Claudinei Cabre

Férias na fazenda

Férias na fazenda

Por Claudinei Cabreira

Por Claudinei Cabreira

Publicada há 7 anos

No começo do ano, assistindo um noticiário na TV, vi uma reportagem que mostrava um grupo de crianças pequenas em férias, visitando pela primeira vez na vida uma fazenda. O dono da propriedade que fica na região de Campinas, resolveu transformar sua fazenda em um acampamento de férias. Inteligente, montou um tipo de hotel fazenda, com um roteiro de visitação muito interessante. Os pequenos, todos aí por volta de seis ou sete anos de idade, se encantavam com tudo que viam pela frente. Para eles, tudo aquilo era uma grande novidade. Uma aventura e tanto. E com toda certeza não vão se esquecer daquele passeio tão cedo.


Pude ver nitidamente a expressão de espanto e encantamento naqueles rostinhos felizes, até então, acostumados a uma realidade totalmente oposta. Pensando bem, é dura e muito triste a vida das crianças na cidade grande, hoje em dia, presas o tempo todo nos apartamentos, nas escolas, com as agendas cheias de aulas disso e daquilo, e quando podem, passam o pouco tempo disponível brincando com essa parafernália eletrônica e digital. Aliás, já ouvi por algumas vezes a modernosa expressão que essa meninada mais nova é a tal da “geração digital”.


Um menino mostrou os pés sujos de terra e lama, dizendo que achava o máximo andar descalço, pisando num chão de terra, num chão de verdade. Uma menininha ficou espantada ao ver um funcionário da fazenda, tirando leite de uma vaca no curral. Para ela, aquilo sim era novidade. Contou que achava que o leite já vinha pronto, dentro das caixas. Outro menino com os olhos brilhando de alegria mostrava meio que emocionado, uma cenoura que havia apanhado na horta. Tirei do chão, dizia feliz, mostrando seu troféu para os amiguinhos! Ele também nunca imaginou que a cenoura crescia debaixo da terra.


E o banho de riacho, então? As crianças caíram na água fazendo a maior farra e acharam que nadar no rio era muito mais legal e “massa’, do que nadar na piscina do clube ou do condomínio. Claro, até porque aquela água não tinha cloro, nem ardia nos olhos! Depois, mostravam encantadas, a maior das descobertas: podiam se dependurar num cipó, igual nos filmes de Indiana Jones e cair lá no meio, bem dentro do rio!

Na sequência, a reportagem mostrou um funcionário da fazenda tocando um sino, chamando todos para o almoço. Antes de seguirem para o galpão, onde havia uma grande mesa, todos passaram pelo pomar e apanharam laranjas, tangerinas e mamão, para a sobremesa. E ali, pela primeira vez na vida, aquele grupo de crianças da cidade grande pode provar o verdadeiro sabor da comida caipira feita no fogão à lenha, com produtos naturais produzidos e colhidos na própria fazenda. Todos se fartaram à vontade e acharam o máximo a comida da roça!


Depois do almoço, acompanhadas pelos monitores da escola e da fazenda, as crianças foram para a sala de descanso, e um dos meninos vendo uma televisão antiga ficou intrigado com o tubo existente atrás do aparelho. Afinal, a TV da casa dele era muito diferente e, cá com meus botões, imagino que no mínimo era de plasma. E ele queria, porque queria, saber por que razão aquela TV esquisita tinha aquele tubo enorme lá atrás! 


Impressionante mesmo foi ver a meninada comportada, mas ansiosa, esperando em fila indiana a vez de dar uma voltinha na charrete da fazenda. Andar naquela coisa pré-histórica, puxada por um cavalo de verdade, era o acontecimento mais incrível do mundo. E aquelas criaturinhas adoráveis, que imagino acostumadas ao conforto de carros de luxo, estavam realmente encantadas com a experiência de um passeio numa charrete, dessas que com um pouco de sorte, a gente ainda vê rodar pela periferia das cidades do interior.


A reportagem acompanhou o dia da meninada e pouco depois do jantar, logo que caiu a noite, todos foram para o terreirão da fazenda, onde, ao pé de uma fogueira, acompanhavam atentos e boquiabertos as narrativas de um contador de causos. Enrolados em mantas, por causa do frio, em certos momentos, conforme a narrativa e o desenrolar da história, escondiam a cabeça debaixo dos cobertores. E não era para menos, claro. Afinal, aquelas crianças nunca haviam ouvido estórias de assombrações e de outros bichos terríveis como onças pintadas e mulas sem cabeça...


No final do passeio de uma semana, os repórteres da TV foram entrevistar os pequenos e ouvir a opinião deles sobre o que haviam achado daquela aventura maluca. Todos disseram de boca cheia que adoraram o passeio e que aquelas férias sim, haviam sido maravilhosas, as mais fantásticas de suas vidas. Pena que durou só uma semana, reclamaram alguns. E pensar que nós vivemos nossa infância inteira assim, fazendo da natureza a extensão do quintal das nossas casas, o nosso verdadeiro playground. Semana que vem tem mais. Até lá.

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