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O desafio de ser mãe superando o diagnóstico de câncer na gestação

O desafio de ser mãe superando o diagnóstico de câncer na gestação

A jornalista Tatiana Brandini enfrentou a batalha para vencer a doença que provoca emoções tão opostas à alegria de gerar uma vida

A jornalista Tatiana Brandini enfrentou a batalha para vencer a doença que provoca emoções tão opostas à alegria de gerar uma vida

Publicada há 3 anos

Breno Guarnieri

O diagnóstico do câncer de mama é sempre muito traumático e assustador para todas as mulheres que descobrem a doença. Muitas vítimas do câncer são mães de família, cuidam da casa e têm diversas tarefas profissionais no dia a dia. É o caso da jornalista Tatiana Brandini, 41 anos, de Fernandópolis. Sempre ativa, tanto em casa, quanto profissionalmente, ela reverteu a história, com o apoio fundamental da família no período de tratamento.

O Extra: Quando a doença foi descoberta? Qual foi a sua primeira reação?

Tatiana: Depois de acompanhar um nódulo por 4 anos e ouvindo que era um cisto de água, foi feita a biópsia no caroço que cresceu no seio esquerdo. O câncer de mama já estava avançado quando descoberto. Não foi nada fácil cair a ficha e desculpar os médicos que não suspeitaram do cisto dizendo que era estético. Foi tudo muito rápido. Só me preocupei em garantir o tratamento e começar os exames. Com um mês do diagnóstico, descobrimos a gravidez e então não fiz ressonâncias e tomografias para proteger a bebê. Tirei toda a mama esquerda, pele e musculatura quando a gestação tinha 14 semanas e comecei as quimios na 17ª. 


O Extra: Como você descreve o desafio de ser mãe superando um câncer na gestação?

Tatiana: Foi o que mais me ajudou, com certeza. Tanto física, como emocionalmente. Estava com 40 anos e queria engravidar de novo. Embora não tenha sido planejada, a gravidez foi meu maior remédio. Deu-me muita disposição, percebia que outras pacientes sofriam mais os efeitos do tratamento do que eu. Tenho uma filha de 16 anos e para ela também foi bom pensar mais na irmã que chegaria do que na mãe doente. Nossa Agatha é a nossa dádiva. Ela nasceu muito saudável e assim permanece. É uma criança muito feliz e muito amada. 


O Extra: Devido à realidade que se vivia antigamente, qual a sua avaliação sobre o estigma de que o câncer na gravidez não teria cura?

Tatiana: A placenta é maravilhosa, Deus pensou em tudo. Ela não deixa a quimioterapia entrar no útero e por isso o tratamento contra o câncer é possível durante a gravidez. Mas a cura, depende do estágio da doença quando a paciente engravida. No meu caso, engravidei quando o câncer de mama já estava avançado. Quando a bebê tinha 12 dias descobrimos as metástases na minha cabeça, ossos, fígado e quadril. Não tem cura. Virou uma doença crônica. Continuo o tratamento, fiquei sem poder pegá-la no colo por 5 meses. Quando os médicos liberaram, no mês passado, foi minha grande vitória. Tenho reações aos medicamentos, que são muito fortes e tomo morfina a cada 4 horas. Mas cuidar da Agatha e da Lorena faz o tempo passar e com isso a doença fica sempre em segundo plano. Tenho muita gratidão por poder passar o Dia das Mães com as minhas filhas e a minha mãe que tanto me ajudam a ser feliz. Minha avó, minha sogra e a mãe dela também me ajudam bastante com a Agatha. Tenho muito apoio da família e dos amigos. O câncer me reforçou tantos laços. Tenho tanta gratidão pelas manifestações pela Internet, os grupos de oração que me ajudaram demais e as inúmeras pessoas que oraram por mim sem nem me conhecer. Essas preciosas orações me ajudam a vencer cada etapa. 


O Extra: Durante a gestação qual foi a sua maior preocupação?

Tatiana: A cada ultrassom um frio na barriga até saber que a Agatha estava bem. Os radiologistas comemoravam conosco. Era delicioso fazer os exames de imagem dela, só notícias boas. Mesmo tendo 41 anos, a gestação foi super tranquila, fui para o parto com a placenta em nível um. Não me preocupei com a gravidez, a verdade é que ela só me ajudou porque o corpo desperta o seu melhor e minha imunidade nunca baixou na gravidez. A anemia veio depois do parto, mas é normal, e os medicamentos que tomo hoje são muito mais fortes. Mas graças a Deus que estão sempre disponíveis no Hospital do Amor de Jales, onde faço o tratamento e sou muito bem tratada, assim como todos que precisam do hospital. Cada doação feita ali, é muito bem empregada. 


O Extra: O tratamento de uma paciente gestante tem peculiaridades e exige cuidados especiais? 

Tatiana: Sim, como os exames de imagem com contraste, como ressonância e tomografia. Esses não pude fazer durante a gestação e ficamos sem saber da evolução da doença. Também não pude tomar um antídoto contra o subtipo de CA de mama porque prejudicaria a bebê. Mas não atrapalhou. Cada caso é um caso. Conheci pacientes que fizeram o tratamento completo e tinham o mesmo subtipo que eu, mas que não resistiram às metástases. Agradeço imensamente a Deus pela oportunidade que me é dada todo dia. Nada acontece sem a permissão divina. 


O Extra: Depois que tudo passou, após o parto, como você se sentiu em relação às emoções da maternidade?

Tatiana: Eu sou uma mãe super coruja, então foi só felicidade poder cuidar de uma bebê tão boazinha que nunca teve cólicas de madrugada, por exemplo. Não tive tempo pra pensar muito, porque o tratamento já recomeçou depois que ela nasceu. Muitas idas a Jales e Barretos e uma vontade enorme de voltar pra casa. A minha mãe me ajudou demais ficando com a Agatha pra eu ir ao hospital. O meu marido foi fundamental, sempre me fez acreditar que eu poderia ir além e fui. Foi ele que muitas vezes me levantou, empurrou a cadeira de rodas e me carregou. A experiência da maternidade também me ajudou bastante. Ter uma adolescente fez a diferença. Quis viver mais por elas também. Minha filha mais velha ama demais a irmãzinha e isso me conforta, saber que elas tem uma a outra. Sem dúvidas, ser mãe é maravilhoso, ser o portão de chegada de alguém ao mundo. É a oportunidade de ensinarmos o que aprendemos na vida e aprender com os filhos, que nos ensinam sobre amar e ser amado, o tempo todo.  Hoje eu poderia estar deitada numa cama reclamando das dores, mas não tenho tempo porque minhas filhas me ocupam o tempo todo e, quase que sem saber, na pura inocência, fazem a minha vida muito mais feliz e colorida.

“Tenho muito apoio da minha família e dos amigos. O câncer me reforçou tantos laços”, salienta Tatiana Brandini 

 

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