NA CURVA DO RIO

O primeiro Mestre

O primeiro Mestre

Por Chico Piranha

Por Chico Piranha

Publicada há 6 anos


Amanhã é o Dia dos Pais, e eu não poderia fazer outra coisa, senão homenagear meu velho e saudoso PAI, com letra maiúscula mesmo.


Feliz daquele menino que um dia foi levado à beira de um rio e fez sua primeira pescaria, ao lado de seu pai. Falo sobre isso com alegria e gratidão, porque igual muita gente que conheço, tive o privilégio de viver essa emocionante experiência, ao lado do meu herói maior, o meu saudoso e bom pai.


Era muito pequeno e mirrado. Nem me lembro direito quantos anos tinha, mas não me esqueço daquele dia, que ficou gravado para todo o sempre na minha memória e no meu coração de menino. Meu pai, para mim, era o maior; um gênio que sabia tudo sobre a Mãe Natureza. Ele me ensinou, entre muitas coisas práticas da vida, sábias e preciosas lições. Foi com ele que aprendi amar e respeitar a natureza, e tirar desses ensinamentos, lições de um mestre simples, mas que me valeram muito e continuam valendo até hoje. Com ele aprendi também a arte da paciência, aprendida e praticada na pescaria, é a ciência da paz.


Na sua suave humildade de caboclo, esse simples lavrador que um dia veio viver na cidade, trabalhou duro colocando trilhos da antiga Estrada de Ferro Araraquarense, depois foi vender leite in-natura, mais adiante, virou padeiro e terminou a vida como pedreiro, e depois de aposentado, revelou-se um habilidoso jardineiro; sem dúvida alguma, foi meu primeiro e mais importante mestre. Faz alguns poucos anos que o meu velho pegou sua malinha e partiu para o andar de cima. E com a consciência tranquila do dever cumprido, tenho certeza que foi e está em um bom lugar e em paz.


Lá se vai talvez uns vinte bons anos desde nossa última pescaria. Mas vou me lembrar para sempre do tanto que nos divertimos juntos, pelos rios, lagoas e brejos da vida. Com o velho Gabriel, nunca havia e nem tinha tempo ruim. Sempre fomos bons companheiros, bons parceiros em nossas pescarias. Até naufragamos juntos no Paranazão, e, juntos sobrevivemos, claro. Daquela e de muitas outras encrencas e peripécias, sempre nos saímos numa boa. E feito dois meninos traquinas, costumávamos dar boas gargalhadas, quando nos lembrávamos dessas passagens.


Neste domingo, dia 13, Dia dos Pais, fica a boa lembrança e uma saudade gostosa dos bons momentos que passei ao seu lado. E em homenagem a sua memória, continuarei pescando junto com ele sempre, pescando com a memória, vivendo de novo cada instante nas lembranças dos bons e felizes momentos que desfrutamos juntos.

e                         


A primeira pescaria

A primeira pescaria com meu pai aconteceu no comecinho da década de 60, num pequeno córrego chamado São Pedro, afluente do rio São José dos Dourados, perto de São João das duas Pontes, na região da famosa e antiga cachoeirinha da pedreira do Rolim.


         Naquele tempo, o velho e bom São Pedro era um riacho piscoso, onde fisgava-se muito tambiú, piaus e com alguma sorte, até algumas piaparas. Ao anoitecer era a vez dos bagres, mandis e até algum curimbatá perdido que subia do rio São José dos Dourados. Naquele dia a água estava bem limpa e todo mundo estava pegando um tambiú atrás do outro. Enquanto isso, ainda marinheiro mirim, de primeira viagem, errava uma fisgada atrás da outra.


Claro que eu não sabia fisgar, apenas levantava lentamente a varinha, como faz toda criança pequena. Foi então, que meu pai percebendo minha dificuldade, tentou me ensinar do jeito mais simples possível. Lembro-me direitinho de suas palavras:

--- Quando o peixe puxar prá baixo, você puxa prá cima, duma vez, assim, ó!

 E naquele dia, por um desses abortos da Natureza peguei um belo piau três pintas!


A primeira mancada

Pouco tempo depois, em uma outra pescaria que ele me levou, desta vez no rio São José dos Dourados, ali pelas bandas da famosa fazenda do  Néca Verdi, acabei descobrindo que os peixes até se parecem muito, mas que também são bastante diferentes

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Naquele dia, a água do rio estava muito barrenta e da cor de chocolate. Havia chovido muito na região da cabeceira do São José. De repente fisguei o meu primeiro peixe. E levei a mão juntando o pequeno peixe com tudo, como todo menino quando  apanha um troféu.


Não era um peixinho qualquer... Era um terrível mandi-chorão, daqueles bem miudinhos e venenosos como um capeta! Nem é preciso dizer que levei duas baitas ferroadas e que botei a boca no mundo, acabando com a pescaria do povo.


Momentos inesquecíveis

Já contei aqui nesta coluna, muitas e divertidas aventuras vividas na companhia do meu saudoso e bom meu pai. Acredito que todos os leitores que gostam do esporte da linha e do anzol, tenham também vivido bons momentos e memoráveis pescarias ao lado da figura paterna.


Mas, sem puxar a sardinha para a minha brasa, meu pai foi uma daquelas figurinhas carimbadas. Se contar tudo que viram esses olhos que um dia a terra ou as piranhas hão de comer, o leitor vai acabar achando que sou um grande e belo mentiroso. Acontece que com o meu pai acontecia de tudo que pode ocorrer com um cristão na beira de um rio, de um lago, de um brejo ou de simples uma bacia d’água. Era impressionante!


Dava sorte, dava azar, parecia um predestinado. Às vezes acertava a mão, outras vezes quebrava a cara e sempre vivenciava esses acontecimentos com bom humor, as vezes revelando momentos de rara genialidade, que se alternavam com grandes trapalhadas, e assim ia a vida. Como todo velho e bom espanhol, também tinha lá os seus momentos de macheza, de “brabeza” e de abençoada teimosia.


Quando tinha lá os seus setenta e alguma coisa, o “velho Gabriel” era fera e botava debaixo do braço muito menino e marmanjo metido à pescador. Na caça de bons lugares a beira do rio, era um andarilho empedernido e destemido. Andava quilômetros e quilômetros com a água pela cintura, no encalço dos piaus e tucunarés. Parecia que tinha fôlego de sete gatos!


Quem conheceu e conviveu com o velho e saudoso Gabriel Cabreirs, sabe que estou sendo econômico contando apenas alguns causos.  Meus amigos, o véio “Bié” era fera!


Então, em homenagem a boa lembrança da figura do meu velho e querido pai, aproveito o espaço do dia de hoje, para prestar uma singela homenagem à todos os pais leitores, aos pais dos nossos leitores e especialmente a todos aqueles amigos que como eu  já são avós. Feliz Dia dos Pais a todos e boa leitura.




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