Carlos Eduardo

Solidão - Esse sentimento insuportável a qualquer ser humano

Solidão - Esse sentimento insuportável a qualquer ser humano

Por Carlos Eduardo Maia de Oliveira - Professor e Biólogo

Por Carlos Eduardo Maia de Oliveira - Professor e Biólogo

Publicada há 7 anos

A solidão é fera, a solidão devora. É amiga das horas prima irmã do tempo, e faz nossos relógios caminharem lentos, causando um descompasso no meu coração. A solidão dos astros, a solidão da lua, a solidão da noite, a solidão da rua” (letra da música “Solidão”, composta pelo famoso cantor pernambucano Alceu Valença, em 1984).


O homem não suporta a solidão, pois é um ser social por natureza, por isso sente necessidade instintiva de viver em grupo, de estar em sociedade. Os cientistas que estudam a evolução humana são categóricos em afirmar que foi justamente esta característica, a de viver em grupo, e, com isso, colaborando uns com os outros, uma das chaves do sucesso humano em vencer as adversidades no decurso de sua evolução e, assim, conquistar o mundo, reafirmando seu papel dominante entre todos os seres vivos do planeta.


Em casos extremos, a solidão pode causar transtornos psíquicos gravíssimos e levar uma pessoa a assumir comportamentos típicos de quem está sofrendo com perturbações mentais. Há relatos de náufragos resgatados após meses de solidão, que chegaram à beira da loucura devido ao sentimento de solidão prolongada. Em janeiro de 2015, um pescador salvadorenho de 36 anos, chamado José Salvador Alvarenga, foi resgatado após desaparecer por 438 dias no Oceano Pacífico e, para não sentir solidão, manteve o corpo de seu amigo morto durante seis dias em seu barco, com quem continuava a falar normalmente, ignorando a sua morte. Não tinha coragem para deitar o corpo do amigo ao mar, pois estava com medo de sentir o peso da solidão. “Primeiro, lavei-lhe os pés. Depois o despi, pois a roupa dele era necessária. Vesti a roupa que ele tinha, vermelha com pequenos desenhos, e atirei-o à água. Enquanto fazia, acabei por desmaiar”, confessou Alvarenga em entrevista ao jornal inglês The Guardian.


Para termos uma ideia de como a solidão é um sentimento devastador, o pescador salvadorenho colocou-a, ao lado da fome e sede extremas que sentiu durante sua epopeia, como um dos fatores que lhe causou sofrimento terrível nestes 14 meses de naufrágio no meio do Oceano Pacífico. A solidão também foi abordada, de forma curiosa, no filme “O Náufrago”, estrelado no ano de 2000 pelo ator americano Tom Hanks. Seu personagem no filme, chamado Chuck Noland, após sobreviver a um acidente aéreo, foi parar em uma ilha deserta, tendo como companhia o retrato de sua esposa e uma bola de vôlei. Para amenizar seu sentimento de solidão, transforma essa bola em seu amigo imaginário e a coloca o nome de Wilson (na verdade, o nome da marca comercial da bola) e passa a conversar frequentemente com este objeto.


São várias as motivações da solidão, como por exemplo, a sentida pelos idosos quando seus filhos os abandonam em asilos (neste caso a dor da solidão mistura-se com a da ingratidão, promovida pelos parentes da pessoa idosa) ou a experimentada na viuvez, que a qualquer momento da vida pode nos afetar, marcando-nos pela saudade da perda do ente querido.


Outro tipo de solidão que causa muito sofrimento é a da alma, provocada por problemas psíquicos, como a depressão, por exemplo, cuja incidênciavem aumentando na sociedade nos últimos anos, tornando-se um problema de saúde pública e que, em casos avançados, pode levar a pessoa a atitudes extremas, como o suicídio.


Por fim, a solidão da lua, dos astros e da rua, podem até ser românticas na letra da canção, mas não é nada agradável quando experimentada pelo ser humano, por isso, valorizem a convivência com seus entes queridos e amigos, na família, na igreja, no lazer e no trabalho, e saibam que a vida em sociedade é uma necessidade instintiva que nos caracteriza desde os primórdios.

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