José Renato Se

Arriba Comandante!

Arriba Comandante!

Por José Renato Sessino Toledo Barbosa - Professor

Por José Renato Sessino Toledo Barbosa - Professor

Publicada há 7 anos

Dignidade é a palavra mais adequada para nos referirmos ao Comandante Fidel, falecido nesse sábado.

Tenho certeza que muitos – especialmente os batedores de panelas, coxinhas e congêneres - se arvorarão com a baba do ódio com minha afirmação. Todavia, se conhecerem o mínimo de história, haverão de concordar.

Como as demais republiquetas da América Latina – Brasil incluso -, Cuba era uma ilha da fantasia dos ianques, os quais a usavam como local de veraneio. Curtir suas belas praias, seus cassinos e casas de trovas; ouvir sua música incomum – uma das melhores do mundo -; beber seu divino rum; apreciar um legítimo puro (tabaco). Quer dizer, razões não faltavam.

No entanto, e o povo cubano? Vivia uma sanguinária e corrupta ditadura, sob o comando de Fulgêncio Batista, preboste dos Estados Unidos, que se locupletava com a miséria do povo da ilha caribenha. Não soa semelhante?

Povo miserável, analfabeto, sofrido, enfim, o padrão latino-americano.

Um jovem advogado, Fidel Castro, seu irmão Raul, Camilo Cinfuegos, todos cubanos, além do argentino Ernesto Guevara, organizaram uma ação, cujo objetivo era derrubar a ditadura de Batista.

Em primeiro de Janeiro de 1959 os revolucionários de “Sierra Maestra” chegam triunfalmente a Havana. Fim da ditadura de Batista. Início de uma nova era.

Vale salientar que: Fidel afirmou várias vezes: “Fiz a revolução com o “Contrato Social” de Rousseau no bolso”. Quer dizer, ao contrário daquilo que é vociferado por desinformados, Fidel não era “comunista”. Somente o era Ernesto Guevara, “El CHE”.

Então, como Cuba se transformou num Estado Socialista? Primeiro Cuba nunca foi comunista, dito por muitos ignorantes. Nunca houve, talvez não haja (infelizmente) um Estado Comunista. Insisto: a Revolução pretendia “acabar com a miséria e a opressão” dito pelos guerrilheiros. O Comandante Fidel afirmou isso durante uma entrevista concedida ao jornalista Roberto D’Ávila na extinta TV Manchete. Não havia, portanto, o propósito inicial da transformação de Cuba num Estado Socialista. O motivo da “guinada socialista” se deve a ação dos Estados Unidos. Depois de derrotados e humilhados na “Baía dos Porcos”, no momento em que tentaram recuperar o poder sobre a ilha, ameaçaram disparar armas nucleares. Vale lembrar o presidente ianque: John Kennedy. Mitificado por muitos, não passa de um calhorda, travestido de “bonzinho”. Incentivador dos golpes militares que culminaram nas malditas ditaduras na América Latina. Segundo a obra “A Face Oculta do Terror” do jornalista A. J. Languth, criador de uma “Escola de Torturas no Texas” cujo aluno mais dedicado foi o assassino “Delegado Fleury”. Detalhe importante: estávamos no auge da “Guerra Fria”. Como enfrentar os ianques? Fidel pediu ajuda ao não menos assassino Khrushchov, líder da União Soviética. Proposta do ditador russo: se Cuba anunciasse ao mundo que se transformara num Estado Socialista, Fidel teria todo seu apoio.

Vale lembrar, aos soviéticos interessava uma pequena ilha, localizada a cento e cinquenta quilômetros da Flórida, servir como um “forte avançado”. Mais ainda, propagandearia seu regime na América.

O “bloqueio econômico” imposto pelos Estados Unidos seria enfrentado por Cuba com o apoio da União Soviética.

Mais um lembrete: Cuba viveu todos esses anos sob a ameaça de um ataque dos Estados Unidos.

Voltemos a Fidel.

Suas primeiras medidas pós-revolução foram: investimentos maciços em Saúde e Educação e reforma agrária. Enfim, garantias de condições básicas e dignas à população.

Nomeou Che Ministro da Indústria e do Comércio.

A Ilha se transformou.

A ameaça dos Estados Unidos, o acordo com a União Soviética, é verdade, levaram Fidel a criar uma ditadura. Correspondências vasculhadas, censura nos meios de comunicação, partido único, perseguições políticas, prisões, aviltamento dos direitos básicos.

Cuba viveu uma ditadura, ainda vive, desde 1959. É um país pobre. Porém, não há miséria; não há analfabetismo, não há exclusão.

A medicina preventiva dos cubanos é uma das mais respeitadas no mundo.

A Escola de Cinema cubana já foi presidida por Gabriel Garcia Marques.

Falta liberdade, democracia, garantia de direitos civis? Falta.

O Comandante foi um ditador? Sem dúvida.

Peço licença para uma ponderação: no Brasil temos tudo que há de positivo em Cuba? NÃO!

E aquilo que lhes falta, temos no Brasil? NÃO!

Somente uma pequena elite usufrui das benesses de nossa “democracia”.

Condenar, pura e simplesmente, o Comandante Fidel – a meu ver -, é injusto e equivocado. Também não se trata de anistiá-lo de seus crimes e defender cegamente a aberração de uma ditadura. Todavia, se compararmos a condição de nosso povo sofrido – a maioria dos brasileiros – e o povo cubano, ouso dizer que ainda que haja pobreza, não há miséria. Há igualdade.

Calma! Não estou a defender pobreza! Sou a favor do luxo! Para todos! “Luxo para todos! Muito é muito pouco...” (Caetano Veloso)

Então, fico com outro grande compositor, esse cubano, Pablo Milanés que cantou: “... Bolívar lançou uma estrela que junto à Martí brilhou. Fidel dignificou-a. Para andar por estas terras!”.

Acendo um Patárgas, bebo um “Habana Libre”!

Enquanto escrevo, ouço a canção “Cancion Por La Unidad Lantinoamerica” de Pablo Milanés.

Saúdo “El Comandante”! Arriba Fidel!

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