Jacqueline Ruiz

Mais do que máquinas precisamos de humanidade

Mais do que máquinas precisamos de humanidade

Por Jacqueline Ruiz Paggioro - Diretora Pedagógica

Por Jacqueline Ruiz Paggioro - Diretora Pedagógica

Publicada há 6 anos

Na próxima semana teremos o feriado em que se comemora o dia da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, e para a alegria de muitos comerciantes e dos pequenos também se comemora o dia da Criança. Em tempos de crise as datas comemorativas são sempre um alívio para os vendedores e um transtorno para famílias.


O marketing investe despudoradamente em personagens “famosos” que dão nome a produtos ligados ao universo infantil (?) que invadem os lares de milhões de pessoas “convidando-as” ao mais vergonhoso consumismo. Exemplo disso: toda uma geração (e que hoje já é adulta) ficou reféns das loiras que apresentavam programas pseudoinfantis e que numa estratégia que ligava seus nomes a produtos e também serviços com o intuito de vender: brinquedos, produtos alimentícios, roupas, viagens e por ai vai. O que é pior sem regulamentação alguma.

Enquanto isso, os baixinhos tornavam-se um filão comercial que gerou e gera dividendos astronômicos. Tudo em nome do consumo.


Atualmente o objeto de desejo dos baixinhos e também dos altinhos, gira em torno dos aparelhos eletrônicos – games, tablets e smartphones –. Conheço várias famílias que não hesitam em oferecer para seus rebentos esses objetos. Antes mesmo de falar ou andar, muitas crianças já sabem “passar o dedinho” na tela.

Segundo pesquisas, o Brasil tem perto de 22 milhões de pessoas denominadas “nativos digitais” – nascidas e criadas a partir da década de 1980 e conectados a games e internet –, e contrariando os prognósticos de que a tecnologia ampliaria a comunicação o que estamos assistindo é uma enormidade de pessoas que, hipnotizadas, ficam cada vez mais condicionados aesses aparelhos. E, entre crianças e adolescentes, é cada vez maior o número de casos de dependência: perdem a vontade de brincar, conversar, comer, estudar e até de dormir.


Certa vez ouvi de uma pessoa o seguinte comentário: “Minha filha de doze anos não desgruda do celular, até durante as refeições ela fica teclando com os amigos e nem come direito”. Como não tinha muita intimidade me limitei a ouvir, mas a vontade era perguntar: “Por que não limitar o uso do aparelho, impor alguma regra?”. Esse, infelizmente, não é um caso isolado; quem tem filhos adolescentes se depara com a mesma situação. Na minha casa acontece o mesmo. A questão fica – mais ou menos – resolvida quando a regra é estabelecida e é exigido o seu cumprimento, mesmo que para isso tenhamos que tomar a antipática atitude de desligar o WiFi e parecermos ditadores – crianças e adolescente precisam de limites –.


Mas o preocupante mesmo é a banalização. A pessoa que citei acima, em determinado momento da conversa com o grupo, delicadamente empunhou seu smartphone para se atualizar. Naturalmente uma atitude vale mais que um milhão de palavras. Educamos pelo exemplo.


O escritor Ilan Brenman, – na Revista Crescer de novembro de 2014 – escreveu um artigo intitulado “1984 é hoje!” em que discorre sobre a brilhante obra de George Orwell e destaca a questão da instituição da Novilíngua, cujo objetivo é estreitar a gama do pensamento. Ou seja, quanto menos repertório linguístico possuirmos, menos pensamento e reflexão teremos.


Enquanto inserimos nossas crianças e jovens cada vez mais precocemente no mundo tecnológico nos arriscamos a torná-los cada vez mais dependentes da tecnologia e os afastamos da capacidade de refletir, que é a condição primordial para o processo de humanização. Não se trata de abolir de vez a tecnologia da vida da humanidade, mas utilizá-la a nosso favor, em favor da humanidade.


Charles Chaplin, interpretando o Grande Ditador tem uma frase que é perfeita para o tema abordado: “Mais do que máquinas precisamos de humanidade.Mais do que inteligência precisamos de afeição e doçura.Sem essas virtudes a vida será de violência e tudo estará perdido.


No mais, quando for escolher um presente para uma criança, qualquer que seja sua idade e em qualquer que seja o dia, lembre-se: objetos não substituem presença, carinho ou afeto.




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