Vinte e cinco de abril de 1984. Faz trinta e quatro anos!
Completava-se a primeira década da “Revolução dos Cravos”. Fim da era salazarista. Acabara a ditadura portuguesa. O país já estava democratizado, caminhando para maiores êxitos.
No Brasil, acordamos com uma terrível dor: a derrota da emenda “Dante de Oliveira” na câmara federal.
Morte anunciada, é verdade, sabíamos. Todavia, nos permitimos ao sonho, a paixão de ir às ruas, exigir “Diretas Já”.
A votação ocorrera na noite anterior – aniversário do presidente do PDS, José Sarney -, por sarcasmo e capricho, escolhera aquela data para derrotar o povo esperançado e iludido por melhoras.
Na manhã seguinte, acordamos – nós, a grande maioria do povo – tristes, com a sensação de uma imensa ressaca. Atônitos e frustrados, tivemos de encarar a realidade crua. Por mais que soubéssemos de antemão o fim da farsa.
Na noite anterior, havia me dirigido para a unidade de ensino, na qual iniciaria como professor.
Só fui. Não dei aulas, pois, nenhum estudante permaneceu. A justificativa: foram para casa, ouvir a transmissão radiofônica da votação da emenda na câmara.
Bons tempos!
Estudantes preocupavam-se com o presente e o futuro.
Pensavam!
Voltei para casa. De busão!
Confesso, não me preocupei de seguir o noticiário. Sabia e não queria saber o resultado de tudo.
Ocupei-me da leitura de “Naked lunch” de William Bourroughs.
Dia seguinte...foi o que escrevi acima.
No entanto, a noite fui para o colégio.
Pela primeira vez, pisei numa sala de aula como professor.
Possivelmente já dissera isso. Foi uma experiência dificílima. Desinibido, preparado, todavia, travara. No momento em que me deparei com uma porção de jovens – como eu -, fitando-me, em silêncio, aguardando um pronunciamento, fiquei imóvel por alguns segundos, apenas a pensar na responsabilidade que havia assumido. A partir daquele momento, tudo aquilo que dissesse, tomariam como verdade. Assim refleti. Portanto, tinha diante de meus olhos, coração e cérebro, uma tarefa grandiosa: fazer a revolução.
Passados trinte e quatro anos, verifico que as utopias, sonhos, expectativas e desejos, no geral, quase que por completo, frustraram-se.
O pior estava por vir...a triste realidade.
“...Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantámo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido. ...” (Fernando Pessoa/Álvaro de Campos, in Tabacaria).