É costumeiro as pessoas dizerem que se arrependem mais em relação ao que deixaram de fazer do que ao que fizeram. Ouvi essa frase diversas vezes na minha vida e expressei a mesma opinião para comigo mesmo.
A etimologia diz que a palavra arrependimento, do Latim re-, intensificativo, mais poenitere, tem o significado de “sentir contrição ou mágoa por uma má ação”. Verbo muito usado nos textos bíblicos, com origem no grego metanoeo, arrepender-se tem a acepção de “mudança de ponto de vista, de pensamento e de propósito”, “mudar a mente para melhor”.
Dessa forma, temos dois fatos ligados ao arrependimento. Primeiro, sentir raiva em relação a algo que se fez “errado”, ou como introduzimos o texto, remorso por não ter agido da maneira que gostaria. Segundo, mudar a maneira de agir, ou, simplesmente agir do modo diferente em uma situação semelhante que ocorra novamente.
O arrepender-se, olhando por esse prisma, está ligado às decisões que tomamos ou deixamos de tomar durante os eventos de nossa existência. Retomando a ideia do primeiro parágrafo, a lamentação posterior está intrinsicamente relacionada à falta de coragem em um determinado momento da vida e à ausência de decisão. E, como dizem os escritores de autoajuda, não tomar nenhuma decisão é, por si só, uma decisão.
Aqueles mesmos autores pregam que seria melhor tomar dez decisões em um dia, mesmo que três sejam erradas, do que tomar nenhuma. Claro que isso pode funcionar se as outras sete decisões tomadas forem sempre acertadas, o que não dá para garantir, já que não temos uma bola de cristal para sabermos se todas as decisões que tomamos trarão resultados positivos.
Um aspecto sobre o erro, ocorra ele nas decisões ou na falta delas, porque se nos arrependemos de algo que não fizemos, consideramos isso um erro, é que ele pode ser fonte de aprendizado. Veja bem, eu disse “pode”. É preciso beber da fonte para que o aprendizado se concretize. E isso nos remete a outro ponto do arrependimento: a mudança de atitude, ou seja, fazer diferente ou não ficar inerte diante de uma determinada situação. Nesse caso o arrependimento permeia três elementos: O intelecto, mudança na maneira de pensar, a emoção, mudança dos sentimentos e de aspectos da personalidade, e a mudança da energia que contribuirá para a vontade de querer mudar.
É certo que, quando o erro, a ausência de atitude ou a falta de decisão aconteceu no passado e o destino não mais nos levou ao encontro dos mesmos lugares ou das mesmas pessoas e a vida nos caminhou em outro sentido e nos deixou com a sensação de haver apenas a possibilidade do arrependimento, nos assombrando com fantasmas do passado, presentes agora e, sem qualquer atitude, por todo futuro, não se vislumbra a chance de mudança.
Nesse caso, restarão apenas lamentações de arrependimento, com as lembranças de um passado que jamais retornará, com pensamentos recorrentes sobre o que poderia ter sido, com nossa mente sussurrando ao nosso ouvido frases iniciados por “e se”, como faísca na palha molhada.
Entretanto, existe a lamentação com decisões. Chorar pelo que passou, como se chora a morte, sepultando no túmulo do passado as emoções vividas. Recompor-se com a energia do presente para que as atitudes a serem tomadas, em situações semelhantes aquelas ocorridas outrora, sejam diferentes, concebendo resultados diferentes, capazes de gerar os efeitos desejados, mudando para melhor, agora e no futuro.
Lamente, repense, refaça, retome e reviva, não as velhas emoções, mas renasça para as novas oportunidades e a nova vida que deseja viver.
Sérgio Piva
s.piva@hotmail.com