ESPECIAL TITO M

A arte do nosso pássaro Jardineiro

A arte do nosso pássaro Jardineiro

Por João Leonel

Por João Leonel

Publicada há 6 anos


Os pássaros-jardineiros (Amblyornis inornatus), pertencentes à família das aves caramanchão — bower birds —, tiveram suas habilidades arquitetônicas descobertas no final do século XIX. Eles vivem exclusivamente na Austrália e na Nova Guiné e alguns fazem cabanas, arcadas, outros, plataformas com muretas ou altas torres variadamente ornamentadas. Nessas construções são utilizadas varetas, sobre um tapete de musgo vivo e verde. Empilhados dentro da cabana e no jardim veem-se numerosos objetos artificiais ou naturais (cogumelos, frutos, flores,

folhas, pedaços de casca de árvore, carcaças de besouro, asas de borboleta), que a ave busca nas redondezas ou furta de habitações vizinhas (caixas de fósforo, tampinhas de garrafa, latinhas, fichas de jogo, caixas vazias de filmes fotográficos etc.). Os objetos, às vezes, são agrupados pela cor e, ora um ora outro, trocados de lugar, sendo cuidadosamente escolhido o local em que peças novas serão incorporadas à decoração. Semelhante construção se tornou a casa do artista fernandopolense Tito Monthenegro, uma verdadeira obra de arte. Quem nunca se pegou analisando “aquela casa” da Avenida dos Arnaldos? E sua arte, propriamente dita, em telas e quadros diversos, decora milhares de residências, em Fernandópolis e pelo mundo. Tito Monthenegro voou livremente entre nós e, com a leveza de seu ser, seu espírito boêmio, partiu para, agora, nos observar lá de cima. Certo dia, após secarmos uma garrafa de pisco — aguardente das cascas da uva (fermentadas após a extração do vinho) —, Tito destacou uma “relação muito

íntima” de meu pai, o Zuza, e Deus: “Eles eram muito próximos, se entendiam”, disse-me. Tudo porque o Zuza resolveu um problema que Tito enfrentou ao terminar uma escultura de um crucifixo talhado em madeira. “Tinha que pregar o corpo de Jesus na cruz que havia acabado de fazer. Mas tive receio de riscar a obra quando fosse bater o martelo no prego. O Zuza chegou e pronto, duas marteladas certeiras, os dois pregos fincados na madeira sem fazer qualquer marca, nenhum risco. Foi ‘pá e pá’. Não se faz uma coisa assim se não tiver intimidade”, confidenciou alegremente. Com certeza, estão juntos, os dois daqui, e Ele. Um brinde a este recente reencontro lá em cima! E para brindarmos em grande estilo, trazemos nesta edição do Cultura! três textos de amigos próximos a Tito Monthenegro: Cabreirão, também conhecido na juventude como “Big’s”, Wilson Granella e Vic Renesto. As imagens nesta página são uma viagem por vários períodos da produção artística de Tito. Apreciemos!




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