EM FERNANDÓPOL

'É preciso evitar erros no Distrito VI' declara economista

'É preciso evitar erros no Distrito VI' declara economista

Publicada há 7 anos

Por João Leonel 


Economista Jair Moraes 



O Extra.net”, através de uma série de entrevistas e artigos do economista fernandopolense Jair Carlos Pires de Moraes - já publicados ao longo de 2016 -, revelou detalhes e estratégias de seu amplo planejamento de geração de emprego e renda. Jair Moraes sempre enfatizou que “a saída é aumentar o PIB Industrial”. Agora, o mestre em economia industrial e sócio da empresa JD Moraes Gerenciamento, focado no Distrito Industrial VI, aborda nesta entrevista exclusiva diversos temas visando o “renascimento industrial” de Fernandópolis. Dando ainda mais amplitude à “visão macro” sobre a economia do município, Moraes salienta que “o sucesso no processo de implantação do Distrito VI depende de instituições inclusivas, e a Prefeitura é a principal delas, também através do Prodesf”. 


De acordo com Moraes, o sexto parque empresarial da cidade precisará muito mais do que os R$ 2 milhões que serão liberados pela Desenvolve SP, agência de desenvolvimento paulista, para viabilizar seu pleno funcionamento. Com uma mensagem positiva sobre o futuro do VI Distrito, o economista apresenta seu diagnóstico: “Vale a pena acreditar neste projeto. A partir do momento em que a ocupação do DI-VI estiver próxima dos 100%, o setor industrial de Fernandópolis poderá acrescentar algo em torno de R$ 165 milhões/ano em seu PIB”. 


O EXTRA: Qual o valor total do investimento para a implantação do Distrito Industrial VI em Fernandópolis? 

JAIR MORAES: Inicialmente, temos os seguintes investimentos: aquisição da área, já efetuada, com R$ 1,8 milhão pelos 10 alqueires (inclui correção monetária); terraplanagem na marginal de acesso, R$ 500 mil (custo de oportunidade); asfalto da marginal de acesso, R$ 1 milhão; infraestrutura parcial R$ 3,3 milhões (inclui encargos); licenciamentos, ambiental e outros, R$ 100 mil; outros gastos, R$ 200 mil (projetos, etc). Total estimado: R$ 6,9 milhões. Mas temos que deixar claro que nenhuma cidade consegue ter um futuro brilhante se não investir em geração de emprego e renda, mesmo em crise.


 Agora, diante de um cenário de grandes restrições financeiras no plano macroeconômico, a Prefeitura de Fernandópolis encara o desafio para iniciar os primeiros passos na implementação do DI-VI. Possibilitar o acesso através da abertura de uma marginal que chegue ao DI-VI é uma decisão interessante e necessária para os próximos passos e fases de implantação. 


O EXTRA: E o retorno financeiro de um investimento tão alto como esse? 

JAIR MORAES: Os R$ 6,9 milhões poderiam ser usados, alternativamente, em benefícios diretos para a população, na prestação de tantos outros serviços em prol da cidade e munícipes, certo? Mas, como já enfatizei, a cidade que não investir em programas de longo prazo na geração de emprego e renda não tem futuro. Caberá à Prefeitura, através de todas as suas Secretarias Municipais envolvidas neste projeto, se empenhar na ocupação inteligente do DI-VI por empresas que deverão criar riqueza e emprego. 


Além dos impactos favoráveis e de difícil avaliação métrica dos resultados, os atuais gestores públicos da municipalidade deverão focar seus esforços na produção do “valor agregado” e empregos diretos das futuras empresas e indústrias. A verdade é uma só: sem geração de valor agregado, a Prefeitura não pagará os investimentos feitos no DI-VI, isso aumenta muito a responsabilidade, mas aumenta mais ainda a oportunidade da riqueza industrial de Fernandópolis crescer e provocar crescimentos indiretos no comércio, nos serviços e nos demais setores da economia local. É um risco que precisa ser enfrentado, desde que esteja preparado para isso. 


O EXTRA: Há alguma estimativa para determinado “crescimento indireto” na economia local? 

