Por Eliana Jacob Almeida
O natural da vida é esperar. No início, sem nos darmos conta disso, vamos descobrindo as pessoas, os sons, os sabores, as emoções, enfim, vamos descobrindo o mundo. Quando percebemos nossa existência, começamos a mostrar nossa insatisfação com o momento presente; o sonho é ter 15 anos, depois chegar logo aos 18, projetando todas as nossas expectativas para o futuro.
E começamos a esperar... Estudamos e esperamos entrar em uma boa faculdade; quando alcançamos esse sonho, começamos a esperar a formatura, depois o emprego. Aí, esperamos pelo reconhecimento de nosso trabalho e o aumento de salário. Depois, esperamos a pessoa certa com quem desejamos construir nossa família e começamos a esperar o casamento. Depois, esperamos os filhos, esperamos a casa própria, o carro novo.
A escola dos filhos, a viagem de férias, a próxima festa, o carnaval, a Páscoa, o Natal. Esperamos um emprego melhor, melhores condições de trabalho, e assim a vida segue... a gente sempre esperando. Acreditamos que só seremos felizes, quando alcançarmos determinada etapa. Enfim, chega a aposentadoria. A gente se dá conta de que não é preciso esperar por mais nada. Já realizamos todos os nossos sonhos, todas as conquistas foram feitas e agora é não ter compromisso com o relógio. O tempo começa a passar mais devagar, a urgência perde sentido. Preciso fazer algo amanhã cedo, mas se não der, vou à tarde; se mesmo assim não for possível, vou depois de amanhã.
Como disse o poeta, “Temos todo o tempo do mundo”. Isso coloca um ritmo mais lento em minha rotina, me acalma e me dá a sensação de que o mundo está girando em baixa velocidade. Aposentei-me! Cumpri minha missão, estou livre para ser quem eu quiser... Não tenho que provar competência para segurar emprego; não tenho que usar salto alto para ser mais elegante; não preciso de um corpo com linhas impecáveis como uma garota de 20 anos... Não preciso mais ter os cabelos sempre escovados para ter uma aparência melhor no trabalho. Coloco o celular para despertar às 9h, mas ele toca de novo às 9h15, depois às 9h30; só aí, então, começo a me levantar. O pensamento a 10 por hora... Tenho as manhãs livres e isso para mim é um luxo! Durmo e acordo e, entre uma coisa e outra, só faço o que gosto; curto cada atividade que escolhi, cada companhia e vejo em tudo isso uma grande bênção.
Estou certa de que estou vivendo o melhor momento de minha vida. Sem precisar esperar algo acontecer para que eu possa ser feliz, vivo completamente centrada no presente, louvando “o pão nosso de cada dia”. De olhos bem abertos, sinto que sou mais eu agora, mais verdadeira comigo mesma e com os outros, caminho mais leve! Essa liberdade é estonteante, acho que alcancei a plenitude! Gracias!!! Agora é viver!
ELIANA JACOB ALMEIDA, PROFESSORA E COLUNISTA, É AUTORA DOS LIVROS ‘ENQUANTO É TEMPO’ E ‘A FAMÍLIAMOSAICO DE CAIO E LUÍSA’ (FERJAL)