HISTÓRIAS DO T

Lembra do “Repórter” da cidade?

Lembra do “Repórter” da cidade?

Por Claudinei Cabreira

Por Claudinei Cabreira

Publicada há 6 anos


Não sei porque, mas até hoje tenho a impressão que no começo dos anos sessenta, a Praça Joaquim Antonio Pereira, era bem mais animada, movimentada e charmosa do que hoje em dia. Não estou falando dos finais de semana, não, nem dos footings das noites de sábado e domingo. Durante a semana, no horário comercial, havia muito mais gente que hoje. Talvez porque fosse mais aconchegante. Acredito que o motivo esteja na falta de bancos e árvores, e por consequência, falta de sombreamento.


O paisagismo era outro, suas belezas naturais encantavam moradores e visitantes. O conforto e o aconchego oferecido por ela no passado, não se compara com sua aridez inclemente e desértica de hoje.Particularmente, acho que a praça ficou pelada, muito artificializada. Parece que cada prefeito que ali botou o bedelho querendo deixar sua marca e “modernizar”, só conseguiu piorar as coisas. Pode me chamar de saudosista, mas que era muito mais bonita, confortável e aconchegante, isso era.


Será que você ainda se lembra dessa época? Por exemplo, havia o riachinho todo sinuoso, com a ponte curvada, onde a gente se apoiava no parapeito para jogar pipoca e migalhas de pão para as grandes carpas coloridas que enfeitavam o local. A fonte luminosa jorrava água colorida, que parecia dançar ao som das músicas das grandes orquestras. Havia o coreto, onde de vez em quando a banda municipal, também conhecida por “furiosa” se apresentava. Quantos namoricos que começaram timidamente nos bancos de granito ornados por caramanchões floridos, não acabaram em casamentos?A praça era o ponto de encontro dos enamorados. Eram tempos românticos.


Como a televisão ainda não havia chegado por essas bandas, o rádio imperava. Naquela época, a cidade contava apenas com a pioneira Rádio Cultura de Fernandópolis, a ZYR 90, de Moacyr Spósito Ribeiro, fundada em 1953. E o velho e lendário Moacyr,mais conhecido como “Moacyr da radia”, eraAdhemarista de nascença e “perciliano roxo”. Duro na queda, não dava espaço algum para a oposição. E convenhamos, ele devia ter lá as suas razões.


Um pouco mais tarde, no comecinho da década de sessenta, surgia a Empresa Frama de Publicidade, de Francisco Machado, o Chiquito e seu irmão Dorival. Era um serviço com auto-falantes espalhados pelos quatro cantos da praça e com estúdio instalado no piso superior do prédio das Lojas Riachuelo, na esquina da Rua São Paulo com a antiga Avenida Sete. Numa sala ao lado, Dorival Machado montou a famosa Escola Remington, onde a exigente professora LedismanBrambati Bernardes, lecionava aulas de datilografia. Muitos dos meus amigosguardam até hoje o famoso“diploma” que era entregue aos alunos que concluíssem o curso.

O “Repórter da Cidade” como ficou conhecido, entrava “no ar” logo de manhã apresentando notícias, hora certa, música, recados, avisos e “reclames” das lojas do comércio. E foi nos microfones da Frama, que muita gente boa começou a carreira de radialista. Por ali passou muita gente que fez história no rádio fernandópolense. Édio Alves de Oliveira, José Maria Theodoro, Nivaldo Thomaz de Souza, Adonai César Mendonça, Valtinho de Castro, Amélia Rosa Sanfelice Nogueira, Darci Araújo e tantos outros.


Dia desses, nosso amigo Warner Casare, lembrava que o lendário Wilfredo de Souza Nazareth, dono da famosa Casa Santa Rita, era um orador nato, daqueles que subia até em caixote para fazer discursos, ali começou como sonoplasta e mais tarde, com seu vozeirão empostado, fez sucesso como locutor. Na época da fundação do então povoado de Ouroeste, uma frase de sua lavra, ficou famosa: “Ouroeste, a cidade do presente, a garantia do futuro”.


Apesar da baixa potência e do pequeno raio de alcance, o “Repórter da Cidade” não era páreo para a ZYR 90, mas era uma pedrinha chata no sapato de Moacyr Ribeiro, porque acabava interferindo na frequência da Cultura, nas vizinhanças da Praça Joaquim Antonio Pereira. Um bom exemplo disso, acontecia na Alfaiataria Almeida, de Oswaldo José de Almeida, o “Baixinho Alfaiate”,onde era quase impossível sintonizar a Cultura. E olhe que a emissora do velho Moacyr era potente, tanto que naquele tempo, suas ondas sumiam pelos confins do sertão de Minas e Mato Grosso. Tinha até um “slogan” que terminava dizendo; “Unindo quatro Estados da União: São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás”.


Na metade dos anos sessenta, a ala pachequista se organiza e Leodegário Fernandes de Oliveira, o Filhinho, monta em Fernandópolis a Rádio Educadora Rural. Foi quando vieram para cá Emerson Sumariva, Alencar “Cesar” Scandiuzi e Anésio Pelicione, o Codorninha. Nessa época, houve uma debandada geral do “cast” do “Repórter da Cidade”. Todo mundo foi trabalhar na Educadora, inclusive o dono da Frama, Chiquito Machado, que por muitos anos manteve no ar a famosa e saudosa “Escolinha do Papai Dodô”, comandada por ele e pelo eclético Marcos Alberto, o saudoso Marcão.


Um ou dois anos depois, chegava por estas bandas, a televisão, a novidade do século. Tanto que num canto da praça, quase na esquina da Rua São Paulo com a antiga Avenida Seis, que naquele tempo ainda era de mão dupla defronte a Igreja Matriz, montaram uma “torre” cheia de placas de propagandas, e lá no meio delas, um “moderníssimo” aparelho de televisão de 20 polegadas em preto e branco, para o “povão” assistir TV de graça. E olhe que lotava de gente para ver os programas e as novelas da extinta Rede Tupi. Impressionante. Semana que vem tem mais. Até lá.




últimas