Ao meu pai: a despedida de uma filha

Ao meu pai: a despedida de uma filha

Especial Dia dos Pais: os últimos agradecimentos de uma filha

Especial Dia dos Pais: os últimos agradecimentos de uma filha

Publicada há 3 anos

MINUTINHO

Tolerância

Por: Divaldo Pereira Franco

Entre as muitas sequelas do longo período da pandemia de COVID-19, que arrebatou preciosas vidas e praticamente anulou outras, encontram-se os indivíduos que se livraram da terrível peste, mas que apresentarão vários tumultos comportamentais.

Já se pode notar os choques de opinião entre as criaturas humanas, a neurose da irritabilidade, o mal-estar interior, os casos de depressão, como resultados lamentáveis das pressões emocionais de outro porte na conduta diária.

Algumas pessoas apresentam-se aparentemente tranquilas e gentis, enquanto tudo está bem e nada lhes perturba a maneira como se conduzem.

No entanto, basta uma ligeira divergência no campo das ideias ou uma chamada de atenção, mesmo que feita com delicadeza e irrompe o mau humor, numa demonstração de raiva que surpreende.

A tolerância é uma virtude pouco utilizada, porque o ego está exigindo sempre consideração e respeito, sem a preocupação com a retribuição do mesmo quilate.

As criaturas humanas parecem armadas umas contra as outras, permanecendo em atitude defensiva, sempre em alerta contra tudo que possa afetá-las negativamente.

Amigos se ofendem mutuamente, familiares se hostilizam dentro de casa, cujas paredes parecem comprimir aqueles que são obrigados a permanecer nele, evitando aglomerações.

A desobediência generaliza-se, às vezes contra os governos, os hospitais, e os cônjuges inquietos se sentem frustrados, acreditando que não estava na agenda da existência, casamento.

Os filhos vivem irritáveis com os compromissos que devem atender, falta de espaço para brincar e reclamações constantes dos pais.

Toda essa indisciplina também pode ser explicada pela falta de educação doméstica de que somos vítimas.

As seduções infelizes, a falta de orientação em relação à sociedade, o mal uso dos direitos sempre reivindicados, sem o exercício correto dos deveres, os hábitos doentios na vida doméstica, aumentam e ultrapassam os limites do controle, fazendo com que cada um seja no momento, aquilo que sente, quando deveria manter as regras do bem viver.

Tolerância é o sentimento lógico de conceder ao outro, os mesmos valores que oferece a si mesmo. Mesmo um pouco mais: demonstrar que a verdadeira liberdade não pode dispensar os requisitos impostergáveis da fraternidade, que devem estar em vigor em toda e qualquer situação social.

O cidadão e a cidadã de bem são pessoas que se destacam na comunidade, com o objetivo de ajudá-la, sendo estes os momentos de desafio dos ideais para demonstrar a qualidade dos valores que sustentam a sua existência.

Acreditamos que depois dessa tempestade mórbida, aqueles que sobreviverem, darão mais valor à jornada humana e compreenderão a grandeza das aquisições éticas e morais.

Que cheguem logo aqueles futuros dias de tolerância e paz!

CRÔNICA

Ao meu pai: a despedida de uma filha

Por: Vanessa Andrade

A filha do cinegrafista da “TV Bandeirantes” Santiago Andrade, 49, publicou uma emocionante carta de despedida em sua página no Facebook nesta segunda-feira (10/02/2014). O cinegrafista teve morte encefálica diagnosticada nesta manhã, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde. Santiago foi atingido na cabeça quando registrava o protesto contra o aumento das passagens de ônibus no Rio, na quinta-feira (6). Leia o texto de Vanessa na íntegra:

“Meu nome é Vanessa Andrade, tenho 29 anos e acabo de perder meu pai. Quando decidi ser jornalista, aos 16, ele quase caiu duro. Disse que era profissão ingrata, salário baixo e muita ralação. Mas eu expliquei: vou usar seu sobrenome. Ele riu e disse: então pode! Quando fiz minha primeira tatuagem, aos 15, achei que ele ia surtar. Mas ele olhou e disse: caramba, filha. Quero fazer também. E me deu de presente meu nome no antebraço. Quando casei, ele ficou tão bêbado, que na hora de eu me despedir pra seguir em lua de mel, ele vomitava e me abraçava ao mesmo tempo. Me ensinou muitos valores. A gente que vem de família humilde precisa provar duas vezes a que veio. Me deixou a vida toda em escola pública porque preferiu trabalhar mais para me pagar a faculdade. Ali o sonho dele se realizava. E o meu começava. Esta noite eu passei no hospital me despedindo. Só eu e ele. Deitada em seu ombro, tivemos tempo de conversar sobre muitos assuntos; pedi perdão pelas minhas falhas e prometi seguir de cabeça erguida e cuidar da minha mãe e meus avós. Ele estava quentinho e sereno. Éramos só nós dois, pai e filha, na despedida mais linda que eu poderia ter. E ele também se despediu. Sei que ele está bem. Claro que está. E eu sou a continuação da vida dele. Um dia meus futuros filhos saberão quem foi Santiago Andrade, o avô deles. Mas eu, somente eu, saberei o orgulho de ter o nome dele na minha identidade. Obrigada, meu Deus. Porque tive a chance de amar e ser amada. Tive todas as alegrias e tristezas de pai e filha. Eu tive um pai. E ele teve uma filha. Obrigada a todos. Ele também agradece. Eu sou Vanessa Andrade, tenho 29 anos e os anjinhos do céu acabam de ganhar um pai".

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