ZÉ RENATO
Quando iniciei meu trabalho como professor — há quase 35 canos —, na primeira semana de aula, entrei numa sala de “primeiro colegial” — essa era a nomenclatura —, se não me engano, “1.º H”, havia um jovem de 16 anos, combativo, independente, autônomo, corajoso e perspicaz, uma capacidade de absorção de conhecimento acima da média. O mais importante: bem-humorado. Logo passei a admirá-lo e a respeitá-lo. Era um desafio para um jovem inexperiente e iniciante no ofício.
Convivemos um ano. 1984.
Não era concursado. Lecionar significava “pegar o que aparecesse de aulas”. Não consegui as mesmas turmas para o ano posterior. Atribuíram-me aulas na mesma unidade de ensino, todavia, no período da tarde.
Somente reencontrei o Ailton — esse é o “antigo” menino —, alguns anos depois. Para minha surpresa e felicidade: formara-se professor. Historiador, graduado pela PUC. Mais um filho da PUC!
Nos encontramos em meio às manifestações, greves e lutas dos professores por salários decentes, condições de trabalho justas e dignas. Detalhe: os mesmos dramas persistem: é o jeito coxinha de governar.
Passamos a nos ver com frequência, na medida em que sempre havia uma treta com o poder público. Assembleias, greves, manifestações.
O melhor da luta: acabava tudo no boteco. Muita cerveja, conversas agradabilíssimas: discutíamos política, o movimento e, por fim, o assunto mais sério e importante: futebol. Alguns anos depois, no início dos 1990, Ailton conheceu uma jovem, bonita, inteligente, com muita vontade de estudar e aprender, cuja característica que inicialmente mais chamou minha atenção foi a capacidade de compreensão e ótima escrita. Essa é a Mônica.
Apaixonaram-se. Começaram a namorar. Ficou sério. Casaram-se em 1996.
Mônica já estudava Filosofia na USP.
Concluiu com brilhantismo.
Anos depois, estudou e graduou-se em Geografia pela PUC. Filha da PUC! Também.
Pelas idiossincrasias da vida, nos afastamos. Fisicamente apenas. Tenho certeza, falo por mim, pela Jacqueline, pelo Ailton e pela Mônica; a afetividade, a amorosidade, o carinho, o respeito, a admiração e o amor continuaram e continuam a prevalecer.
O WhatsApp me reuniu a ambos.
Falta o reencontro físico, real. Acontecerá em breve.
Todavia, para celebrar, tenho a honra e o prazer de apresentar aos leitores do Cultura! meus, nossos — meu e da Jacqueline —, amados e fraternos amigos: Mônica e Ailton.
Divirtam-se, leiam, compartilhem e aprendam com a grande sabedoria de ambos.
Ótima leitura.
Mais um. “Pedro, onde cê vai eu também vou.” Reafirmo o grande Raul. É uma honra, uma alegria, um privilégio, arrebatadores, apresentar um estudante, graduando em Artes Visuais, cuja deferência tenho em lecionar. Pedro é um poeta, na acepção do termo. Alguém cujas letras transpiram vida, drama, dor, sede, horror, todavia, com uma dose incomensurável de lirismo. Desfrutem. Ótima leitura.
“O melhor da luta: acabava
tudo no boteco. Muita cerveja,
conversas agradabilíssimas:
discutíamos política, o movimento
e, por fim, o assunto mais sério
e importante: futebol”