JAIR MORAES: O prazo estimado para o retorno dos investimentos aplicados no DI-VI pode ser de até 10 anos. Isso para que os recursos injetados retornem aos cofres da Prefeitura de Fernandópolis. Compromissos com agências de financiamentos, ao longo dos próximos 5 ou 6 anos, não serão nenhum problema, desde que as empresas lá instaladas gerem riqueza, que é o valor agregado e mais empregos. Esse ciclo cria mais receitas para o município, ou seja, as empresas que ocuparão o futuro DI -VI deverão criar um montante de valor agregado ao longo dos próximos anos que seja suficiente para ser transformado em arrecadação, a qual poderá pagar as amortizações dos investimentos no prazo de até 10 anos. 


O EXTRA: Toda essa conjunção de fatores impulsionará o PIB atual de Fernandópolis? 

JAIR MORAES: O quadro do PIB mostra que Fernandópolis gera uma riqueza no setor industrial de algo em torno de R$ 244,1 milhões/ano. A partir do momento em que a ocupação do DI-VI estiver próxima dos 100%, o setor industrial de Fernandópolis poderá acrescentar algo em torno de R$ 165 milhões/ano em seu PIB. Isso pode significar que o atual PIB industrial saltaria para R$ 409,1 milhões/ano, e o PIB total da cidade cresceria para R$ 1,69 bilhão. São valores estimados bem conservadores. Vale a pena acreditar no DI -VI a partir desse instante, de sua ocupação próxima dos 100%. 


O EXTRA: Qual o papel do Prodesf neste momento de implantação do Distrito VI? JAIR MORAES: O Prodesf poderá inovar e ser um órgão inclusivo nesse momento. Creio que o Prodesf já deve ter previsto os benefícios esperados, de maneira detalhada, mas a geração de emprego e renda são os requisitos mais solicitados para justificar tais investimentos. A instalação de um maior número de indústrias adicionais impulsionará a engrenagem da economia de Fernandópolis, possibilitando que a interatividade entre os setores do comércio, serviços, agricultura e pecuária se entrelacem pelas forças do mercado, otimizando o giro dos recursos financeiros e gerando uma arrecadação maior para a cidade. Também espera-se que os índices de desenvolvimento humano da cidade, em toda sua extensão, melhorem: IDH-E, IDH-L, IDH-R e o IDH-M. 


A proposta é inovadora, agora não basta conceder apenas um lote industrial a uma determinada pequena ou média empresa, o órgão gestor deverá mostrar rumos, orientar, motivar e redirecionar os futuros investidores para a melhoria de resultados e, com isso, ser uma instituição que faz a inclusão econômica destes empreendedores, estar conectada com a realidade da situação microeconômica dos vários segmentos de indústrias PMEs, buscando a inclusão delas nas instituições de apoio financeiro e ou tecnológico. 


O Prodesf deverá ser o divulgador máximo das vantagens oferecidas pelo DI-VI e da cidade de Fernandópolis, visando atrair empresas acima do perfil PME para formar um lastro de maior garantia de desempenho macro do DI-VI na busca pelo retorno dos investimentos aplicados. *(Nota da Redação: O Prodesf - Programa de Desenvolvimento Sustentável de Fernandópolis -, substituiu o Prodeic - Projeto para o Desenvolvimento Industrial e Comercial. Através de um conselho, é o órgão que regula a implantação de novas empresas e indústrias na cidade, além de administrar concessões de auxílios a empreendedores no município). 


O EXTRA: De início, o que se faz mais necessário?

 JAIR MORAES: Ao analisar os investimentos, a primeira indagação que se faz é sobre as infraestruturas, que consumirão R$ 3,3 milhões. Será necessário fazer toda a ‘infra’ nesse período inicial, ou pode ser por fases, na medida em que a procura por lotes industriais cresça? Será necessário implementar guias, captação de água, energia, esgoto, tratamento de efluentes, iluminação pública, ruas, pavimentações e internet, tudo isso de uma vez? Sabe-se que não, mas quais são as benfeitorias indispensáveis para que o DI-VI possa funcionar, e o mais breve possível? Vejo que, nesse momento inicial, o que se faz mais necessário é um planejamento de prioridades para o desembolso de caixa. Um planejamento ajustado a um cronograma de fases na implantação do DI-VI possibilitaria uma importante, ou fundamental - dada a atual situação financeira do município -, economia de recursos à Prefeitura, evitando que ativos públicos fiquem parados sem uso e sem ocupação. 


