Por Eliana Jacob Almeida
Em uma bela crônica chamada O que os outros vão pensar?, Martha Medeiros declara que, quando criança, não tinha medo de bicho-papão, mula-sem-cabeça ou de bruxa malvada. Quem a amedrontava era outro tipo de monstro. Eles atacavam em bando; chamavam-se “Os Outros”.
Conta a cronista que sua mãe a educou sob o olhar severo dos “Outros”; em várias situações, eles apareciam: “Você vai sair com a calça furada?... O que os outros vão pensar?” “Não vai dormir na casa do namorado, não! Não quero seu nome na boca dos outros!” E por aí vai!
Acredito que comigo não foi diferente, acho que com a maioria das pessoas foi assim. Somos educados e educamos pensando no julgamento alheio, principalmente porque a família é uma referência narcísica; quando os filhos se saem bem, de alguma forma, dividimos o mérito — afinal, fizemos bem nossa tarefa!
Mas, quem são “os outros”, tão importantes em nossa vida? Aqueles que nos vêm à mente quando escolhemos uma roupa para sair, um sapato... Aqueles de quem nos lembramos quando sufocamos um palavrão em público, dos quais escondemos nossos defeitos e para os quais jamais (jamais!) confessamos uma fraqueza?
Ficamos tentando identificar imagens, procuramos rostos conhecidos e nada! Na verdade, esses “outros” compõem um olhar social, abstrato, não têm uma identidade. A despeito disso, esse monstro nos persegue, nos ameaça e nos fragiliza. É pensando nele que fazemos dieta, cuidamos das unhas, do cabelo, passamos perfume e nos comportamos adequadamente. É para o outro que fazemos a foto em frente ao espelho ou em uma bela paisagem; é para mostrar para os outros. Às vezes, trata-se de um desconhecido perigoso: “Não caia na conversa dos outros”; “Não beba nada oferecido pelos outros”; “Não entre no carro dos outros”.
É claro que, vivendo em sociedade, é de extrema importância pensar nos “outros”. Nisso nossas mães acertaram: “Não coma toda a ‘mistura’; pense nos outros”; “Não seja egoísta: empreste..., divida..., compareça às festas e ao velório dos outros”. “Olha o trânsito; respeite a vaga dos outros”; “Não cole dos outros”; “Não ponha a culpa nos outros”; “Não deboche dos outros”, “Cuide bem das coisas dos outros”; “Não fale mal dos outros”.
Não tem jeito, os outros nos assustam, mas também nos orientam a viver melhor em sociedade. Não há como omiti-los. Neste momento estou aqui, quebrando a cabeça para escrever este texto, porque sei que amanhã esta crônica vai ser lida pelos “outros”.
Meu Deus!... Será que os outros vão gostar?