Lá se vão uns vinte anos mais ou menos, certa ocasião, o professor César Whitaker,que por muitos anos foi presidente do CPP Regional de Rubinéia, em uma de suas famosas pescarias pelo Pantanal, contratou o Totonho como “guia” para acompanhar um grupo de turistas americanos. Nascido ecriado naquela região, o Totonho é um daqueles pantaneiros que conhecemo lugar melhor que a própria palma da mão. E lá se foi todo mundo à bordo da Chalana do César.
Duas horas depois, um dos turistas, puxou conversa com o guia.
--- Será que a gente vai pegar algum peixe grande?
E Totonho, mais do que solícito:
--- Vichi, aqui pega de “barde”. Ali na “vorta do parmito”,por “exempro”, inté que nuncapescou, sempre pega “argum” bitelão!
E o professor César, que sempre primou pelo bom português, não se conteve:
--- Pelo amor de Deus Totonho, não é“barde” é balde; não é “vorta”, é volta; não é “parmito”, é palmito; não é “exempro”, é exemplo; não é “argum”, é algum! E realçando aentonação na letra “éle”, repetiu quase soletrando: balde, volta, palmito, exemplo, algum!
--- Entendeu,Totonho?
--- Sim sinhô!
Totonho coçou a cabeça, pensou, pensou e ficou de bico bem fechado.
Um quilometro e meio rio abaixo, um bando de grandes aves brancas passou voando rente ao rio e bem perto do barco. Encantado, o turista americano perguntou:
--- Seu Totonhas, que bichas ser aqueles branconas?
--- Seu Dotô, aquele é um bando de “Galças”!
Momentos depois, nova revoada de pássaros, agora bem menores que os do primeiro bando. Empolgado com a cena, o turista pergunta novamente.
--- E que espécia ser aqueles bichinhas pequenas branquinhas?
E de novo, o Totonho, bem ao seu jeitão de matuto, sapecou:
--- Aquele lá é um bando de “Galcinhas”!