Uma pessoa habilidosa em resolver cálculos matemáticos complexos certamente é inteligente.
É criativo quem compõe belíssimos poemas ou escreve um best-seller, boas peças de teatro ou bonitas canções.
É impressionante a facilidade de um poliglota ao dominar vários idiomas, assim como nos chama a atenção casos de pessoas aprovadas nos primeiros lugares em concursos públicos concorridos.
Um grande filósofo se eterniza no tempo ao criar uma obra que se torna um clássico e nos faz pensar no sentido da vida. Afinal de contas, esse é um dos grandes objetivos da Filosofia.
Mas a inteligência humana pode ser balizada apenas no domínio de certas atividades intelectuais? A resposta é não!
Já vi homem pouco letrado, trabalhador na zona rural, dominar várias técnicas diferentes ao mesmo tempo, como consertar tratores, lidar muito bem com o gado bovino (de corte e leiteiro), domar cavalos (doma racional), fazer cercas e currais, conhecer as técnicas de plantio de várias culturas agrícolas, identificar plantas medicinais e nome de diversas espécies de árvores nativas de sua região.
Esse mesmo homem humilde do campo bate o olho em uma cobra e sabe o nome popular da espécie e se é venenosa ou não, tem noção de primeiros socorros, consegue prever o tempo com base nos sinais da natureza, dentre outras habilidades. E detalhe: aprendeu na prática, observando, por necessidade ou curiosidade, na lida do dia a dia, sem ir à escola ou muito menos à faculdade.
Um camponês como esse, talvez, não consegue resolver um cálculo complicado de Matemática, mas um grande matemático, por sua vez, provavelmente não possui nem um terço das habilidades daquele homem humilde. E aí? Consideramos como inteligente apenas o matemático? Claro que não!
Pense em uma equipe de pedreiros, carpinteiros e pintores construindo casas, do alicerce ao acabamento. Já reparou na complexidade e na quantidade de componentes presentes em uma residência? Você consegue construir uma casa?
Imagine a seguinte situação: um consagrado cientista, detentor de vários títulos acadêmicos, trafegando sozinho com seu carro por uma rodovia isolada e perigosa, sem sinal de celular. De repente, o seu veículo para de funcionar devido a problemas mecânicos, talvez elétricos, podem ser hidráulicos. Quem sabe a causa? De qualquer forma, tudo o que ele iria desejar, com certeza, é a presença de um mecânico de automóvel no local, que saberia detectar o problema e consertar o seu carro.
Com boa dose de sorte o tal mecânico aparece e tira o cientista daquela situação embaraçosa. Quem é o inteligente naquele momento? Somente o cientista famoso?
Por vivermos em sociedade, dependemos uns dos outros e, como consequência, estabelecemos diversas relações sociais, por isso, a inteligência humana se manifesta de várias formas.
Do simples encanador e eletricista resolvendo pequenos problemas domésticos ao engenheiro elaborando grandes projetos. Do soldado no campo de batalha salvando vidas por conhecer técnicas de primeiros socorros ao neurocirurgião operando milagres com suas mãos habilidosas. Do homem humilde do campo com suas múltiplas habilidades práticas ao poeta genial e criativo compondo uma obra que revigora a alma. Todos exibem um tipo de inteligência, uma espécie de conhecimento.
Portanto, com o perdão do trocadilho, não é inteligente acreditar que a inteligência humana se limita a poucas manifestações intelectuais, por exemplo. A inteligência humana é diversificada, plural.
A inteligência humana nos revela vários saberes, como disse um dia Paulo Freire - “Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes”.