Dizem os pescadores mais velhos, que certo dia apareceu um sujeito todo granfino e endinheirado, na antiga Colônia de Pescadores, que ficava na margem paulista do rio Grande, bem ali, pouco abaixo da ponte de Água Vermelha, onde antes era o antigo Porto da Quiçaça. O sujeito queria contratar um pirangueiro para pescar embarcado na região da Cachoeira dos Índios.
Acabou acertando com o Índio Pescador, um dos mais antigos barqueiros daquela colônia e também conhecedor como poucos, das perigosas e traiçoeiras corredeiras dos tombos da Andorinha e da Fumaça na antiga cachoeira. Foram pescar perto do Tombo da Andorinha. E o granfino começou puxar conversa com o pirangueiro: -- “Seo” Índio, o senhor por acaso sabe o que é filosofia? E o caboclo na sua simplicidade
– Num sei quiqui é isso, não, seu doutô!.
--Ih, então o senhor perdeu uma grande parte da sua vida. A Filosofia nos faz ver a vida de forma inteiramente diferente! Por acaso, leu os principais clássicos da literatura brasileira?
--- Qui jeito doutô... eu nunca botei o pé na escola, num sei nem lê e escreve!. E o almofadinha, todo cheio de saber e cultura, repicou:
---- Ah, então o senhor perdeu outra grande parte da sua vida. A literatura é uma coisa maravilhosa! Ah, os romances, os contos, a poesia.... O senhor, alguma vez já foi ao teatro, “seo’ Índio?
---- Nunca fui, não sinhô. Tamém num sei quiquié isso não, doutô...
---- Nossa, que pena, “seo” Índio... então o senhor perdeu praticamente a outra metade da sua vida! Assistir peças de teatro é uma sensação sublime, inigualável! É a vida retratada num palco! E o senhor, por acaso já... Foi nessa hora que o Índio Pescador, pedindo licença, interrompeu o sabichão, perguntando:
---- Me diz uma coisa, seu dotô, ocê “por acauso”, sabe nadá?
---- Não, nadar eu não sei, não. Mas, por quê o senhor está me perguntando isso? ---- Ara, doutô, intão o sinhô perdeu a vida inteira, porque o nosso barco tá afundando!!!