NA CURVA DO RIO

O Jeep do Compadre Geraldo

O Jeep do Compadre Geraldo

Por Chico Piranha

Por Chico Piranha

Publicada há 6 anos


Por volta de 1964, o Banco do Brasil criou uma linha de crédito para financiar os lendários Jeeps fabricados pela Willys Overland do Brasil. Naquele tempo, a agência mais perto de Aparecida do Taboado era em Paranaíba, e o sonho do compadre Geraldo de Mello era ter um Jeep. Como era todo desajeitado com a papelada, tratou de chamar o compadre Rubens Toscano, aqui de Fernandópolis, para cuidar da documentação para ele.

           E os dois foram até a agência do banco. Seu Geraldo fez a proposta e recebeu uma lista de documentos, certidões e registros para providenciar. Ficava indo e vindo, pra lá e pra cá. Já estava agoniado com aquilo, mas a vontade de comprar o Jeep era muito maior que seu avechamento. Depois de muita peleja, o contrato acabou saindo. Com dinheiro vivo na mão, foram prá agência da Willys Overland, mais próxima, em Cassilândia.

          - Compadre Geraldo, olhe que beleza. Aqui é a primeira marcha, aqui a segunda, a terceira...

          - Opa! - esbravejou o sistemático compadre Geraldo - Tô gostando disso não. Custei demais pra comprar esse Jeep, mas não quero nada de segunda, não. Quanto mais de terceira...

          E quase desmanchou o negócio. A sorte foi o Rubens Toscano, muito jeitoso, foi explicando:

          - Calmacompadre, não tem material de segunda aqui não. Segunda e terceira que eu falei, são as marchas...

          Compraram o carro e vieram embora. O Rubens dirigindo o Jeep, ele, curioso, olhando e perguntando tudo. No caminho para Taboado, onde o compadre Geraldo mora até hoje, passaram e pararam um campinho de futebol, para ele treinar um pouquinho a direção. Chegando na cidade, o Rubens voltou para Fernandópolis e combinou de voltar no fim de semana para novos treinos.

          Para surpresa dele, no dia seguinte, o Compadre Geraldo  chegou dirigindo o Jipão novinho em folha, aqui em Fernandópolis.

          - Compadre Geraldo, mas que surpresa! Uai, sô, mas o senhor tá bom demais, já ficou craque na direção do bichão!

          - Menino, eu tô é muito melhor que você imagina. Até consertar esse trem, eu já tô dando conta. Chegando em Santa Fé, parei lá no posto da entrada, desci, mandei encher o tanque  e, quando eu bati na chave, quem falou que o Jeep quis pegar? Aí,eu pensei: êpa, esse trem nem amaciou e  já tá dando problema. Parei, fiquei olhando para ver o que eu fazia e aí vi esse araminho desamarrado. Abri a caixa de ferramenta, peguei um alicate, apertei bem apertadinho, voltei, bati na chave e ele pegou na hora.

          O compadre Rubens, claro, caiu na risada. O Compadre Geraldo, coitado, tinha apertado o arame da placa. O problema era que Jeep tinha afogado. Enquanto o velho Geraldo amarrou o arame, o carro desafogou e ele conseguiu dar a partida.




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