SOLIDARIEDADE

Em meio à pandemia, ouroestense ajuda na doação de alimentos nos EUA

Em meio à pandemia, ouroestense ajuda na doação de alimentos nos EUA

Jornalista e escritor auxilia imigrantes "sem documentos" em Boston: "chorei três vezes fazendo o trabalho"

Jornalista e escritor auxilia imigrantes "sem documentos" em Boston: "chorei três vezes fazendo o trabalho"

Publicada há 4 anos

Fabiano é natural de Ouroeste e também residiu em Votuporanga e Rio Preto antes de ir para os EUA. Foto: Facebook

Da Redação / G1

O jornalista Fabiano Latham, natural de Ouroeste e que atualmente reside em Boston, foi destaque em uma reportagem publicada pelo site G1 na manhã deste sábado, 02. Subscrita pelo jornalista Marcos Lavezo, a matéria mostra a ação de Fabiano junto aos imigrantes que não "estão documentados" e que, sem a ajuda governamental, passam por enormes dificuldades nesta pandemia.

Latham trabalho como jornalista no extinto Jornal Semanário (transformado no diário "O Extra.net") em Ouroeste; no "A Cidade de Votuporanga" e no "Diário da Região" de São José do Rio Preto, sendo que, atualmente, labora no Centro do Trabalhador Brasileiro como relações públicas. 

Ele afirmou nas redes sociais que "muita gente ainda não sabia, mas durante a pandemia estou trabalhando numa campanha do Brazilian Worker Center para distribuir alimentos para imigrantes brasileiros nos EUA. O jornalista Marcos Lavezo, do G1, me procurou para saber como está a situação por aqui e se eu estava em isolamento. Daí contei sobre este projeto e ele fez uma matéria muito bacana. Parabéns à toda diretoria pela iniciativa e árduo trabalho. Obrigado especialmente à diretora Natalicia Tracy pela oportunidade de ter novos aprendizados. FORÇA SEMPRE"!

Confira, na íntegra, a reportagem:

“Chorei três vezes fazendo o trabalho de entrega de alimentos. Mexe demais. É muito horrível ver pessoas em desespero. Chorei na frente da pessoa contando a história. Tem muita gente desesperada. Numa situação dessa temos de acolher e ajudar".

O depoimento é do brasileiro Fabiano Latham, de 43 anos e que mora nos Estados Unidos há cinco anos. O jornalista trabalha como relações públicas no Centro do Trabalhador Brasileiro, que ajuda trabalhadores brasileiros em Boston, no estado de Massachusetts.

Ao G1, Fabiano contou que normalmente atua na divulgação dos serviços, faz contato com a imprensa local e alimenta os veículos de comunicação com as ações do centro. Porém, com a pandemia, passou a doar alimentos para imigrantes sem documentos, já que a ajuda governamental, na maioria das vezes, só chega para quem é cidadão americano ou tem documentação para estar no país.

“Existem muitos imigrantes que não têm documentos, que a gente não chama de ilegal, pois é um termo pejorativo usado para quem entrou pela fronteira do México ou tem alguma ficha criminal. Quem entrou normalmente, acabou ficando e não tem problema criminal, é o imigrante indocumentado. Eles trabalham, pagam impostos, mas não tem legalização”, diz.

Fabiano explica que é, principalmente com esse público, que entra o trabalho da ONG onde atua. Em tempos normais, o Centro ajuda em casos trabalhistas, de imigração e segurança do trabalho. Mas, devido às dificuldades, passou a ter uma força-tarefa.

“O Centro abriu uma exceção e está doando alimentos e é nisso que estou trabalhando e coordenando. Normalmente trabalho como relações públicas, mas acabei sendo chamado para fazer o trabalho e o projeto de alimento para os imigrantes”, diz.

