BANCO DOS RÉUS

Júri de Dr.Jarbas começa hoje

Júri de Dr.Jarbas começa hoje

Confira os detalhes da investigação que culminou na prisão do médico, sua esposa Sueli e do ex-funcionário da Unimed, Ronaldo Mota, trio apontado como “mentor intelectual” do atentado cujo al

Confira os detalhes da investigação que culminou na prisão do médico, sua esposa Sueli e do ex-funcionário da Unimed, Ronaldo Mota, trio apontado como “mentor intelectual” do atentado cujo al

Publicada há 7 anos


Dr. Jarbas e Ronaldo Mota serão jugados em Júri Popular; ambos têm passagem de longa data pela Unimed Fernandópolis



Por Breno Guarnieri / João Leonel


A Justiça de Fernandópolis realizará entre hoje (13) e amanhã (14), o julgamento popular do médico Jarbas Alves Teixeira, ex-presidente da Unimed, da mulher dele, Sueli Longo Teixeira, de Ronaldo Henrique Mota Barbuglio, ex-motorista de Jarbas, e Rodrigo Marcos Sampaio, morador de Jales. Todos serão julgados nestes dois dias.


O quarteto é acusado de tentativa de homicídio contra o médico Orlando Candido Rosa, baleado na noite de 12 de junho de 2013 na porta de sua residência, em um bairro de classe média de Fernandópolis. A sessão do Tribunal do Júri, que será presidida pelo juiz Dr. Vinícius Castrequini Bufulin, terá início às 9h desta terça-feira, e deverá se estender até quarta.


REVIVERÁ UM PESADELO

Em entrevista à Reportagem de “O Extra.net”, o médico Orlando salientou que reviverá um pesadelo. “A minha família e eu ainda não superamos o trauma. Desagrada-me vê-los (acusados) no Tribunal como réus, pois estou condenado a viver com isso pelo resto da vida”, diz Dr. Orlando, que ainda acrescenta: “não tenho sentimento de mágoa no coração, mas ainda não consigo perdoá-los (os acusados), em razão de quem (Jarbas) arquitetou toda a trama e como foi executada, totalmente de forma covarde”.

Questionado a respeito do sentimento que tem por cada um dos acusados, Dr. Orlando resumiu em uma só palavra: tristeza. “Minha tristeza maior é em relação ao Dr. Jarbas e a mulher dele, Sueli. Ele foi meu amigo por mais de 40 anos, mas fez parte dessa trama diabólica. Nunca imaginei que ele contrataria um pistoleiro para me matar”, enfatiza.


JÚRI

O juiz da 2ª Vara Criminal de Fernandópolis, Vinicius Castrequni Bufullin, pronunciou os réus Rodrigo e Ronaldo para que sejam submetidos ao julgamento pelo Tribunal do Júri como incursos no artigo 121, § 2º, inciso I e IV, c.c.artigo 14, inciso II, na forma do artigo 29, todos do Código Penal, e os réus Dr. Jarbas Alves Teixeira e Sueli Longo Teixeira foram pronunciados para que sejam submetidos a julgamento pelo Tribunal do Júri como incursos no artigo 121, § 2º, inciso IV, c.c artigo 14, inciso II, na forma do artigo 29, todos do Código Penal (tentativa de homicídio tentado e associação).


QUARTETO

Dr. Jarbas aguarda o julgamento em prisão domiciliar. A Justiça lhe concedeu este benefício após serem constatados sérios problemas em relação a sua saúde. Sueli segue detida na penitenciária de Tupi Paulista enquanto Ronaldo e Rodrigo estão detidos no CDP de Riolândia.




