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Fernandópolis nunca foi para amadores

Fernandópolis nunca foi para amadores

Por Claudinei Cabreira

Por Claudinei Cabreira

Publicada há 7 anos



Não existe desafio maior para o fernandopolense do que conseguir vencer uma eleição para vereador. É uma campanha muito dura e difícil. O grande número de candidatossempre acaba provocando a pulverização dos votos. Afinal, quase toda família tem um membro envolvido na disputa, todo mundo tem um amigo ou um vizinho postulante ao cargo. Na campanha deste ano, acredite se puder, uma família local tem dois candidatos na disputa.


Para se ter uma ideia, na atual campanha temos 138 candidatos concorrendo ao legislativo, sendo que 5 deles estão impugnados pela Justiça Eleitoral. Se os cinco permanecerem afastados da disputa, sobram ainda 133 lutando por 13 vagas, resultando em 10 postulantes por vaga. É o que se pode chamar de um verdadeiro vestibular das urnas.


E para dificultar ainda mais a situação, nesta campanha estão proibidas as doações de ajuda financeira pelas empresas e o aporte de recursos por parte de pessoas físicas, além de raros, são minguados. Além do que, trata-se desta vez de um pleito de tiro curto, com apenas 47 dias de duração. Devido ao espaço reduzidíssimo, o tempo de exposição no horário eleitoral no rádio e nada é quase que a mesma coisa. Por outro lado, o custo de anúncios na imprensa escrita, outdoors, cartazes e carro de som volante, são salgados e proibitivos para a maioria. E distribuir brindes, promover os famosos churrasquinhos, cervejadas, almoços ou jantares com amigos, nem pensar, porque configuram crime eleitoral.


Se no passado os antigos comícios atraíam multidões, hoje eles saíram de moda por várias razões. Primeiro, alto custo e mão de obra para se organizar tal tipo de evento. Segundo, pelo alto risco de não atrair um bom público, o que significa passar recibo de que a campanha está fraca, caindo pelas tabelas. E ainda o perigo iminente de candidatos que discursam na base do improviso, soltarem as famosas abobrinhas como já aconteceu em campanhas passadas. Daí o negócio é partir para o corpo a corpo junto ao eleitorado, gastar muita sola de sapato, distribuir santinhos a torto e a direito e usar e abusar dos espaços das redes sociais.


Mas o quadro já foi bem pior. Houve disputas em Fernandópolis quando o colégio eleitoral era bem menor e o quadro de candidatos bem maior que agora. Numa dessas campanhas, me lembro do lendário Tião Gringa (in memorian), personagem conhecida pela cidade inteira e que convencido pelos amigos,corajoso, lançou-se candidato à vereança. Criativo, anotava num caderninho o nome dos eleitores que manifestavam intenção de voto em sua candidatura. Um dia, na véspera da eleição, ele conferiu o tal caderninho e chegou à conclusão que estava eleito com um pé nas costas, afinal tinha anotado ali mais de cinco mil nomes e só precisava de uns duzentos e poucos votos. Coitado, teve pouco mais de cinquenta votos. Nunca mais se candidatou a nada.


Outros candidatos que tiveram seus famosos caderninhos de “eleitores garantidos”,também acabaram vivenciando a mesma e decepcionante experiência. E isso também se repetiu da mesma forma com muitos daqueles que foram para a disputa nas urnas indicados “com o apoio garantido” de comunidades, associações e entidades. Definitivamente, amigo, disputar campanha para vereador em Fernandópolis não é para amadores.


No passado, quando ainda havia um grande número de moradores na zona rural do município, o conhecido José Nogueira que sempre foi homem simples e de origem do campo, se elegeu vereador na primeira eleição de Newton Camargo e na segunda eleição de Milton Leão, já que a sua proposta de trabalho era voltada para essa gente. Nogueira vivia cobrando dos prefeitos a conservação de estradas e instalação e manutenção de pontes e mata-burros. Quando não era atendido, Nogueira costumava convocar a imprensa, de preferência as emissoras de rádio e lá ia todo mundo para a zona rural. Essa disposição em mostrar serviço em defesa do homem do campo e dos bairros esquecidos da periferia sempre lhe garantiu a fidelidade desse eleitorado. Igual a ele haviam outros bons vereadores que trabalhavam muito e zelavam atentamente pelos interesses da população. Hoje os tempos são outros.


Quem fez história foi o lendário José Akira Massuda, dono de uma máquina de benefício de arroz que acabou transformando o bairro da Brasilândia no seu grande reduto eleitoral. Quem conheceu Massuda sabe que ele era “percyliano” roxo. E quando Leonildo Alvizi derrotou o candidato de Percy Semeghini nas eleições de 68, os vitoriosos saíram festejando em carreata pela cidade. Quando chegaram na Brasilândia fazendo um grande bunizaço e foguetório, o velho nipônico armado de uma carabina 44 postou-se no meio da rua e fez o comboio voltar. E de arma em punho esbravejou: “Aqui no Badirândia de Massuda, esse caravana não passa”. Pelo sim, pelo não, o pessoal resolveu fazer meia volta.


Conta meu amigo Wilson Granella que em outra campanha um fato idêntico se repetiu. Um caminhão lotado de adversários políticos passou em frente sua casa e a máquina de beneficiamento tirando onda com a cara de Massuda. “Não deu outra: sai lá de dentro da mansão, por entre o amplo jardim, o japonês bravo como ninguém, empunhando a mesma carabina 44 e ... passou fogo no povo que estava na  carroceria do caminhão. Foi uma loucura, um Deus nos acuda. Felizmente não acertou ninguém, pois com aquele calibre, furaria uma meia dúzia. A história do tiro do Massuda correu Brasilândia, Fernandópolis e vizinhanças”,  diz Granella.


Aí por conta do tal tiro na carroceria do caminhão, o povo espalhou o boato que deram uma surra no velho japonês.  E as pessoas se divertiam ironizando, dizendo que “massaroa cara do Massuda”. Claro que tudo isso não passou de lenda, ninguém foi lá“acertar a cara” do bravo nipônico, até porque todo mundo tinha um certo receio dele e muito medo de sua famosa e perigosa carabina. Semana que vem tem mais. Até lá.

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