José Renato Se

Por José Renato Sessino Toledo Barbosa - Professor

Por José Renato Sessino Toledo Barbosa - Professor

Publicada há 7 anos

No ambito interno o ano iniciou semelhante a todos os demais: crises. Econômica, política, social. Nesse último aspecto aquilo que mais chamou a atenção foi à barbárie ocorrida na região Norte do país. Em particular nos presídios. Infelizmente não se trata de nada novo. Tornou-se comum.

Os discursos são sempre os mesmos: superlotação dos presídios; condições desumanas da população carcerária, ócio dos presos. Enfim, escancara-se a falência do sistema, da legislação, da burocracia. Do outro lado, há aqueles que aproveitam o drama para defender “pena de morte”, “justiçamento”, ou ainda, como disse o ex-secretário da juventude: “- Deveria haver uma chacina por semana”.

Não estou a tomar partido. Lógico, tenho minha opinião.

Quero, inicialmente, abordar um viés do problema: a violência é “espetacularizada”, banalizada e tratada como comum, parte de nosso cotidiano. A fora o fato de que a violência e o crime organizado serem glamourizados, principalmente pelos jovens. Se porventura alguém entender que exagero, assista ao impactante documentário de João Moreira Sales, “Notícias de uma guerra particular”. Tem mais de vinte anos e aborda o embate pela posse do Morro Dona Marta no Rio de Janeiro. Veja os depoimentos de moradores acerca do fascínio de jovens ricas da zona sul ante os “chefes do morro”. Recordo-me de uma passagem na qual uma senhora moradora declara: “- Quanto mais armado, mais vagabundo, mais elas gostam”.

Ao mesmo tempo, verifiquei de passagem, matéria na Globonews, cujo teor era a superlotação de “casas que abrigam jovens infratores”, também superlotadas.

Onde quero chegar?

Ontem li matéria do sítio da UOL e na Folha de São Paulo hoje (13.01.2017) acerca da publicação do piso nacional dos professores. O Ministério da Educação anunciou um reajuste de 7,64%.O salário nacional deveria ser de, no mínimo, 2.298,00! Se convertermos em Dólar ou Euro, o valor é mais do que irrisório. Vergonhoso.

Hoje li no UOL a declaração do professor Wemerson da Silva Nogueira- ganhador de dez prêmios nacionais, inclusive “professor do ano de 2016”, concorrentes a uma espécie de “Nobel da Educação”-, o mesmo afirma que sente desvalorizado no Brasil.

Com quase trinta e três anos de profissão, posso afirmar, sem dúvida nenhuma que não se trata de sentimento, todavia, de certeza. Como todos os demais, é desvalorizado. É ignorado. É desprezado, tanto pelo poder público – em suas três estâncias – como pela grande imprensa e a opinião pública em geral. Ainda que, no plano do discurso, muitos rendam homenagens e respeito ao professor, numa simples conversa, os pais escancaram o horror da menor possibilidade de seus filhos escolherem o magistério como profissão.

Em tempo: São Paulo, o Estado mais rico da União, não paga o mísero piso. Dito pelo sítio UOL e pelo jornal Folha de São Paulo.

Não sei se é verdade. Não conheço a realidade concreta de outros Estados. Todavia, há quase trinta e três anos tenho de pagar minhas contas com o que recebo do Estado de São Paulo. Por isso, concordo. O salário é ridículo.

No entanto, enfatizo que o salário não é o único problema. É apenas a “ponta do iceberg”. Salários ruins não atraem bons profissionais, e por aí vai. Permito-me a não discorrer mais sobre isso.

A questão é outra: se salários de educadores são ridículos, o tratamento que se dá a eles também ridículo, logo, a resultante é ridícula. Se não há uma base intelectual, não existe formação, não existe concretização de princípios, tanto morais, quanto éticos. Logo, glamourizar crimes e bandos; entender “chacinas” como atos “normais” e necessários; pura e simplesmente fazer a defesa da “pena morte” como solução; condenar a ação dos “direitos humanos” é consequência.

Não estou a defender marginais e criminosos. Absolutamente! Deve haver punição rígida. Leis severas contra determinados delitos. Todavia, a legislação deve incidir da mesma forma para todos. Não pode haver justiça para rico e justiça para pobre. Pesos e medidas diferentes.

Volto a insistir: princípios éticos e morais devem reger a vida em comunidade.

O que esperar de um país que não valoriza seus professores?

O que esperar de um país que trata a Educação apenas como peça eleiçoireira e de retórica?

O que esperar de um país que ridiculariza o educador?

O que esperar de um país que glamouriza o crime organizado?

O que esperar de um país que naturaliza a violência social e endêmica?

A morte de Zymunt Bauman nessa semana nos permite não só reverenciá-lo, porém, sobretudo rememorá-lo: o sociólogo polonês, radicado na Inglaterra, é o responsável pela criação do conceito de “Liquidez”. Tudo é fluído, é líquido, escorre rápido.

Essa é a cara de nossos tempos: a “Modernidade Líquida”, da qual nos fala Bauman.

O sistema carcerário falido, sua crise, o sistema jurídico, sua legislação arcaicos, a Educação e o educador vilipendiados, fluem. Passam e a sujeira, a podridão, continuam.

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