais em casa. Moro eu, Deus e Nossa Senhora" - Johnny Torres

Da Redação

Normalmente, Jaci, com seus 7 mil habitantes, é uma cidade tranquila. Impressionantes 70 casos confirmados de coronavírus no município, no entanto, colocaram os moradores dentro de casa, tornando as ruas ainda mais vazias. Proporcionalmente, são 9,9 ocorrências positivas a cada mil habitantes, bem mais que a taxa de 0,34 caso a cada grupo de mil pessoas de Rio Preto. O sino da igreja fechada e sem fiéis é um dos únicos sons que se ouve na praça, por onde as pessoas passam sozinhas ou em dupla. Os poucos que se arriscam a sair estão, na maioria das vezes, com máscaras - e quase sempre é para resolver alguma coisa necessária.

Caso do aposentado Celso Martins, de 71 anos. "Vim ao banco porque sou obrigado a vir, vou ao mercado, os filhos trabalham e minha mulher tem 66 anos. Conheço uma moça que ficou doente, ela deve estar amoitada", diz ele, que afirma não ter medo, mas garante estar se cuidando. "Saio de máscara, estou lavando bastante a mão. Deus me livre, uma coisa dessa nunca vi na minha vida. A gente não pode vir na igreja que não está tendo missa."

A dona de casa Ana Paula Francis Madalena, de 32 anos, procura deixar o máximo de coisas possível para resolver quando sai de casa, assim vai para a rua menos vezes. Quando volta, o sapato fica do lado de fora e a roupa vai direto para a lavagem. "Tenho medo da doença. Tenho uma criança de 6 anos que é autista."

Os amigos José Osmar Guimarães e Joaquim José Rodrigues, ambos aposentados de 69 anos, divergem sobre o coronavírus - o primeiro tem medo, o segundo nem tanto, porém, sentados para prosear no banco da praça, ambos estavam de máscara e asseguram que tomam os cuidados para evitar a Covid-19.

Delson Morgado, aposentado de 78 anos, foi flagrado com a máscara no bolso. Ele conta que não gosta de usar e nem consegue. "Não tenho medo. Saio dos lugares e tiro. Eu fico mais em casa. Moro eu, Deus e Nossa Senhora. Tenho um joelho que atrapalha e tomo remédio para diabetes e pressão."

Na loja onde Guilherme Lucas Cesário Guimarães, de 29 anos, trabalha como vendedor, os clientes ficam da porta para fora. Ele atende na entrada, atrás de uma barreira e munido de máscara e álcool em gel. "Estou tranquilo. A porta está aberta, mas ninguém entra. Não conheço ninguém que ficou doente."

Onde estão os pacientes

O primeiro caso de coronavírus foi confirmado em Jaci em 8 de abril. De acordo com Frank Hulder de Oliveira, secretário de Saúde, trata-se de um profissional de saúde residente da cidade, mas que trabalhava em Rio Preto. Essa pessoa teve contato com funcionários que trabalham no Hospital-Lar Santa Catarina na Providência de Deus, que abriga pessoas com deficiência. O surto começou ali.

A cidade contabiliza sete casos entre profissionais de saúde, sendo um da pessoa que trabalha em Rio Preto e o resto de funcionários da Associação e Fraternidade Lar São Francisco de Assis na Providência de Deus. Há nove ocorrências entre religiosos ligados a obras e que residem nas instituições; oito pacientes que vivem no hospital e 46 casos são de pacientes da Casa de Recuperação, pessoas que estão em tratamento contra o vício em álcool e outros entorpecentes e que vieram de outras cidades em sua maioria. O surto localizado na instituição é a explicação para a maioria das pessoas não saber quem são os pacientes.

Doze pessoas são consideradas curadas e o restante ainda está em quarentena. Três pacientes estão internados na UTI do Hospital de Base, em Rio Presto, sendo um morador do Hospital-Lar, um frei e um postulante à vida religiosa.

Frei Jerônimo Morais Sousa, de 37 anos, teve alta nesta terça-feira, 5. Ele é formador dos postulantes e cuida da paróquia São Benedito. "Estou bem recuperado, me encontro na Casa da Herança. Não apresento nenhum sintoma. Tive febre, dor de cabeça e tosse e um pouco de falta de ar. Nos primeiros dois dias fiquei um pouco mais debilitado", recorda.

Ele diz que foi uma surpresa receber o diagnóstico e que teve auxílio médico, inclusive com remédios. "É uma realidade do mundo e não estamos isentos. Estamos na linha de frente em ajudar o próximo, estamos abertos a adquirir."

Mesmo sem a garantia de que não há possibilidade de uma reinfecção, Jerônimo pretende continuar atuando. "É nossa missão, claro que tomando todos os cuidados. Acho que isso é o mais importante, sempre usar máscara, fazer a higienização das mãos."

De acordo com Guilherme Pinto Camargo, diretor técnico médico da Associação, os pacientes do Santa Catarina foram colocados em isolamento quando a crise se instalou. Já todos os pacientes da Casa de Recuperação, que fica em outro lugar, inclusive os assintomáticos, foram testados quando alguns começaram a apresentar os sintomas, em uma parceria com o HLAB, o laboratório do Hospital de Base de Rio Preto. Todos os positivos foram isolados então no São Benedito, um espaço que a Fraternidade possui para os encontros religiosos, com equipe de enfermagem o tempo todo à disposição. Todos foram assintomáticos ou apresentaram sintomas leves e estão em isolamento, porém com boa evolução.

"A gente passou por um momento muito difícil. O cenário agora é teoricamente controlado por causa dessas medidas de enfrentamento que tivemos", diz Camargo, destacando a parceria com as Prefeituras de Jaci e Rio Preto, com o Departamento Regional de Saúde (DRS) e com o Hospital de Base.

Frei Francisco Belotti, superintendente da Associação, conta que definiu três verbos desde o início da crise do coronavírus: enfrentar, acolher e cuidar. "É o que a gente tem procurado fazer em toda a história, todas as nossas 70 obras estão no enfrentamento da Covid-19. Jamais imaginei que nós como cuidadores teríamos que virar o barco e ser cuidados. São Francisco foi atrás das pessoas que tinha hanseníase, cuidou delas. Era contagioso e símbolo da maldição. Como ser franciscano e não cuidar disso?"


Fonte: Diário da Região

últimas