CADERNO CULTURA

APESAR DE TANTA BARBARIDADE, O SOL CONTINUA A BRILHAR

APESAR DE TANTA BARBARIDADE, O SOL CONTINUA A BRILHAR

Por Jacqueline Paggioro

Por Jacqueline Paggioro

Publicada há 6 anos

“Não é a polarização, o bem contra o mal, direita versus esquerda.
É mais profundo, muito, muito mais. Trata-se de resgatar a alteridade.
Em enxergar no pequeno, no desprovido, um pouco de nós mesmos”


Em fevereiro deixei de escrever. Uma certa decepção me invadiu. Confesso, tentei algumas vezes voltar, queria fazer uma crônica leve, engraçada, que falasse do “empoderamento feminino”. Diante do teclado e da tela, espremendo as ideias, surgiam frases sem nexo, em seguida apagava tudo. Pode parecer bobagem, mas o tempo cinza que estamos a viver me esvaziou do alento. Neste mundo que nos fustiga de incertezas, necessitamos regressar às nossas humanessências, estava com medo de não as reencontrar em mim. 


Nesta “quase revolta”, ao me deparar com milhares de jovens, dentre eles mulheres, que legitimam o discurso de um boçal, vazio de propostas, repleto de preconceito e ódio, que reforçam a banalização do mal, literalmente cuspo neles. Insistentemente, diariamente. Não dá para ser tolerante com a intolerância! Não é a polarização, o bem contra o mal, direita versus esquerda. É mais profundo, muito, muito mais. Trata-se de resgatar a alteridade. Em enxergar no pequeno, no desprovido, um pouco de nós mesmos. Nem se trata de aguardar um “salvador da pátria”, um messias para nos redimir (esse é o papel da religião). O compromisso que devemos assumir não é moral, ele é ético! É na contradição, no paradoxo e na diversidade que nos constituímos e nos construímos; na assunção da responsabilidade que conquistamos a autonomia. 


Compreendi que a esperança é ação. Que por trás das nuvens, que tornam os dias nublados, ainda brilha o sol. E que, se não dá para mudar o mundo, podemos ao menos tentar modificar a nós mesmos. 


Que a alegria e a poesia possam sempre nos preencher. E nos fazer transbordar!




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