Histórias do T

Lembra das eleições de antigamente?

Lembra das eleições de antigamente?

Por Claudinei Cabreira

Por Claudinei Cabreira

Publicada há 7 anos



Desde que me conheço por gente, e olhe que faz um tempo danado, a política local sempre foi carregada de paixão, tornando-se desde há tanto tempo, que nem me lembro, uma das mais agitadas e disputadas de toda a região, fosse qual fosse a eleição. Nas campanhas municipais, então nem se fala.Os grandes comícios, sempre com discursos inflamados, ditavam o tom e a temperatura das campanhas. Eram tempos animados.


Até onde alcança minha memória, a cidade sempre viveu dividida entre dois grupos políticos; situação e oposição. Havia a turma “do a favor” e a turma “do contra”. Mais ou menos como na festa folclórica de Parintins; ou você torce pelo “Boi Garantido” ou pelo “Boi Caprichoso”. Ou você é azul ou é vermelho. A cidade cresceu e ao longo dos anos as coisas se acomodaram um pouco.


Mas, antigamente, aqui era assim. E para o lado que o chefe-de-família “pendia”, a família inteira rezava na mesma cartilha. Nos anos sessenta, por exemplo, ou você era Adhemarista (Adhemar de Barros) ou era Janista (Jânio Quadros). Aí, aqueles que eram simpatizantes do lendário Dr. Adhemar, aqui eram “Percilianos”, adeptos e eleitores fieis do Dr. Percy Waldir Semeghini, “O Gato”, pai do nosso Júlio Semeghini. Tinha esse apelido  porque o povo dizia que ele era igual o animal, “tinha sete vidas”.


E havia muitas semelhanças entre Adhemar e Percy. Os dois queriam acabar com a pobreza do povão. Suas esposas, Dona Leonor Mendes de Barros, e Dona Célia Coutinho Semeghini, eram mais parecidas ainda. Dona Leonor era conhecida como a “Dama da Caridade”, e por aqui, Dona Célia, sempre amorosa, era conhecida como a “Mãe dos Pobres”. Tanto que sua residência, sempre estava de portas abertas para os humildes, fosse época de campanha política ou não.


Do outro lado, no cenário nacional, o “furacão” Jânio Quadros, com a sua temida e refinada oratória, agitava o país com o famoso “varre, varre, vassourinha”, mote de sua campanha presidencial em 1960, prometendo acabar com a corrupção. Nessa época, meu pai era “Janista roxo”. Logo, aqui em Fernandópolis, apoiava incondicionalmente o Dr. Fernando Jacob, tanto que era seu cabo eleitoral de carteirinha. Lembro que em 63 chegou ceder a frente de nossa casa, na antiga Avenida Dezesseis, defronte a Volkart, para a realização de um comício.


Naqueles tempos, cabo eleitoral era quase uma autoridade, mais ou menos como um “xerife” do bairro. Não ganhava dinheiro, não pedia cargos na Prefeitura ou qualquer outro tipo de vantagem. Pelo menos meu pai e alguns de seus amigos, eram assim. O trabalho era feito com o coração, com muita paixão. Essas pessoas eram movidas pelo amor à cidade, ao progresso, ao civismo. Cabo eleitoral era uma missão!


Voltando alguns anos atrás, meu primeiro contato com a política aconteceu quando ainda era um mirrado moleque de “calças-curtas”, no ano de 1960. Foi aí na antiga “Praça Coutinho Cavalcanti” (que depois virou Praça da Liberdade, e por último, Praça Dr. Fernando Jacob), onde carregando uma caixa de engraxar sapatos nas costas, assisti a montagem do grande palanque que fechou as duas pistas da antiga Avenida Nove (hoje Av. Expedicionários), na altura do antigo Nosso Bar e Sorveteria e do Banco Brasileiro de Descontos – Bradesco, onde hoje funciona a Padaria União.


Curioso por natureza, vi a praça sendo enfeitada com bandeirolas e faixas, além de cartazes colados nos postes, muros e paredes das redondezas, anunciando a presença da “Caravana da Vitória”, do candidato Jânio Quadros. À noite, o local ficou apinhado de gente. As famílias iam juntas para os comícios e levavam até os filhos pequenos. Eu estava lá, junto com meu pai e meus dois irmãos mais novos. Nessa noite minha mãe não pode ir, porque o então caçula, jornalista e radialista Claudemir Cabreira, era recém-nascido.


Depois do estrondoso comício, encerrado com o inflamado discurso de Jânio, seguido de um ensurdecedor foguetório, meu pai acompanhou o pessoal da comitiva local que levou Jânio até o Bar Heliar, do Carmino Stelucci. O ilustre visitante pediu então um “bauru de carne” e foi comer o lanche, sentado na guia da calçada em frente ao bar!


Ver ali, sentado na calçada, aquele homem tão famoso e importante, que disputava o cargo de presidente do Brasil, comendo um lanche como o mais simples dos mortais, para mim, foi o máximo! Claro que me tornei um pequeno janista, também roxo, igual gente grande!


Bom, Jânio “papou a eleição”, tomou posse, e seis meses e 25 dias depois, tomou um pileque homérico, disse um monte de bobagens, enfiou o pé-na-jaca e o resto da história e as consequências todo mundo conhece. Sobre a famosa campanha de 63, entre Percy e Jacob, prometo que qualquer dia desses eu volto ao assunto. Semana que vem tem mais. Até lá.

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