PRAGAS AGRÍCOL

Governo de São Paulo recua e autoriza a caça de javalis no Estado

Governo de São Paulo recua e autoriza a caça de javalis no Estado

Publicada há 6 anos

Da Redação

Pressionado, governo de São Paulo recua e autoriza a caça de javalis no Estado, incluindo a variação javaporco, que destrói plantações na região 



O que você faria se a sua casa fosse infestada por ratos? Imagine que os roedores consumiram parte dos alimentos, contaminaram o ambiente e ainda atacaram os animais de estimação. Diante dessa situação caótica, o que você faria se não pudesse matar nenhum ratinho porque eles são protegidos por lei? Essa era a sensação dos agricultores do Estado de São Paulo ao verem as lavouras destruídas por javalis, numa comparação entre quem vive no campo e quem vive na cidade.


Os produtores rurais de todo o Estado estavam proibidos de caçar javalis e javaporcos, sob pena de multa, desde o último dia 28 de junho, quando foi sancionada a lei Nº 16.784. Mas diante da mobilização de caçadores, agricultores, entidades e políticos, o governador em exercício, Márcio França, recuou e publicou nova regulamentação liberando novamente a caça em São Paulo, na edição de ontem do Diário Oficial do Estado.


De acordo com a Resolução Conjunta entre as Secretarias de Agricultura e Abastecimento e do Meio Ambiente, a decisão leva em consideração "os prejuízos à produção agropecuária, diante da possibilidade de transmissão de febre aftosa e outras zoonoses, bem como ao meio ambiente, com a destruição de nascentes e prejuízos à biodiversidade".


Os produtores comemoram a resolução que estabelece procedimentos para o controle populacional do javali em todas as suas formas, linhagens, raças e diferentes graus de cruzamento com o porco doméstico - como o popular javaporco. Isso porque sem permissão para perseguir, abater, apanhar, capturar e destruir ninhos ou abrigos (com previa a lei Nº 16.784), os agricultores assistiam à destruição causada pelos bandos e contabilizam os prejuízos.


"Alguns produtores da região de José Bonifácio chegaram a perder 30% da produção de milho. Os animais não consomem todo o milho, mas derrubam pelo chão. Estragam mais do que consomem. A invasão acontece todas as noites, ao decorrer da cultura inteira, que varia de 120 a 160 dias", explica o engenheiro agrônomo Andrey Vetorelli Borges, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) - órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.


"Os políticos não conhecem o setor rural. O javali é uma praga agrícola que se prolifera rapidamente. Por onde passa, destrói tudo", afirma o produtor de milho e soja Carlos Missiagia, de José Bonifácio. "O prejuízo é grande. Na minha propriedade, que tem 280 hectares, o bando tem aproximadamente 100 animais de 100 quilos cada. Eles comem e derrubam tudo o que veem pela frente", diz.


De acordo com a Sociedade Rural Brasileira (SRB), a presença de javalis nas áreas rurais é uma grande ameaça ambiental, colocando em risco, inclusive, as ações de prevenção e controle da febre aftosa no País. A entidade alerta que "sem um predador natural ou uma estratégia de manejo, os javalis são capazes de se multiplicar de forma exponencial e ainda atacar animais silvestres, destruir espécies da flora, assorear nascentes e rios, danificar o solo e prejudicar lavouras". Além disso, a SRB informa que "há relatos de ataques a pessoas com ferimentos graves e transmissão de doenças como peste suína clássica e febre aftosa".


Segundo levantamento da SRB, estima-se que no Estado de São Paulo existam mais de 500 mil animais. No Brasil, a espécie é classificada como "exótica invasora" que, de acordo com a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), é definida como "aquela que ameaça ecossistemas, habitat ou espécies".


Reprodução

O presidente da SRB, Marcelo Vieira, explica que sem predadores naturais, a população cresceu rapidamente e se tornou grave problema ambiental em diversos Estados. "Queremos exercer o controle sobre esses animais para mitigar os danos causados, o que não configura maus-tratos ou qualquer tipo de crueldade".


Quem concorda é o engenheiro agrônomo Rafael Salerno, coordenador da Rede Aqui tem Javali. Segundo ele, um dos principais problemas é que a população de javalis consegue dobrar a cada quatro meses. "Ficamos quase dois meses com o abate suspenso. A consequência é o crescimento exponencial", alerta.


De acordo com Salerno, entre janeiro e maio deste ano, as equipes de controle da região de Barretos abateram mais de 500 javalis. "Em quatro meses, esses 500 animais que foram abatidos podiam ser um mil animais", explica. Em todo o Estado de São Paulo, estima-se que foram abatidos mais de cinco mil animais, no mesmo período.


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