Jacqueline Ruiz

“A verdadeira Moral zomba da moral”

“A verdadeira Moral zomba da moral”

Por Jacqueline Ruiz Paggioro - Professora

Por Jacqueline Ruiz Paggioro - Professora

Publicada há 6 anos

porA polêmica em torno de mostras culturais no mês de setembro como a apresentada pelo Queermuseu , cancelada em Porto Alegre e posteriormente no Rio de Janeiro, ou a  performance realizada durante a abertura do 35º Panorama da Arte Brasileira no Museu de Arte Moderna (MAM), em São Paulo – que o coreógrafo carioca Wagner Schwartz apresentou "La Bête", em que seu corpo nu poderia ser manipulado pelo público e que  evoca  um "Bicho", obra manipulável da artista Lygia Clark (1920-1988)  e que na ocasião, uma criança que, acompanhada da mãe,  interagiu com o artista, tocando em sua perna e em sua mão – causaram furor e agitaram as redes sociais. O estardalhaço movido, principalmente, pelo Movimento Brasil Livre – MBL – exigiu o cancelamento da exposição do Queermuseu e agitou o Ministério público em torno da questão de pedofilia, no caso do MAM.


Os prefeitos das cidades acima citadas, sem ao menos se dar ao trabalho de analisar o conteúdo das mesmas, rapidamente se manifestaram contra as apresentações classificando as obras como incitadoras de pedofilia, zoofilia e afins.

Em Brasília,dia 18/10, nossos “nobres” Deputados em audiência pública na Câmara com o Ministro da Cultura – em “defesa da família e contra a imundície da cena artística” –protagonizaram um bate-boca com direito a palavrões e ameaças de “porrada”.


Me ponho a refletir: qual será a intenção de nossa classe política e dos movimentos que lhe dão sustentação?


A onda moralista ultraconservadora  alterou significativamente a direção dos ataques do MBL que foi criado ao final de 2014 e  tinha como objetivos levar as pessoas às ruas a favor do impeachmentda presidente Dilma e contra o PT,   em apoio às investigações da Operação Lava Jato e por mais liberdade de imprensa.


Em 2016, combinou forças com as bancadas evangélica e ruralista do Congresso por uma agenda de Estado mínimo, ajuste fiscal e redução da maioridade penal e com o fim de auxiliar o governo na promoção de estratégias relacionadas às reformas trabalhistas e previdenciárias, extremamente impopulares.


Em virtude dos diversos casos de escândalos de corrupção envolvendo grande maioria de deputados, senadores, ministros, presidente, governadores e afins e das querelas entre judiciário, legislativo e executivo, fica somente a dúvida: por que esse movimento não reinicia a convocação da “massa” para ir às ruas novamente e bater panelas pelo fim da corrupção?


Congelamento para os gastos públicos que limitam os investimentos em áreas prioritárias como saúde e educação; reforma do ensino médio que não propõe nenhuma mudança significativa para a qualidade do ensino; abertura da Amazônia para a mineração; portaria alterando as regras para a questão do trabalho escravo – atendendo aos interesses da bancada ruralista ; liberação de verbas para deputados às vésperas dos julgamento das denúncias na Câmara,  entre tantas outras medidas, não causaram indignação ou comoção coletiva.


Mas é preciso “despistar” os desmandos e criar um fato que mobilize a “massa”. Quer coisa melhor que a manutenção dos bons costumes em nome da decência e da moral?


Indecente é esperar horas por um atendimento em pronto socorro ou por meses/anos para uma consulta ou exame no SUS. Vergonhoso é andar em ruas esburacadas, num transporte público lotado e caro; é frequentar escola suja, sem material e sem professor.


E como disse o Xico Sá em sua crônica para o El País: Imoral é uma mãe reconhecer um corpo nu do extermínio na laje fria do IML; jamais a nudez de uma performance artística!




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