Jacqueline Ruiz

O Patrão Nosso de Cada Dia

O Patrão Nosso de Cada Dia

Por Jacqueline Ruiz Paggioro - Professora

Por Jacqueline Ruiz Paggioro - Professora

Publicada há 6 anos

A recente polêmica acerca da censura às manifestações artísticas me incomodou muito, tanto que publiquei texto comentando a respeito; o título do mesmo foi uma citação emprestada do filósofo e matemático francês BasilePaschal (ou Blaise Pascal, como queiram): “a verdadeira Moral zomba da moral”.


Escrever sobre o tema não foi suficiente, pois o “incômodo” permaneceu. E a onda reacionária dos moralistas de plantão também, a ponto de se articularem nas redes sociais com uma petição de mais de 360 mil assinaturas exigindo que o Sesc Pompéia cancelasse a participação deJudith Butler –  filósofa norte americana, principal referência acadêmica nas questões sobre identidade de gênero – no seminário “Os fins da Democracia” promovido pela Universidade de São Paulo. 


Apesar do barulho, o Sesc não cancelou a palestra e cerca de cem manifestantes contrários àButler se juntaram e foram para a antiga fábrica da Pompéia para se manifestar contra o que – erroneamente – chamam de “ideologia de gênero” chegando a “queimar”  o boneco de uma bruxa com a foto dela.


Movida por esse mal-estar, fui pesquisar sobre essas questões. Me deparei com um artigo intitulado “10 estratégias de manipulação de massas utilizadas contra você diariamente” de Tales Luciano Duarte  no site yogui.co – inspiração consciente sempre ( link: http://yogui.co/10-estrategias-de-manipulacao-em-massa-utilizadas-diariamente-contra-voce/).


O artigo ilustra o pensamento de Noam Chomsky, linguista, filósofo, cientista cognitivo, comentarista e ativista político norte-americano, aclamado como “o pai da linguística moderna” e reconhecido no campo da filosofia analítica.


Chomsky diz que em um estado totalitário não importa o que as pessoas pensem, desde que o governo possa controlá-las pela força; quando isto não é possível, pode-se controlar o que elas pensam. E o modo mais eficaz é através da propaganda: fabricação de consentimento, criação de ilusões necessárias, marginalizando o público em geral ou reduzindo-a a alguma forma de apatia.

Segundo o artigo, o francês SylvainTimsit, inspirado nas idéias de Noam Chomsky, elaborou uma lista das “10 estratégias mais comuns de manipulação em massa através dos meios de comunicação de massa“e que elas são utilizadas diariamente há anos para criar um senso comum e conseguir fazer a população agir conforme interesses de uma pequena elite mundial. O articulista comenta que “qualquer semelhança com a situação atual do Brasil não é mera coincidência, os grandes meios de comunicação sempre estiveram alinhados com essas elites.Esses grupos praticam incansavelmente várias dessas estratégias para manipular diariamente as massas, até chegar um momento que você realmente crê que o pensamento é seu”.

A seguir, elenco as estratégias:


1. A Estratégia da Distração:  elemento primordial do controle social, consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio, ou inundação de contínuas distrações e de informações insignificantes. Igualmente indispensável para impedir o interesse por conhecimentos essenciais e aprofundados nas diversas áreas das ciências. Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativado por temas sem importância real e ocupado.


2. Criar problemas e depois oferecer soluções:  método também chamado de “problema-reação-solução “. Cria-se uma “situação” prevista para causar certa reação nas pessoas, a fim de que sejam elas os“mandantes” das medidas que se desejam aceitar.Por exemplo: Deixar que se desenvolva ou que se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas desfavoráveis à liberdade. Ou criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos (a semelhança com o Brasil novamente é lembrada e remete a outra postagem do site: “porque a grande mídia esconde de você as notícias boas? retrata bem porque focar nos problemas é interessante para grande mídia).


3. A estratégia da gradualidade: fazer que se aceite uma medida inaceitável aplicando-a gradualmente por anos consecutivos. Condições socioeconômicas radicalmente novas, como neoliberalismo por exemplo, foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990.Estratégia também utilizada por Hitler e por vários líderes comunistas.  E comumente utilizada pelos grandes meios de comunicação.