UMA TRAGÉDIA QUE PODERIA TER SIDO EVITADA


Dr. Orlando Rosa durante coletiva em novembro de 2013



Relembre como foi a tentativa de homicídio que vitimou Dr. Orlando Rosa

As informações foram reveladas pelo ex-delegado da DIG (Delegacia de Investigações Gerais), Dr. Gerson Donizete Piva, então responsável pelas investigações, e também pelo próprio médico, Dr. Orlando Rosa, vítima do atentado, que por pouco não o matou na noite de 12 de junho de 2013 - ele foi alvo de dois disparos, mas somente um o alvejou. Duas coletivas à Imprensa abordaram esta ocorrência policial de enorme repercussão. A primeira entrevista ocorreu no dia 27 de novembro daquele ano, na sede da Delegacia Seccional, e a segunda, no dia seguinte, concedida pela própria vítima, em seu consultório.


PICADAS DE ABELHA
Após o atentado, passada uma semana, a secretária do Dr. Orlando Rosa recebeu seguidas ligações de um suposto paciente que afirmava ao telefone necessitar urgentemente ser atendido pelo médico, em seu consultório, pois teria sido vítima de diversas picadas de abelhas. A secretária registrou todas as informações deste suposto paciente, entrou em contato com Dr. Orlando Rosa e em seguida, em nova ligação ao consultório médico, repassou à suposta vítima das picadas de abelha todas as orientações médicas, inclusive para que ele fosse imediatamente à Santa Casa. Porém, o homem do outro lado da linha parecia mais preocupado em localizar Dr. Orlando Rosa do que se tratar. Esse episódio foi informado à DIG, que solicitou quebra do sigilo telefônico e monitorou as ligações ao consultório do médico. Poucos dias depois, uma das ligações foi rastreada e se confirmou: o número do celular usado estava registrado em nome de Ronaldo Mota, motorista de Dr. Jarbas Alves Teixeira.


MAIS DINHEIRO
As investigações passaram a monitorar as ligações de Ronaldo. Em uma das interceptações telefônicas, uma mulher, de Jales, ligou para “cobrar mais dinheiro pelo serviço”. Esta mulher utilizava um celular em nome de Rodrigo Sampaio, que depois de 12 de junho, em trabalho pela empresa na qual era empregado, foi para Fortaleza. Ao retornar a Jales, o próprio Rodrigo ligou para Ronaldo, exigindo mais dinheiro. Foi marcado entre os dois um encontro na Unimed em Fernandópolis. No dia do encontro, a DIG recebeu uma informação da Polícia de Paranavaí/PR: havia sido expedido, pelo Judiciário daquela Comarca, um mandado de prisão contra Rodrigo Sampaio devido a sua participação em um roubo à mão armada. Agentes da DIG prenderam Rodrigo em frente à Unimed, no instante em que ele chegava para se encontrar com Ronaldo. Um fato chama a atenção das autoridades policiais: preso em Nhandeara, Rodrigo recebeu auxílio de um advogado particular.


LUCAS
Após a prisão de Rodrigo, e com as interceptações telefônicas dele e de Ronaldo, o atentado contra Dr. Orlando Rosa começava a ser desvendado. Outro personagem surgia, também de Jales, um rapaz chamado Lucas. Ele teria sido contratado por Ronaldo para realizar algumas ligações e escrever diversas cartas. Os telefonemas e as cartas tinham um só endereço: Dr. Jarbas e sua família. Muitas ameaças, contra a vida de Jarbas, sua esposa e filha. Ameaças de se “revelar detalhes íntimos” da vida do médico oftalmologista. E recados como “vamos derrubar você da Unimed”, “esta mamata irá acabar” eram comuns nas referidas cartas e telefonemas. Lucas vinha a Fernandópolis, escrevia as cartas, supostamente encomendadas e ditadas por Ronaldo, e se utilizava de telefones públicos, nas constantes ligações para Dr. Jarbas e família. Lucas chegou a ser preso, sendo liberado no decorrer das investigações.


