Por O. A. SECATTO
— Ficou sabendo do Chávez?
— Que que tem?
— É que ele...
— Tá, já sei: o Silvio Santos mudou ele de horário de novo.
— Não. Ele...
— Ele quem? O Silvio?
— Não, o Chávez!
— Que tem ele?
— É isso que eu tô tentando falar!
— Então para de enrolar e fala logo!
Uma pausa, com olhar de incredulidade e indignação.
— O Chávez morreu!
— Não!
— Sim.
— Não!!
— Sim, estou dizendo.
— Não!!! Três vezes não!
Outra pausa; o mesmo olhar.
— Que bom, você sabe contar... Mas por que o espanto e essa aparente tristeza?
— Pô, eu sabia que ele não gravava mais fazia tempo, que estava com a saúde debilitada, mas só de ele estar vivo já era uma alegria, sabe...
— “Gravava”? Ele até apareceu na tevê em dezembro de 2012, mas...
— É, eu sei. Naquele especial que lhe fizeram uma homenagem. Ele já estava bem fraquinho... Passou até no Ratinho.
— O Chávez?
— É, não é?
— Estou falando do Hugo!
— Não é do Roberto?
— Que Roberto?
— O Bolaños.
— “Bolaños”? Não, não, nadavê.
— Não é aquele que o Kiko vive mandando calar a boca?
— Não, quem mandou ele calar a boca foi o rei da Espanha.
— E desde quando o Kiko é “rei da Espanha”?
— Ai, meu Deus... Estou falando do Hugo Chávez, presidente da Venezuela!
— Por que você não explicou desde o começo?...
— Você que...
— Eu nada, nem vem. Você sabia que ele era chamado de “Chespirito”?
— O Chávez?
— Não, o Bolaños.
— Por quê?
— Chespirito é uma forma castelhanizada de “Shakespeare”. Eles o consideravam “um pequeno Shakespeare”.
— Interessante, mas nadavê. Quem morreu foi o Hugo Chávez, aquele maluco que achava que era Deus e sentia cheiro de enxofre em tudo o que era dos Estados Unidos. Até que o câncer ensinou a ele o contrário. Bem lentamente.
— Credo.
— Mas acho que ele aprendeu a lição. De forma bem definitiva. E foi tarde.
— Tudo bem, mas... E o Bolaños?
— Quem?
— O Chespirito!
— Não, esse tá tudo bem.
— Ufa.
— Quer dizer, deve estar bem lá onde se encontra desde 2014.
— Que que tem 2014?
— O Chaves morreu.
— Mas ele não morreu em 2013?
— Não, esse era o Chávez.
— E o outro?
— Chaves.
— E qual a diferença entre eles, afinal?
— Uma dona Florinda.
“Pô, eu sabia que ele não
gravava mais fazia tempo,
que estava com a saúde debilitada,
mas só de ele estar vivo
já era uma alegria, sabe...”