Sábado passado fiquei muito triste. A razão? A notícia do falecimento do jornalista e escritor Carlos Heitor Cony.
Se fosse católico, amanhã haveria missa de “Sétimo Dia”.
Foi seminarista. Na instituição, afirmava, perdeu a fé.
Acompanhei todas as suas colunas na Folha de São Paulo. Li seu romance – “Quase Memória” -, adorei. Brilhante escritor. Texto rico, denso, sem pompas, porém, firme e erudito, sem pedantismo. Próprio dos gênios.
Era um homem intrigante: ao mesmo tempo que externava seu ceticismo, sua descrença, escancarava um humanismo sem limite. Ao meu ver, pelo amor à sua cachorra Mila, a qual, ganhou uma coluna no momento do óbito.
Recordo-me de um texto, escrito há muito, no qual comentava que, quando menino, por volta dos doze anos, caminhava pela manhã em Vila Isabel, ia para o colégio. De repente, sentiu uma “fisgada” na orelha, voltou-se e percebeu uns homens as gargalhadas na porta de um botequim. Um deles havia arremessando-lhe uma tampinha de cerveja. Era Noel Rosa. Descoberto tempos depois.
Cony comentava indignado: “- Se soubesse quem era, à época, teria guardado a tampinha de recordação”.
Sempre firme e cético, nunca se envaideceu com elogios ou usufruiu de benesses, advindas do poder, ou mesmo de “gente de influência” que conhecia aos montes. Nunca compactuou com ninguém.
Viveu e morreu íntegro.
Deixou uma rica obra. Tanto no jornalismo, quanto na literatura.
Sua última coluna aborda sua ausência de saudades, quanto ao cotidiano, a mesmice e a burrice, reinantes nessa época estúpida e virtual, líquida, pobre de conteúdos, de propósitos e pessoas.
Embora não sinta saudades, certamente, todos que apreciam um texto muito bem escrito, de ideias límpidas e pungentes, sofrerão.
O panteão do além recebeu mais reforço de peso.
A nós, resta lamentarmos e relermos sua obra.
Talvez, que sabe, sejamos capazes de aprender com mais um grande e não reproduzirmos erros e burrices redundantes.
Que pena!