O EXTRA: Qual a estratégia para a distribuição espacial de lotes entre as futuras indústrias?

 JAIR MORAES: Algum tempo atrás falava-se em mais de 80 empresas pretendentes aos lotes do DI-VI, mas qual o perfil delas? Seriam indústrias já existentes na cidade e que gerariam ainda mais empregos pela expansão da capacidade produtiva? Ou indústrias de grande porte que exigiriam grandes áreas, sendo que as mesmas estariam, neste momento, fora do programado? Seriam pequenas indústrias localizadas, atualmente, em áreas urbanas, em situação de restrições de crescimentos por espaço e por falta de melhor enquadramento legal? Pequenas e médias indústrias que nasceriam diretamente dentro do DI-VI? O formato de um padrão médio do perfil das empresas a serem aceitas, no que se refere ao porte delas, ao potencial de geração de emprego, ao domínio de novas tecnologias de produção e à capacidade financeira delas, deve ser levado em conta, como um “vestibular empresarial” para serem aceitas no DI-VI. 

Microempreendedores industriais poderiam ser direcionados à incubadora industrial. 


O EXTRA: Como em qualquer investimento, há riscos neste projeto do VI Distrito?

 JAIR MORAES: Um risco imediato é o atual cenário de recessão econômica que se abate sobre o Brasil. As indústrias vêm de um “sofrimento” econômico-financeiro há vários anos, o que causou uma descapitalização financeira das mesmas, devido ao desempenho da economia brasileira, que está e continua em baixa. Dificuldades de caixa inibem qualquer empresário industrial a pensar em novos investimentos. Vários distritos industriais fracassaram em SP e demais Estados. Da elevada motivação inicial e posteriormente pelo abandono dos órgãos públicos municipais à conservação da infraestrutura. O descuido com a “business-quality” e da avaliação do potencial das empresas pretendentes, para designá-las ao distrito industrial, dando prioridade apenas à quantidade esquecendo-se da exigência de um projeto de viabilidade econômico-financeira para justificar o aceite ou não da referida pretendente. 


A ocupação do DI-VI pelas empresas PMEs pode levá-las a uma armadilha financeira fatal. Cabe ao órgão gestor do DI-VI (Prodesf) a função de desarmar essa armadilha, que se origina quando a empresa resolve se transferir para o distrito industrial. Ao analisar o projeto exigido da empresa, o órgão gestor poderá detectar essa ameaça e tentar equalizar os aspectos financeiros antes da ocupação. A ocupação pelas empresas PMEs leva as mesmas a investirem recursos de capital de giro fora de seu alcance, causando o “efeito tesoura” (quando o crescimento da necessidade de capital de giro próprio fica muito acima da sua estrutura financeira real), expondo-as a níveis de riscos elevadíssimos. 


Pode ocorrer que determinados órgãos da Prefeitura sejam incapazes de legitimar e legalizar as escrituras imobiliárias dos lotes ocupados pelas empresas, isso impede as mesmas de utilizarem esses ativos como garantia de futuros financiamentos: é o golpe final. Por isso, erros devem ser evitados, o que passa por uma nova forma da Prefeitura enxergar o desenvolvimento da cidade. Analiso um investimento significativo e que tem que ter um retorno eficiente. Minhas ponderações refletem também todas as preocupações de um economista, não se trata de ser contra algo novo. Tem que ter eficiência.   


O EXTRA: Quais os possíveis segmentos industriais que podem se instalar no Distrito? 

JAIR MORAES: Os segmentos notáveis de mercados, das indústrias esperadas para o DI-VI, principalmente na geração de emprego, estariam alinhados com os negócios de produção alimentícia, metalúrgicas genéricas, moveleiras, artefatos de alumínio e outros metais. Construção civil, farmacêutica, indústria do fracionamento, eletrônica, elétrica e auto peças moto-rodo-ferroviário, entre outras. Mas, em média, dependendo do posicionamento tecnológico da empresa, para se criar uma nova vaga, os empreendimentos precisam investir algo em torno de R$ 50 mil a R$ 200 mil em seus projetos de expansão. No entanto, sabe-se por experiências históricas que um distrito industrial, especificamente no noroeste paulista, somente se sustentará com a pluralidade, a diversidade e a flexibilidade dos segmentos industriais a serem aceitos em sua ocupação.




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