DESAFIOS

“Irmandade é para tomar cerveja no bar, a Santa Casa precisa de gestão empresarial”, declara juiz interventor

“Irmandade é para tomar cerveja no bar, a Santa Casa precisa de gestão empresarial”, declara juiz interventor

“Não irei levantar a intervenção até o fim das eleições deste ano, pode ficar para 2023”, afirma Dr. Vinicius Castrequini Bufulin

“Não irei levantar a intervenção até o fim das eleições deste ano, pode ficar para 2023”, afirma Dr. Vinicius Castrequini Bufulin

Publicada há 2 anos

João Leonel

Na manhã da última segunda-feira (14), o juiz Vinicius Castrequini Bufulin, titular da 2ª Vara Criminal da Comarca, concedeu uma entrevista exclusiva ao “O Extra.net” para falar sobre os mais de 2 anos de sua atuação como interventor judicial da Santa Casa.

O magistrado falou sobre os números alcançados pela equipe que administra o hospital, tendo no cargo de provedor o administrador judicial Marcus Vinicius Paço Chaer.

Dizendo-se surpreso com os índices apresentados por Chaer, acredita que a Santa Casa pode sim se recuperar financeiramente e se manter como um hospital de referência na região, mas não tem dúvida de que o estatuto da instituição deve ser atualizado e preparado para novas gestões da própria sociedade, quando levantar a intervenção.

Bufulin foi direto ao considerar superado o modelo de “irmandade” como associação social capaz de gerir a Santa Casa, indicando que o caminho é administrar o hospital como uma empresa e que não levantará a intervenção antes do fim das eleições de outubro, cravando que o hospital “era usado para fins políticos”.

Deixa claro também que não vê a necessidade de que isso tenha que acontecer ainda esse ano, pois muita coisa ainda vem pela frente com o caminhar das investigações, em pleno andamento, tanto por parte da Polícia Civil quanto do Ministério Público, que deverá oferecer novas denúncias a seu juízo e inúmeros processos serão iniciados.

As rédeas do atual modelo de gestão, que mantêm as finanças, recursos humanos e todos os demais setores administrativos da Santa Casa sob “lupa”, são comandadas pelas mãos de Vinicius Castrequini, através de um trabalho intenso e de total dedicação na condução do hospital.

O destino é resguardar a Santa Casa para o futuro, promissor como indicam os primeiros passos da gestão implantada por Marcus Chaer, o que garante, pelo menos, que o hospital não seja, hoje, uma mera lembrança do passado.

O EXTRA: Como surgiu a intervenção judicial da Santa Casa?

DR. VINICIUS: O Ministério Público, através do promotor de Justiça Daniel Azadinho, e o delegado que comanda as operações da Delegacia Seccional, Dr. Ailton Canato, pediram a intervenção. Considerei genial. A primeira vez que acompanhei uma intervenção foi na época das investigações da Máfia do Asfalto, com atuação do juiz Evandro Pelarin, quando Titose Uehara foi o gestor judiciário de algumas empresas do Grupo Scamatti. O Titose também foi gestor durante intervenção na FEF. Nunca imaginava que fosse acontecer na Santa Casa.

O EXTRA: E a nomeação, e manutenção, de Marcus Chaer como gestor judicial na Santa Casa?

DR. VINICIUS: Um gestor judiciário, via de regra, é uma pessoa de confiança do interventor. Mas nunca tive proximidade com algum membro da direção do hospital, e quando baixamos a intervenção, ele já estava, embora há pouco tempo, no cargo de provedor. E continua. No início só recebia feedback positivo sobre ele, e, mais do que alguém de confiança, naquele momento eu precisava de alguém eficiente. Algumas coisas, ele e sua equipe, foram aprendendo. Então o Chaer foi mantido no cargo mais por mérito, do que por confiança, porque eu ainda não o conhecia.

O EXTRA.NET: Como recebeu os números do superávit divulgados no Balanço Patrimonial do hospital semana passada?

DR. VINICIUS: Fiquei surpreso. Tratei de valores que passavam de R$ 2 milhões de prejuízo há pouco tempo. Fiquei surpreso muito positivamente. Um superávit pode ajudar a atrair novos parceiros, e isso também pode gerar uma barreira para que futuros gestores cometam crimes. Vai ficar a questão de que, ‘olha, com a intervenção não acontecia isso’. Dá para ter certeza de que a Santa Casa tem sim condições de se manter.

O EXTRA: O que pode ser destacado nessa trajetória de pouco mais de 2 anos até o superávit?

DR. VINICIUS: Em primeiro lugar, é o modelo de gestão. Irmandade é para tomar cerveja no bar, para administrar uma empresa tem que ser profissional, e a Santa Casa está sendo administrada como uma empresa. Esse é o ponto fundamental. Não temos mais médicos caciques, cabides de emprego, acabamos com isso. O hospital está blindado para certas ações, durante muitos anos foi usado politicamente, cheio de apadrinhamentos, cargos por indicação política, um absurdo, quem colocava apadrinhado era a própria irmandade. O usuário do SUS poderia, a qualquer momento, se deparar com um funcionário desqualificado, e acabamos com os apadrinhamentos. Se o deputado ficar sem cobrar emenda enviada já é um grande lucro. Posso afirmar que alcançamos uma independência política.

O EXTRA: E como manter essa independência política?

DR. VINICIUS: Será muito difícil, pois o hospital terá vínculos com entidades locais, que têm vínculos com a política. No entanto, o corpo jurídico deve atualizar o estatuto da Santa Casa. Devem ser apresentadas propostas para mudanças no estatuto. Eu não posso impedir um sujeito de cometer um crime, mas posso criar mecanismos e ter em mãos dispositivos para ficar mais fácil descobrir um crime. Descumprir deveres é um crime paralelo ao do roubo, então temos que facilitar a descoberta do descumprimento de obrigações e impor punição a futuros crimes.

O EXTRA: E até quando vai a intervenção?

DR. VINICIUS: Acredito que vai mais um ano. Com certeza não levantarei a intervenção até o fim das eleições. Estamos em ano eleitoral, então, como o hospital já foi muito usado politicamente, é uma decisão. São 36 mil páginas nos autos desse processo da Santa Casa, vem muita coisa pela frente. Arquivamento acho inviável, então acredito que o MP vá oferecer denúncias, muitas pessoas ainda devem ser denunciadas.

Registro da entrevista virtual que o juiz Vinicius Castrequini concedeu na última segunda-feira

 

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