O ESPORTE É O

Um erro, um olhar diferente e um lugar no pódio da vida

Um erro, um olhar diferente e um lugar no pódio da vida

Publicada há 7 anos

Weuller Queiroz, Juninho, a mãe e equipe que apoia e incentiva o atleta fernandopolense



Por Jorge Pontes


Há anos o esporte é associado à socialização, embora os governantes não levem essa ideia tão a sério após as promessas eleitorais. No entanto, na contramão do interesse político e até mesmo financeiro o esporte continua contribuindo para que boas histórias sejam contadas num enredo de transformação de conduta e socialização por meio dele. 


Em Fernandópolis, já rotulada pela imprensa como “Capital do Powerlifting” – Levantamento de Peso-, mais um talento promissor tem dado provas de que o esporte é a ferramenta do século para a recuperação de jovens que acabaram trilhando por caminhos tortuosos. Cumprindo medida socioeducativa, Weuller Henrique Franqueto Queiroz, 18 anos, teve seu caminho cruzado com o do empresário Aparecido Junior, o Juninho da Academia Movimento, também alcunhado como o “Pai do Powerlifting”, por ter sido o precursor do esporte na cidade. 


O jovem, que se envolveu em uma ocorrência de receptação de veículo roubado, acabou detido e está na Fundação Casa há quatro meses. Há oito anos o empresário acolhe recuperandos em sua academia, graças à ideia do radialista Jean Braida que enxergou a possibilidade de levá-los para fazer musculação como forma de ressocialização. Sensibilizado com a ideia e abstido de qualquer receio em perder a clientela, Juninho abraçou a causa e estabeleceu a parceria com a Fundação Casa por meio do diretor da Unidade de Semiliberdade,Jaílson Diogo Lermino.“Infelizmente a sociedade ainda tem muito preconceito e não entende que excluí-los é o pior a se fazer. Acabei perdendo alguns alunos, proibidos pelos pais de frequentar uma academia onde havia internos da Fundação Casa treinando. Até mesmo um policial militar, que deveria dar o exemplo, me disse que eu havia acabado de perder mais um cliente quando ele soube que os jovens frequentavam a academia duas vezes por semana”, contou o empresário que ainda lembrou do juiz Evandro Pelarin, à época frente à Vara da Infância e Juventude de Fernandópolis,que frequentava a academia com os jovens para dar o exemplo.


Ele compete o Levantamento Terra em que é preciso tirar a barra do chão e levantar até a altura da cintura



Porém, até aí, Weuller era apenas mais um dentre os vários jovens que frequentavam a academia por meio da parceria. Ele só não sabia que possuía um talento latente e uma força física desproporcional que viria a colaborar para sua força mental e transformação de conduta.


 Com o empenho do dia a dia e a facilidade em aumentar a carga de peso, Weuller chamou a atenção de Aparecido Junior, que além de acumular várias premiações como atleta, também é o responsável por descobrir novos atletas para a equipe Movimento, que representa Fernandópolis em todas as competições do esporte. Juninhopediu para o agente educacional Rubens Francisco da Silva, o “Rubão”, que intermediasse, junto à direção da Fundação Casa, a liberação de Weuller para que treinasse todos os dias, já pensando em prepará-lo para competições de Levantamento de Peso, na modalidade Levantamento Terra, na qual o competidor precisa levantar a barra, do chão, até a altura da cintura. 


Assim, de duas vezes por semana em um treinamento básico com intuito maior de reintegração social, o jovem promissor passou a treinar diariamente com foco nas competições. Também educador físico, Aparecido Junior intensificou o trabalho de fortalecimento das pernas e lombar treinando-o para a Copa Rio Preto de Powerlifting, realizada no último dia 9. Para surpresa da maioria que o julgou, porém já esperado por Juninho, Weuller levantou 160kg, cinco a mais que o segundo colocado da categoria Júnior (até 90kg) e sagrou-se campeão.


 No lugar mais alto do pódio ele provou de um mix de sensações, que variaram entre o sentimento de superação pessoal e de felicidade pelo triunfo logo na estreia. De garoto problema à atleta campeão, Weuller garantiu vaga para a Copa dos Campeões – que ocorre no dia 13, em Ipuã-SP-, e poderá, inclusive, representar Fernandópolis em sua categoria na Etapa Brasil do Mundial, que será realizada em São José do Rio Preto, caso figure entre os três melhores. 


Além do exemplo no esporte, o agora “ex-garoto problema” tem se tornado um espelho para outros jovens fora da academia. “Não se pode perder esperanças, sempre tem uma saída para tudo, mas é preciso ter força de vontade. Eu soube aproveitar a oportunidade e fico feliz em saber que depois de tudo isso que passei, agora tem gente que ainda se espelha em mim. Sou grato ao Juninho que me olhou com outros olhos, enquanto a maioria me condenava”, disse Weuller.


A mãe, por sua vez, ainda enche os olhos de lágrimas para falar sobre a transformação do filho. “Ele sempre foi um excelente filho, mas acabou se envolvendo com pessoas erradas. Não existem filhos perfeitos, por isso não se pode abandoná-los. Fico feliz com a recuperação dele e ainda mais por saber que disso tudo tiramos uma grande lição. Hoje ele é mais atencioso, responsável e tem disposição para tudo. Há males que vem para bem. Hoje ele até arruma a sua cama”, brincou. 


Após um período fora da escola, ele voltou a estudar, foi aprovado para o 1º colegial e já projeta uma faculdade de educação física. “Ele é só mais um exemplo de que é preciso recuperar o jovem. Se houvesse mais incentivo em projetos sociais e esportivos o índice de criminalidade cairia ainda mais”, destacou Rubão. Além da atenção de Juninho e de Rubão, o atleta é avaliado uma vez por semana pelo fisioterapeuta Gabriel Ramos Lopez Andrade e recebe acessórios para o treino e suplementação de Gilmar Amaro, gerente da Max Muscle de Fernandópolis. “Vamos explorar tudo de bom que ele pode render. Desde que abri as portas para esses jovens infratores, há oito anos, eu dizia que uma hora apareceria um atleta diferenciado, um campeão. Acredito muito nele e na próxima competição vamos mandar 170kg na barra”, brincou Juninho. Confiante de que foi uma escolha acertada acolher os jovens em sua academia, sem temor de perder alunos para o preconceito, Aparecido Júnior garante que a satisfação em ajudar é maior que o medo de perder dinheiro. “Infelizmente 70% das pessoas são contra. Mas, quanto mais falam mal, mais tenho vontade de ajudar. Também tenho filho e nunca se sabe o dia de amanhã. Enquanto eu tiver academia haverá essa parceria”, destacou.  









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