De acordo com o brasileiro, os alimentos chegam ao Centro com ajuda governamental, um fundo criado pelo prefeito de Boston para ajudar as entidades, como o Boston Food Bank, além de doações de empresas e a comunidade em si.

Desde que iniciou a distribuição de alimentos para famílias que perderam o emprego por causa da Covid-19, o Centro do Trabalhador Brasileiro ajudou 5.834 pessoas, totalizando 1.474 famílias atendidas.

Desse total, mais da metade tem famílias com crianças que precisam de fraldas e leite. Por isso o suporte é de extrema importância neste momento.

Segundo a imprensa americana, o estado de Massachusetts tem mais de 3,5 mil mortes por coronavírus e mais de 60 mil casos confirmados.

“Massachusetts é um estado pequeno, mas tem uma concentração gigantesca de pessoas, principalmente por causa das faculdades e da área de medicina. Tivemos muitas medidas de proteção parecidas em outros lugares, mas realmente a doença tem avançado, o problema também é parecido como de outros países e as regiões mais pobres são as mais afetadas”, afirma.

“Depois que conseguimos colocar o projeto em pauta não deu para ficar em casa e fui ajudar. Quando fizemos distribuição de comida ajudei na linha de frente. Agora estou na coordenação, registrando, mas não estou mais no isolamento”, diz.

Mesmo fora da linha de frente atualmente, Fabiano ressalta que trabalha com os equipamentos de proteção contra o coronavírus, como máscara, luvas e álcool em gel.

Expectativa de retorno

Segundo Fabiano, o governo tinha previsto o fim do isolamento social para o dia 11 de maio, mas a data já foi adiada para o dia 18, o que também não vai mais ocorrer. As escolas, de acordo com ele, não voltam mais este ano.

“Estavam falando de junho, mas todo dia surge uma mudança. Não trabalhamos com data fixas porque cada hora muda. Tende a mudar mais por causa do número de casos e de mortes. Como o governo deu ajuda para os documentados, a gente tem mantido a ajuda também.”

No início da pandemia nos Estados Unidos, houve uma corrida dos americanos aos supermercados para estocar alimentos e materiais necessários, mas agora a situação está normalizada na cidade onde Fabiano vive.

“No começo teve loucura de acabar papel higiênico, papel toalha, lenços, agora já tem com limitação de dois por pessoa. Alimento em si não tem problema, só vou em um mercado perto de casa, mas a gente não está tendo problemas com falta de alimento. Só restrição de supermercado, limites de pessoas”, afirma.

Fabiano também mudou a rotina na vida pessoal, como não encontrar mais amigos e está fazendo videochamadas. Em Boston tem toque de recolher a partir das 21h.

"Não tenho encontrado ninguém. Falo com meus amigos aqui por vídeo, amigos americanos que não sei quando vou ver. No trabalho somente eu e a diretora vamos. A vida social é zero e não tem como ir a restaurantes, cinema, festa. Tem toque de recolher e a polícia se encontrar te manda para casa”, afirma.

Vindas ao Brasil

Fabiano é natural de Ouroeste (SP) e viveu e trabalhou em São José do Rio Preto (SP). Ele foi para os Estados Unidos com a intenção de ficar seis meses, mas acabou estendendo o visto americano e já está há cinco anos.

Além do trabalho na ONG, Fabiano é escritor e esteve no Brasil em janeiro para lançar o livro “Enfrente – Reflexões para Ressignificar sua Jornada”. Nos Estados Unidos, ele trabalha na ONG e faz um trabalho voluntário para um programa americano de mentoria, que agora faz online.

“Me mudei para os Estados Unidos para ampliar minha performance no estudo de inglês e depois de muitos desafios e aprendizados resolvi permanecer mais tempo desenvolvendo treinamentos e processos de coaching presenciais e online. Graças à tecnologia, continuo conectado ao Brasil, atendendo por videoconferência e eventos presenciais periódicos”, afirma.

Fonte: g1.globo.com / Marcos Lavezo


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