Crônica: O anjo surdo

Crônica: O anjo surdo

Especial Dia das Mães: Ela salvou 52 crianças

Especial Dia das Mães: Ela salvou 52 crianças

Publicada há 1 ano

MINUTINHO

Aflições

Por: Emmanuel/Chico Xavier

Os aflitos ordenam-se em várias expressões.

Há quem se aflija por não conseguir vingar-se ou se infelicita com a prosperidade do próximo.

Existe quem se afirma desditoso por não poder competir com o luxo ostentado por outrem ou quem chora de inveja e despeito ante a educação e melhoria de vida do vizinho.

Há os revoltados contra o trabalho ou a ordem e os inconformados com o sofrimento que eles próprios improvisaram.

Há infinitos gêneros de aflição e, por isso, nem todos os aflitos alcançam a bem-aventurança.

A palavra do Cristo se dirige aos que fizeram da dor um instrumento de elevação de si mesmo.

Acautela-te, se conservas alguma aflição.

A angústia, muitas vezes, pode ser antecâmara do desequilíbrio.

Converte o teu problema ou a tua mágoa em motivo de superação das próprias fraquezas, à semelhança do batalhador que aproveita o obstáculo para atingir os seus mais altos objetivos.

Assim, converterás as inquietações do mundo em bem-aventuranças para a felicidade sem fim.

CRÔNICA

Uma heroína

Por: Reader´s Digest

Foi em dezembro de 1944 que tudo começou. Caminhões chegaram no campo de concentração de Bergen-Belsen e despejaram 54 crianças. A mais velha delas tinha 14 anos e havia muitos bebês.

No alojamento das mulheres, Luba Gercak dormia. Acordou sua vizinha de beliche e lhe perguntou: Está escutando? É choro de criança. 

A outra lhe disse que voltasse a dormir. Ela devia estar sonhando. Todos conheciam a história de Luba. Ainda adolescente se casara com um marceneiro e tiveram um filho, Isaac. Quando veio a guerra, os nazistas lhe arrancaram dos braços o filho de três anos e o jogaram em um caminhão, junto com outras crianças e velhos. Todos inúteis para o trabalho e, portanto, com destino certo: a câmara de gás. Logo mais, ela pode ver outro caminhão arrastando o corpo, sem vida, do marido. No primeiro momento, desistira de viver. Depois, a fé lhe visitou a alma e ela percebeu que Deus esperava muito mais dela. Então, passou a ser voluntária nas enfermarias.

Agora, Luba ouvia choro de crianças. Quem seriam?

Abriu a porta do alojamento e viu meninos, meninas, bebês apinhados, em choro, no meio do campo. Separados de seus pais, se encontravam desnorteados e tinham fome e frio. Luba as trouxe para dentro. E porque protestassem as demais ocupantes do infecto alojamento, ela as repreendeu, dizendo:

- Vocês não são mães? Se fossem seus filhos, diriam para que eu os deixasse morrer de frio? Eles são filhos de alguém. Em verdade, o que suas companheiras temiam era a fúria dos soldados da SS.

Imagem: Ilustração/Campo de Concentração Auschwitz/Getty Images

Luba agradeceu a Deus por lhe ter enviado aquelas crianças. O seu filho morrera, mas faria tudo para que aquelas crianças vivessem. Foi até o oficial da SS no acampamento e lhe contou o que fizera. Pôs sua mão no braço dele e suplicou. Ele se deu conta que ela o tocara, o que era proibido, e lhe aplicou um soco em pleno rosto, fazendo-a cair. Ela se levantou, o lábio sangrando e falou: Sou mãe. Perdi meu filho em Auschwitz. Você tem idade para ser avô. Por que há de querer maltratar crianças e bebês?

- Fique com elas, foi a resposta seca do oficial.

Mas ficar com elas não era suficiente. Era necessário alimentá-las. Nos dias que se seguiram, todas as manhãs, ela ia ao depósito, à cozinha, à padaria, implorando, barganhando e roubando alimentos. Os meninos ficavam à janela e quando a viam chegar diziam uns aos outros: 

- Lá vem irmã Luba. Ela traz comida para nós! 

À noite, ela cantava canções de ninar e as abraçava. Era a mãe que lhes faltava. As crianças, que falavam holandês, não entendiam as palavras de Luba, que era polonesa, mas compreendiam seu amor.

Em 15 de abril de 1945, os tanques britânicos entraram no campo, vitoriosos, e em seis idiomas passaram a rugir os alto-falantes: 

- Estão livres! Livres!

Luba conseguira salvar 52 das 54 crianças que adotara como filhos do coração. Ela recebeu, em nome da rainha Beatriz, a medalha de prata por serviços humanitários, mas sempre declarou que sua maior recompensa era estar com aqueles seus filhos que, com o apoio de Deus, conseguira salvar da sombra dos campos da morte.


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