Histórias do T

Lembra das festas juninas de antigamente?

Lembra das festas juninas de antigamente?

Claudinei Cabreira

Claudinei Cabreira

Publicada há 7 anos

Junho chegou e com ele, está ai o “dia dos namorados”, as quermesses e as festas deliciosas festas dos padroeiros Santo Antonio, São João e São Pedro para “esquentar” esse friozinho típico de final de outono, começo de inverno. Haja quentão, né Não? Só que o mundo mudou e com ele mudaram-se as tradições, os costumes, as regras e até o jeito de se fazer as famosas festas juninas. Nada contra as tradições e manias de hoje em dia, mas cá para nós, as festas caipiras de antigamente eram outra coisa e muito mais gostosas e animadas.


Lembranças e alegrias dos velhos e bons tempos, só mesmo aqui no nosso cantinho da saudade, como dizia o velho e saudoso “Poeta da Bola”, Fiori Giglioti. Mas a vida anda pra frente e a gente tem que ter ir prá frente não ser atropelado. Então, vem comigo. Será que você se lembra da última vez que viu a encenação de um casamento caipira? Será que a moçadinha de hoje em dia tem uma mínima

ideia do que era isso? E o romantismo das velhas e animadas quermesses, então?

 

Hoje o povo se junta nessas festas para comer frango assado, batata frita e tomar cerveja. Tomar quentão, comer pipoca ou amendoim torrado, virou coisa do passado. Os correios elegantes deram lugar aos torpedos enviados via redes sociais pelo watzap, facilmente identificáveis. E aí perde a graça. Bom mesmo era o charme do correio elegante de antigamente. E o gostoso era desvendar o mistério e descobrir o autor, que mandava versinhos anônimos caprichados e sempre usava um amigo ou até mesmo o garçom ou leiloeiro de prendas para mandá-lo às escondidas. E será que algum dia você foi parar na “cadeia do amor” por ordem de algum amigo travesso ou de uma paquera não correspondida? Eram tempos divertidos. 


Corria o ano de 1969 e a turma da quarta série ginasial do antigo Colégio Estadual de Fernandópolis, hoje “Afonso Cáfaro”, resolveu organizar uma grande festa junina no pátio da escola. Naquele tempo a turma do ginásio comemorava formatura no final do curso, então, fazer uma grandiosa festa junina, foi o jeito que nós encontramos para arrecadar dinheiro para a nossa festa de final de ano. Local para fazer a festa não era problema, pois além do pátio da escola onde havia um mini palco, havia ainda a quadra de esportes. 


Arrumamos bambu, folhas de coqueiro e começamos enfeitar o espaço com aquelas coloridas bandeirolas de papel crepon. Logo teve um grupo que arrumou lenha para a grande fogueira. Enquanto uma turma ensaiava a dança da quadrilha do “Feijão Queimado”, outro grupo ensaiava as falas do casório caipira. Sei lá por que cargas d’água, acabei sendo escolhido como noivo e a noiva, era minha amiga de classe, a Roseli Badaró, uma palhaça nata, muito mais criativa e divertida qualquer uma dessas humoristas da Rede Plim-Plim. 


Os padrinhos e parentes dos noivos, claro, eram nossos amigos da classe. E o elenco foi se formando; um era o padre, outro era o sacristão, tinha o juiz de paz, o delegado, e o coronel, dono da fazenda onde acontecia o casório, era o Tolentino com cara de brabo e uma garrucha na cinta. O noivo tremendo mais que vara verde, a noivinha muito assustada com aquele povaréu, tinha lá os seus tremeliques e desmaiava no altar. Aí todo mundo acudia, abanando a coitada, que voltava do desmaio, virava os olhos, dava um suspiro e desmaiava de novo.


Era um furdunço danado!


Antes do casório, havia o discurso do coronel, onde o Tolentino, todo paramentado, de paletó de linho branco, chapelão panamá, bota de cano longo e uma garrucha de dois canos na cinta, subia numa cadeira, se ajeitava, dava uma pigarreada e soltava o palavrório: “pela primeira vez que eu falo trepado num casamento...” e ia por ai afora. Depois que o padre fazia os noivos repetirem os votos de casamento, me lembro de uma das falas do noivo, que jurava quase gaguejando: “nóis promete seu Vigário, que vamo vivê sempre bem juntinho. Ela acerca di mim e eu acerca dela!” 


Terminada a cerimônia do casório com o tradicional viva aos noivos, a noivinha jogava o ramalhete de flores de São João, disputado à tapas e puxões de cabelos pelas moças encalhadas. Os noivos deixavam o local debaixo de uma chuva de arroz e seguiam numa carroça enfeitada com folhas de coqueiro e bandeirolas. Logo atrás outras carroças com os parentes, outra com as autoridades e outras com os convidados, desfilando pelas ruas do centro da cidade, soltando foguetes Caramurú. Bons e inesquecíveis tempos.

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