4. A estratégia de diferir: outro modo de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura.É mais fácil aceitar um sacrifício futuro. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente, depois, porque se tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “amanhã tudo irá melhorar” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo para que se acostumem à ideia da mudança e aceitá-la com resignação quando chegue o momento.


5. Dirigir-se ao público como crianças: a maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade.Quanto mais se tenta enganar ao espectador, maior a tendência de adotar um tom infantilizante.Por quê? “Se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido”.


6. Utilizar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão:  é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e finalmente no sentido crítico dos indivíduos.Por outro lado, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou injetar ideias, desejos, medos e temores, compulsões ou induzir comportamentos.


7. Manter o público na ignorância e na mediocridade: fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão.A qualidade da educação deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes sociais seja e permaneça impossível de ser revertida pelas classes mais baixas.

8. Estimular o público a ser complacente com a mediocridade: promover a crença de que é moda o ato de ser estúpido, vulgar e inculto. Introduzir a ideia de que quem argumenta demais e pensa demais é chato e que lhe falta humor de sorrir das mazelas da vida; assim as pessoas vivem superficialmente, sem se aprofundar e sempre ter uma piadinha para se safar do aprofundamento necessário a questões maiores, tornando qualquer discernimentocomo sendo desnecessário, pois o desvelamento sério e lúcido sobre um assunto pode derrubar sistemas criados para enganar a multidão.


9. Reforçar a auto culpabilidade: fazer com que o indivíduo acredite que somente ele é culpado pela sua própria desgraça por causa da insuficiência de sua inteligência, suas capacidades, ou de seus esforços; assim, no lugar de se rebelar contra o sistema econômico, o indivíduo se auto desvaloriza e se culpa, o que gera um estado depressivo, cujo um dos efeitos é a inibição de sua ação. E, sem ação, não há questionamento!


10. Conhecer aos indivíduos melhor do que eles mesmos se conhecem: no transcurso dos últimos 50 anos, os avanços acelerados das ciências têm gerado uma crescente brecha entre os conhecimentos do público e aqueles possuídos e utilizados pelas elites dominantes.Graças à isso o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado sobre o ser humano, tanto em sua forma física como psicologicamente, conseguindo conhecer melhor o indivíduo comum do que ele conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos, maior que dos indivíduos sobre si mesmos.


O site, como o próprio nome diz, acredita que “para se manter desperto e apto a tomar decisões sem sermos massa de manobra devemos nos autoconhecer; o caminho mais profundo de autoconhecimento é a meditação (ao nosso ver).A simples tarefa de olharmos internamente para cada nuance de nosso ser e questionar cada célula, cada pensamento é o caminho básico para quem deseja despertar de toda essa manipulação que foi pensada para nos manter dispersos.Quanto mais disperso o ratinho. Mais facilmente cai na ratoeira”, e convida os leitores para conhecer suas postagens para uma maior consciência e “para sair da caixinha” e finaliza com a palavra: “Gratidão!”


Outro dia uma conhecida me perguntou se eu acreditava que escrevendo “essas coisas sobre política” eu convenceria as pessoas.  Minha resposta foi: eu escrevo sobre “essas coisas” porque elas me afligem, me incomodam e me levam à busca, à reflexão; então eu posso aprender um pouco mais sobre o mundo e também sobre as “coisas” e as pessoas e também sobre mim. Daí amaior certeza que tenho é (e agora vou parafrasear o João Ricardo, dos Secos & Molhados em O Patrão Nosso de Cada Dia): eu já não sei se sei de tudo ou quase tudo, nem de mim, nem de nós, nem de todo o mundo... E, se não consigo acalmar o mal-estar, busco a música, a poesia, a literatura;enfim na arte – pois esta aplaca qualquer aflição!

Se eu conseguir causar um incômodo em quem me lê, isso já basta. Cada um que busque suas próprias conclusões!




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