DE EXTREMA CONFIANÇA
Há aproximadamente 9 anos, Ronaldo Mota trabalhava como motorista e segurança de Jarbas e família. Neste período, conquistou extrema confiança de todos, entre suas funções, definia até a contratação de seguranças para a filha do médico, e possuía, inclusive, a senha de cartões bancários de seu patrão. Durante as investigações, Ronaldo foi definido dentro da Unimed, palavras do Delegado Gerson Piva, “como a terceira pessoa mais poderosa”: Dr. Jarbas seria o presidente de fato; sua esposa Sueli, a presidente de “direito”; e Ronaldo, em segundo plano, comandava a operadora de planos de saúde. Pela elevada “confiança”, Ronaldo teria induzido o casal a ter plena convicção que as ameaças partiam do Dr. Orlando.


INTIMIDADES
De acordo com seus depoimentos, Dr. Jarbas sustentou que temia pela publicidade de algumas “intimidades”, assim como constava nas ameaças via telefonemas e cartas a ele endereçadas. Alega que teria confidenciado estas intimidades somente a três amigos: “Tom Zé”, José Antonio Zaparolli, ex-provedor da Santa Casa, a Ronaldo Mota, seu motorista particular, e a Dr. Orlando Cândido Rosa, um grande amigo, embora atualmente um pouco distantes. Como Tom Zé havia falecido e Ronaldo era seu funcionário de extrema e profunda confiança, restava, como potencial autor das ameaças, Dr. Orlando Rosa. Dr. Jarbas confirmou que solicitou a Ronaldo que “fosse conversar” com seu colega de profissão. Mas, pelos corredores da Unimed, ainda de acordo com as investigações, Dr. Jarbas apontava que daria um “corretivo” e um “susto” em Dr. Orlando.


A EXECUÇÃO
As investigações indicam que Rodrigo Sampaio teria sido contratado por Ronaldo, sob orientação de Dr. Jarbas, para matar Dr. Orlando. Jarbas nega esta hipótese. Mas, o fato é que na noite de 12 de junho, Dia dos Namorados, Rodrigo, conduzindo uma moto, saiu de Jales e foi até a casa de Dr. Orlando. Sem retirar o capacete, chamou pelo nome do médico, que ao abrir a porta da residência para atender ao chamado, foi atingido por um disparo de revólver calibre 22. O atirador ainda efetuou um segundo disparo, que atingiu uma parede interna da casa. O médico, mesmo ferido, conseguiu voltar até a sala de sua residência quando familiares correram para ver o que ocorreu. Ele foi atendido por uma unidade do SAMU, sendo encaminhado, consciente, ao Pronto Socorro da Santa Casa, onde passou por uma cirurgia para a retirada da bala.


CONHECENDO O AMBIENTE
Rodrigo chegou a conhecer o local dias antes, com um amigo, ao qual ofertou R$ 2 mil para o acompanhar durante a execução do crime. A dupla teria vindo, de ônibus, de Jales a Fernandópolis, desceu na Rodoviária e, a pé, chegou à casa da futura vítima. Eles caminharam pelos arredores e Rodrigo foi avisado pelo amigo que não teria sua companhia, pois em algumas casas na vizinhança haviam câmeras de segurança, e que a “Força Tática” (unidade policial da PM) os identificaria e os prenderia. Os dois pernoitaram em um hotel em frente à Rodoviária. No dia seguinte, retornaram a Jales, e lá, Rodrigo pagou R$ 50,00 pelo aluguel da moto que utilizou, sozinho, para cometer o crime.


LIGAÇÕES FINAIS
Após a execução do crime, ainda na noite de 12 de junho, duas ligações, mais uma vez envolvendo Ronaldo Mota, foram flagradas pela DIG. Na primeira, Ronaldo liga para Dr. Jarbas, que estava com sua esposa em um hotel na cidade de Rio Preto, e afirma: “não volte, pois deu tudo errado”. Na segunda ligação, Sueli indaga Ronaldo: “será que atiramos na pessoa certa?”. Jarbas e Sueli Longo decidem retornar a Fernandópolis, mas, chegando em Votuporanga, desistem, e passam a noite em um hotel na cidade vizinha.

últimas